Relembro, uma vez mais, a símile de Magalhães Pinto.
Segundo dizia o prócer mineiro, política e nuvem se parecem muito. Nada mais
movediço do que as nuvens. Olha-se e lá está um quadro ou uma figura. Pouco
depois, se se contempla o céu, a coisa já está diferente. E a política é o
mesmo: mutável e imprevisível.
O marido de Hillary, o ex-presidente
Bill Clinton não poupa esforços em ajudar sua esposa. Já mencionei no blog a
carranca de Bill quando a esposa se aprestava a pronunciar o discurso em que
renunciava à sua pré-candidata em 2008 à presidência dos Estados Unidos.
Embora político calejado - desafiara
o primeiro Bush e o tornara presidente de um único mandato - Bill Clinton se
recusava a ler o que estava escrito na parede sobre a vantagem de Barack Obama,
e a condição irremediável de sua principal adversária, que após série de
primárias tinha defronte o fim da própria candidatura. Era visível a irritação
do ex-presidente com o discurso de renúncia pela sua mulher à candidatura.
Não fora decisão apressada. A leitura do quadro e a
proximidade da convenção não deixavam dúvidas na pré-candidata que a sua
tentativa havia chegado ao que todo político teme: a fria, cruel verificação de
que o desgastante combate nas primárias mostrava que ela chegara ao fim da
linha.
Era o que estava escrito, e por isso a
pré-candidata Hillary se decidira a renunciar à respectiva candidatura. Tinha
sido resolução dura porém aprofundada na meditação. Bill se indispunha com
isso, e privilegiava a paixão sobre a fria análise da situação.
Transcorridos oito anos, a campanha
pelas primárias mal começa e a candidatura de Hillary já topa com uma
encruzilhada. O embate em Iowa foi mais do que inconclusivo. O senador Bernie
Sanders, ao ceder a vitória por fração ínfima, retirou à vantagem de Hillary no
photo-chart qualquer outro significado do que o da
obtenção de um empate virtual.
Nesse contexto, quando essa escala
inicial na caminhada para a convenção e a nomination[1],
uma vitória pode conceder à pré-candidata a dinâmica necessária para reforçar a
própria pré-candidatura.
O ex-presidente Bill Clinton não
hesitou em fazer um ataque pessoal ao Senador Sanders. Ele é feito às vésperas
da terça-feira, nove de fevereiro, que é a data das primárias em New Hampshire.
Embora a mídia não dê precisões sobre os percentuais, indica-se a perspectiva
de uma vitória de Sanders.
A imprensa observa que poucas centenas de partidários da
candidata estavam presentes no
ginásio. Bill Clinton chamou de
'hipócrita' o opositor da esposa pela nomination, desonesto e fechado
hermeticamente.
Clinton censurou Mr Sanders e seus
partidários por ataques imprecisos e sexistas contra Hillary. A par disso,
descreveu o Senador como hipócrita, 'fechado hermeticamente' e desonesto. Nesse
contexto, Clinton lembrou o acesso obtido por auxiliares de Sanders aos dados
dos votantes na campanha de Hillary. Para o ex-presidente, tal equivalia a
roubar um carro com as chaves dentro.
Os acalorados ataques de Bill
Clinton refletem a exasperação do casal Clinton com a situação em New
Hampshire. Com efeito, depois de conceder-lhes apoios determinantes no passado,
New Hampshire parece inclinado a dar ao Senador Bernie Sanders importante vitória. Na realidade, New
Hampshire dera em 1992 relevante ajuda a Bill Clinton na sua candidatura contra
o 41° Presidente George Herbert Walker Bush, assim como na força dada à Hillary
contra o Senador Obama, logo após a inesperada derrota da Senadora em Iowa,
contra o novato Obama.
As principais censuras do ex-presidente
se dirigem contra os partidários de Sanders que, segundo afirma, usam linguagem misógina quando atacam Hillary. Nesse contexto, Clinton relatou a situação de
uma blogger progressista que preferiu defender Hillary on-line utilizando um
pseudônimo, ao temer as reações dos partidários de Sanders. Nesse contexto,
Clinton mencionou igualmente a jornalista Joan
Walsh, de tendência liberal, que sofreu
'incríveis ataques pessoais' por defender Hillary.
O New York Times não perdeu a
oportunidade de sublinhar que a apresentação de Mr Clinton, sem a companhia de
admiradores e das multidões que em geral cercam o ex-presidente, era tocante e algo pungente. O pequeno ginásio da junior
high school não estava cheio e só um punhado de repórteres apareceram, num
momento em que os eventos de campanha estão inundados por dúzias de jornalistas
nacionais e internacionais.
Assinale-se, por oportuno, que
as relações do New York Times com o casal Clinton poderiam ser melhores. Se o
grande jornal de New York acaba de endossar a candidatura de Hillary (como o blog informou), por sua vez a
candidatura de Bill Clinton (em princípios dos anos noventa) merecera reportagem investigativa do New York
Times sobre Whitewater, que, apesar das peripécias, e de mais tarde envolver
dois promotores especiais (Robert Fisk e sobretudo o implacável Ken Starr) nada
lograria contra o casal Bill e Hillary
Clinton.
Alfinetadas jornalísticas à
parte, nesta próxima terça, veremos se o fenômeno do socialista Bernie Sanders
continuará surpreendendo. Como já foi dito, enquanto estado New Hampshire é
diminuto, e por conseguinte a primária aí carece de ser redimensionada. Sem
embargo, se Bernie Sanders vencer de forma determinante, a candidatura de
Hillary Clinton terá encontrado um adversário respeitável. Definir isso como
uma reedição de 2008 seria outra estória, que no final de contas semelha um
tanto prematuro pronunciar-lhe o respectivo destino.
( Fontes: The New York Times; The New York Review )
[1] Nomination é a outorga
a(o) candidato(a) da candidatura oficial do Partido (no caso o Democrata) para
disputar com o rival republicano a eleição para a Presidência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário