quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Chô, mosquito e Dilma!

                     
 

        Na crença talvez que o Povão já esquecera, dona Dilma terá pensado que já seria tempo de voltar às cadeias de radio e tevê, a propósito de supostas emergências.

         Assim, através de meio de que tanto abusara, a presidenta veio pedir união contra vírus e mosquito.

          Querer instrumentalizar a emergência, e voltar às salas de visita do Povo brasileiro, provou-se, no entanto, mais uma precipitação dessa Senhora.

          Não deu outra. Não será através de pronunciamentos presidenciais, como o de ontem, saudado com sonoro panelaço em Copacabana, Flamengo e Laranjeiras, e em Icaraí, em Niterói.

          Igualmente em São Paulo, moradores de diferentes bairros foram às janelas bater panelas. Nesse caso, o protesto aumentou graças a buzinaço, quando os motoristas paravam os carros no meio da rua para protestar.

          Dilma anuncia por rádio e tevê a necessidade de combate ao Aedes Aegypti. Intuindo que a Presidenta desejaria instrumentalizar ação do Estado - por intermédio de militares e agentes sanitários - nesse ataque contra o zika virus e a dengue, boa parcela da população protestou.

          O que se afigura necessário é empenho da população e do Estado, e a conscientização de que a privacidade não poderá ser invocada de forma a inviabilizar ou dificultar  a ação pública contra esse mosquito pernicioso, vetor de tantas epidemias. Por isso, o empenho das autoridades deve estender-se a todas as classes da população, eis que a campanha no ataque aos refúgios do mosquito (pneus velhos amontoados, terrenos baldios, depósito de carros, piscinas abandonadas, displicência e descuido nos quintais, poças de água parada, desleixo em geral) não deve ter qualquer complacência.

           Sob a ameaça da epidemia e dos malefícios do zika não há direito à privacidade - que costuma ser apanágio dos ricos.

           Não pode haver condescendência com os desleixos da miséria e da ignorância, assim como da afrontosa empafia de ricos proprietários que se julgam acima dos deveres da cidadania.

           Já pensaram porque as áreas de favela - no morro ou na planície - são as mais ricas em desgraça e nos cultivos especiais da miséria - a saber, os criadouros de enfermidades sérias como a do zika (cuja crueldade contra os fetos e os recém-nascidos os condena a uma existência em branco, na prática com os anencéfalos)? Porque o descuido, a displicência, o abandono hoje tem prazo curto, abrindo as cancelas de enfermidades antes desconhecidas - como a do zika - e demasiado sabidas, como a dengue?

           Não carecemos de caras presidenciais repontando na tevê - ou nas suas vozes pela  radiofonia - para nos mostrar a caminho da luta sem quartel contra as enfermidades da miséria e da indigência ! Precisamos em verdade - e de volta logo! - das caras conhecidas do soldado e do mata-mosquito, para na sua linguagem simples e direta desenharem em dois ou três riscos o que se deve fazer contra o atroz mosquito, que deve ser extinto da face da terra, porque ele só traz doença e infelicidade!

            Agora, gente brasileira, não adianta lá em Genebra os aventais brancos da Organização Mundial de Saúde proclamarem emergências, se as pessoas não se capacitam de o que fazer do front das batalhas contra zika e dengue! E esse front tende a ser sujo, mal-cuidado, cheio de espaços que são mais amigos da doença do que da gente que ali mora.

            E o único jeito de vencer é o de negar-lhes qualquer espaço no chão, nas vielas, nos quintais de bairros e favelas, em que se deixa tudo crescer !

             Não há pistolões nem favores de parte do nefasto mosquito da zika e da dengue. A única maneira de provar que se é capaz de vencê-lo é a de negar-lhe qualquer espaço, por onde se esteja!   

 

( Fonte:  O  Globo )

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