Na
crença talvez que o Povão já esquecera,
dona Dilma terá pensado que já seria tempo de voltar às cadeias de radio e
tevê, a propósito de supostas emergências.
Assim, através de meio de que tanto
abusara, a presidenta veio pedir
união contra vírus e mosquito.
Querer instrumentalizar a emergência, e voltar
às salas de visita do Povo brasileiro, provou-se, no entanto, mais uma
precipitação dessa Senhora.
Não deu outra. Não será através de
pronunciamentos presidenciais, como o de ontem, saudado com sonoro panelaço em
Copacabana, Flamengo e Laranjeiras, e em Icaraí, em Niterói.
Igualmente em São Paulo, moradores de
diferentes bairros foram às janelas bater panelas. Nesse caso, o protesto
aumentou graças a buzinaço, quando os motoristas paravam os carros no meio da
rua para protestar.
Dilma anuncia por rádio e tevê a
necessidade de combate ao Aedes Aegypti. Intuindo que a Presidenta
desejaria instrumentalizar ação do Estado - por intermédio de militares e
agentes sanitários - nesse ataque contra o zika
virus e a dengue, boa parcela da população protestou.
O que se afigura necessário é empenho
da população e do Estado, e a conscientização de que a privacidade não poderá
ser invocada de forma a inviabilizar ou dificultar a ação pública contra esse mosquito
pernicioso, vetor de tantas epidemias. Por isso, o empenho das autoridades deve
estender-se a todas as classes da população, eis que a campanha no ataque aos
refúgios do mosquito (pneus velhos amontoados, terrenos baldios, depósito de
carros, piscinas abandonadas, displicência e descuido nos quintais, poças de
água parada, desleixo em geral) não deve ter qualquer complacência.
Sob a ameaça da epidemia e dos
malefícios do zika não há direito à
privacidade - que costuma ser apanágio dos ricos.
Não pode haver condescendência com
os desleixos da miséria e da ignorância, assim como da afrontosa empafia de
ricos proprietários que se julgam acima dos deveres da cidadania.
Já pensaram porque as áreas de
favela - no morro ou na planície - são as mais ricas em desgraça e nos cultivos
especiais da miséria - a saber, os criadouros de enfermidades sérias como a do
zika (cuja crueldade contra os fetos e os recém-nascidos os condena a uma
existência em branco, na prática com os anencéfalos)? Porque o descuido, a
displicência, o abandono hoje tem prazo curto, abrindo as cancelas de
enfermidades antes desconhecidas - como a do zika - e demasiado sabidas, como a
dengue?
Não carecemos de caras presidenciais
repontando na tevê - ou nas suas vozes pela
radiofonia - para nos mostrar a caminho da luta sem quartel contra as
enfermidades da miséria e da indigência ! Precisamos em verdade - e de volta
logo! - das caras conhecidas do soldado e do mata-mosquito, para na sua
linguagem simples e direta desenharem em dois ou três riscos o que se deve
fazer contra o atroz mosquito, que deve ser extinto da face da terra, porque
ele só traz doença e infelicidade!
Agora, gente brasileira, não
adianta lá em Genebra os aventais brancos da Organização Mundial de Saúde
proclamarem emergências, se as pessoas não se capacitam de o que fazer do front das batalhas contra zika e dengue!
E esse front tende a ser sujo,
mal-cuidado, cheio de espaços que são mais amigos da doença do que da gente que
ali mora.
E o único jeito de vencer é o de
negar-lhes qualquer espaço no chão, nas vielas, nos quintais de bairros e
favelas, em que se deixa tudo crescer !
Não há pistolões nem favores de
parte do nefasto mosquito da zika e da dengue. A única maneira de provar que se
é capaz de vencê-lo é a de negar-lhe qualquer espaço, por onde se esteja!
( Fonte: O Globo )
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