segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

O ataque de Bill Clinton


                                   

         Relembro, uma vez mais, a símile de Magalhães Pinto. Segundo dizia o prócer mineiro, política e nuvem se parecem muito. Nada mais movediço do que as nuvens. Olha-se e lá está um quadro ou uma figura. Pouco depois, se se contempla o céu, a coisa já está diferente. E a política é o mesmo: mutável e imprevisível.

         O marido de Hillary, o ex-presidente Bill Clinton não poupa esforços em ajudar sua esposa. Já mencionei no blog a carranca de Bill quando a esposa se aprestava a pronunciar o discurso em que renunciava à sua pré-candidata em 2008 à presidência dos Estados Unidos.

          Embora político calejado - desafiara o primeiro Bush e o tornara presidente de um único mandato - Bill Clinton se recusava a ler o que estava escrito na parede sobre a vantagem de Barack Obama, e a condição irremediável de sua principal adversária, que após série de primárias tinha defronte o fim da própria candidatura. Era visível a irritação do ex-presidente com o discurso de renúncia pela sua mulher à candidatura.

         Não fora decisão  apressada. A leitura do quadro e a proximidade da convenção não deixavam dúvidas na pré-candidata que a sua tentativa havia chegado ao que todo político teme: a fria, cruel verificação de que o desgastante combate nas primárias mostrava que ela chegara ao fim da linha.

         Era o que estava escrito, e por isso a pré-candidata Hillary se decidira a renunciar à respectiva candidatura. Tinha sido resolução dura porém aprofundada na meditação. Bill se indispunha com isso, e privilegiava a paixão sobre a fria análise da situação.

         Transcorridos oito anos, a campanha pelas primárias mal começa e a candidatura de Hillary já topa com uma encruzilhada. O embate em Iowa foi mais do que inconclusivo. O senador Bernie Sanders, ao ceder a vitória por fração ínfima, retirou à vantagem de Hillary no photo-chart   qualquer outro significado do que o da obtenção de um empate virtual.

         Nesse contexto, quando essa escala inicial na caminhada para a convenção e a nomination[1], uma vitória pode conceder à pré-candidata a dinâmica necessária para reforçar a própria pré-candidatura.

          O ex-presidente Bill Clinton não hesitou em fazer um ataque pessoal ao Senador Sanders. Ele é feito às vésperas da terça-feira, nove de fevereiro, que é a data das primárias em New Hampshire. Embora a mídia não dê precisões sobre os percentuais, indica-se a perspectiva de uma vitória de Sanders.

          A imprensa observa que poucas centenas de partidários da candidata estavam  presentes no ginásio.  Bill Clinton chamou de 'hipócrita' o opositor da esposa pela nomination, desonesto e fechado hermeticamente.

          Clinton censurou Mr Sanders e seus partidários por ataques imprecisos e sexistas contra Hillary. A par disso, descreveu o Senador como hipócrita, 'fechado hermeticamente' e desonesto. Nesse contexto, Clinton lembrou o acesso obtido por auxiliares de Sanders aos dados dos votantes na campanha de Hillary. Para o ex-presidente, tal equivalia a roubar um carro com as chaves dentro.

           Os acalorados ataques de Bill Clinton refletem a exasperação do casal Clinton com a situação em New Hampshire. Com efeito, depois de conceder-lhes apoios determinantes no passado, New Hampshire parece inclinado a dar ao Senador Bernie Sanders  importante vitória. Na realidade, New Hampshire dera em 1992 relevante ajuda a Bill Clinton na sua candidatura contra o 41° Presidente George Herbert Walker Bush, assim como na força dada à Hillary contra o Senador Obama, logo após a inesperada derrota da Senadora em Iowa, contra o novato Obama.

            As principais censuras do ex-presidente se dirigem contra os partidários de Sanders que, segundo afirma, usam  linguagem misógina quando  atacam Hillary.  Nesse contexto, Clinton relatou a situação de uma blogger progressista que preferiu defender Hillary on-line utilizando um pseudônimo, ao temer as reações dos partidários de Sanders. Nesse contexto, Clinton mencionou igualmente a jornalista Joan Walsh, de  tendência liberal, que sofreu 'incríveis ataques pessoais' por defender Hillary.

              O New York Times não perdeu a oportunidade de sublinhar que a apresentação de Mr Clinton, sem a companhia de admiradores e das multidões que em geral cercam o ex-presidente, era tocante e algo pungente. O pequeno ginásio da junior high school não estava cheio e só um punhado de repórteres apareceram, num momento em que os eventos de campanha estão inundados por dúzias de jornalistas nacionais e internacionais.

               Assinale-se, por oportuno, que as relações do New York Times com o casal Clinton poderiam ser melhores. Se o grande jornal de New York acaba de endossar a candidatura de Hillary (como o blog informou), por sua vez a candidatura de Bill Clinton (em princípios dos anos noventa)  merecera reportagem investigativa do New York Times sobre Whitewater, que, apesar das peripécias, e de mais tarde envolver dois promotores especiais (Robert Fisk e sobretudo o implacável Ken Starr) nada lograria  contra o casal Bill e Hillary Clinton.

                 Alfinetadas jornalísticas à parte, nesta próxima terça, veremos se o fenômeno do socialista Bernie Sanders continuará surpreendendo. Como já foi dito, enquanto estado New Hampshire é diminuto, e por conseguinte a primária aí carece de ser redimensionada. Sem embargo, se Bernie Sanders vencer de forma determinante, a candidatura de Hillary Clinton terá encontrado um adversário respeitável. Definir isso como uma reedição de 2008 seria outra estória, que no final de contas semelha um tanto prematuro pronunciar-lhe o respectivo destino.

 

( Fontes:  The New York Times; The New York Review )

                                 



[1] Nomination é a outorga a(o) candidato(a) da candidatura oficial do Partido (no caso o Democrata) para disputar com o rival republicano a eleição para a Presidência.

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