Ocupei-me no blog
de ontem, motivado por especial menção de Paul Krugman ao papel negativo no
quadro do Brasil, dentro de suposta repetição do cenário que precedera à crise
anterior, acionada pela falência do Banco Lehman Brothers em 2008.
O segundo mandato de Dilma Rousseff -
que se segue ao desastroso primeiro - pode continuar pesando na economia
brasileira, dada a lentidão que se
observa nos supostos mecanismos corretivos - um dos quais é o impeachment e o segundo é a anulação do
pleito por processo que corre no TSE.
Quanto ao impeachment, a situação se vê complicada pela posição do Presidente
da Câmara, Eduardo Cunha, que tem interminável processo de cassação de mandato tramitando
na Câmara, assim como por ação do Ministério Público.
Por outro lado, a intromissão do
Supremo, pela polêmica moção do Ministro Luís Roberto Barroso, provocou conhecidas
reações quanto à legalidade da decisão, notadamente no que concerne à
constituição da comissão especial da Câmara (voto secreto ou voto aberto) e
também no que tange às candidaturas avulsas. Há óbvio mal-estar na mão pesada
da intervenção do Supremo, que foi mal recebida por grandes nomes do STF, como
o ex-presidente Carlos Velloso. Há sensação de que não se respeitou o artigo 2°
da Constituição, quanto à independência e harmonia entre os Poderes da União
(no caso, Legislativo e Judiciário).
Se há dúvidas quanto ao modus faciendi da correção da crise,
acumula-se a realização no que concerne ao caráter calamitoso da indicação
por Lula da Silva de Dilma
Rousseff como sua sucessora. Infelizmente - e é preciso repetir tal
consideração - os pleitos não são votados, na prática, pelo eleitorado com base
nos valores respectivos dos candidatos.
Sofre o eleitor um condicionamento que é típico do Nordeste brasileiro. Prepondera, dessarte,
a vontade do magno-coronelão, no caso Lula da Silva. A despeito do candidato da
oposição ser incomparavelmente mais preparado, ele adotou, na realidade,
postura quase submissa, ao haver concordado tanto com a dissidência virtual do
chefe político do PSDB em Minas Gerais, Aécio Neves, que se negara a integrar a
chapa, quanto criou condições para que José Serra tivesse um candidato a vice
que não estava à altura do cometimento. Há outros aspectos que dizem respeito a
um eventual processo de cristianização[1] de
Serra em Minas, o que, embora mais difícil de provar, estava no ar. Até em
política, no entanto, o castigo pode vir, ainda que tardio. Quatro anos depois,
apesar de sua pretensa enorme popularidade em Minas, como ex-governador, Aécio Neves seria ali derrotado pela
'mineira' Dilma Rousseff, o que despertou certa espécie. De qualquer forma,
como o apoio de Aécio a Serra fora ,em 2010, abaixo da crítica - o que gerou
tensão entre os dois expoentes do PSDB - a magra colheita de Serra há de ter
repercutido em 2014, com favorecimento
de Dilma, que ganhou na votação geral com 3,5% apenas de diferença. Não há
negar que os votos de Minas fizeram muita falta a Aécio...
Por isso, se a influência do
magno-coronel Lula da Silva teve indubitável relevância em 2010, o seu peso
careceria, no entanto, de ser relativizado de alguma maneira, eis que tanto na
composição da chapa da oposição, quanto na própria campanha, a oposição pecou
tanto por ineptitude, quanto por falta de postura mais agressiva. A propaganda
de Serra, por exemplo, chegou a tentar uma patética aproximação com Lula da
Silva, indo ao ponto de apresentar Serra como virtual seguidor do fundador do
PT...
A par disso, como foi já referido, Lula
da Silva se pautou por uma falsa premissa - a de que poderia voltar ao Planalto
quatro anos depois, como se existisse no Brasil um maximato mexicano[2].
Todos sabemos como terminou essa doce ilusão, o que uma vez mais reafirma a
força do poder institucional, que logrou até atropelar as então veleidades de
Lula, que foi nesse período em torno da segunda eleição de Dilma um personagem
beirando o patético.
No entanto, forçoso se afigura
reconhecer que, mesmo para Dilma, poderia ter sido melhor que o plano 'B' de
Lula houvesse funcionado... De toda maneira, o segundo mandato já começaria
muito mal, eis que as mentiras da campanha eleitoral se tornaram patentes, e a
revolta da população, com a consequente reviravolta, produziu de repente um dos
presidentes de maior impopularidade da história brasileira. Não demorou muito
que a aprovação de Dilma ruísse a apenas um solitário dígito...
Não há nada que mais revolte o povo que
descobrir-se enganado, desmoralizado mesmo, com uma série de sanhudas mentiras
que não poderiam deixar de lançar à terra a aceitação da Presidenta, de chofre
mandada para o infermo astral dos fementidos e dos mentirosos.
Raiva igual só houve contra José
Sarney, por causa do conto do vigário do Plano Cruzado, e não há retrato mais
desmoralizante do que o quadro do Presidente tornado na prática refém da raiva
brasileiro em um ônibus sitiado por populares no Rio de Janeiro...
Depois disso e do fracasso do
reforço in extremis do Ministro
Joaquim Levy (que a própria Dilma cuidaria de inviabilizar por uma séria de
medidas e atitudes estultas), o segundo governo Rousseff agoniza em praça
pública, com um impeachment que a
situação do Presidente Eduardo Cunha complica de certa forma.
De resto, como já foi dito, a
emenda 'Barroso' apareceu como 'um
ponto fora da curva' e tudo dependerá da situação política para saber se o impeachment vai prosperar ou não, e se a
'solução' alternativa do TSE
porventura vingar, o Brasil terá - ou não - um novo governo.
A impressão geral seria que a
permanência de uma esvaziada Dilma Rousseff no Alvorada constituiriam mais três
anos perdidos para o Brasil, eis que tanto a Presidenta, quanto o seu Partido
(que agora se especializou em propaganda subliminal, em que as letras PT, com a
sua marca de vergonha, não mais se vêem) parecem aquelas projeções holográficas
(como a do filme do Superhomem em que o seu pai morto lhe mandava a imagem
projetada e falante).
O Brasil já passou por um processo
de impeachment, mas que foi assaz
diverso do atual. Se ambas as figuras estão desmoralizadas, no caso de F.
Collor ele não dispunha de grande partido, o que decerto facilitou as coisas,
quando, outrossim, havia a figura de um Vice respeitado no mundo político.
Mutatis mutandis, será acaso válido o exemplo de Michel Temer? Embora nada haja contra o
prócer do PMDB, tampouco as figuras
de Vice são comparáveis em peso político.
Se Lula foi egoísta ao extremo na indicação
de sua Chefa de Gabinete como sucessora, agindo como se a presidência de um
país como o Brasil se coadunasse com a própria atitude egotista. Sem embargo,
como não terá refletido muito sobre as implicâncias mais amplas do tema, sequer
lhe terá passado pela cabeça o que de fato ocorreu. Apesar de economista, a
verdade é que também nesse aspecto a mediocridade é sua característica. Assim,
os estragos que a Rousseff aprontou sequer lhe terão passado pela cabeça.
Mas Dilma tem outra característica
potencialmente perigosa. Ela tem ideias próprias, não gosta de delegar, e tem
uma queda para cercar-se de gente medíocre. Junte-se personalidade forte, uma
educação social deficiente, e uma tendência a desejar posições preponderantes em relação ao seu círculo.
Esta é uma fórmula homicida se
ela deseja afastar os melhores, seja em termos de inteligência e cultura, seja
em termos de caráter. A sua disposição belicosa e que não recua diante das
humilhações infligidas àqueles que não tem condição ou de responder-lhe, ou de
colocá-la no próprio lugar, só sofre reveses quando é surpreendida por gente -
que ela pense deva ser dócil e humilde -
e que, para sua surpresa, reverta o quadro, pela coragem e a força da
personalidade. É conhecido o seu incidente com a cabideira no Palácio do
Alvorada. A empregada podia ter função de baixíssima hierarquia, mas tinha
brios. Isso surpreendeu a Presidenta e a
chamada guerra dos cabides acabaria com paz negociada, em que a subalterna saíu
com diversas vantagens, uma vez verificado o estrago que seria para o
personagem de Dilma Rousseff que fosse conhecida a maneira com que ela transita
nos domínios heris.
Por último, a ruína provocada na
economia pelos governos de Dilma Rousseff. Detonou o Plano Real, cuja reconstrução demandará muita paciência
e, uma vez quebrada a confiança, maior será a travessia e os perigos de lhe
reconstituir algo próximo da antiga solidez. Somente sólida ignorância pode
justificar a sua leviandade em afrouxar os controles da inflação, cercando-se
de gente fraca no Banco Central, que timbravam em fazer aquilo que ela queria,
sabendo embora quão nocivo seria para o Real. Se o suposto dique contra a
inflação não funcionou, não há de surpreender que já estejamos nos onze por
cento ao mês, com toda a infernal tralha dos indicadores automáticos
funcionando, para a orgia na hiper-apreciação dos serviços.
Dilma deve ter algo de muito
entranhado contra a diplomacia brasileira. Além de colocar non-entities[3] na cadeira ministerial, humilhou por
mais de uma vez o Itamaraty, prestigiando funcionários de partido, sem qualquer
cultura diplomática, e que só podem trazer para o que foi a Casa de Rio Branco
uma visão sindicalista, às vezes ainda tingida por ultrapassado
marxismo-leninismo. Como Lula, que pensara beneficiar o ex-bispo Lugo, dando ao
Paraguai vantagens muito acima dos montantes devidos, antes acertados em longas
negociações diplomáticas, Dilma agiu de forma truculenta mandando suspender o
Paraguai (por que este se recusava, com boas razões, a admitir como membro a
Venezuela).
A Presidenta deve ter algum
secreto rancor contra a Casa de Rio Branco. Talvez lhe desagrade a secular
competência de que antes de sua vinda deu amplas mostras, a ponto de mandar que
o Brasil não se opusesse à conquista da Crimeia pela Federação Russa. Com esta
instrução, Dilma desrespeitou cláusula constitucional, que proíbe a guerra de
conquista (como foi o que ocorreu com a invasão da província da Ucrânia e sua
posterior anexação por Moscou).
Talvez a pior governante
republicana do Brasil, Dilma Rousseff, além de trazer a inflação de volta,
causou com a sua desastrosa política econômica das desonerações tributárias
criou dívidas em nossas contas que não serão pagos em décadas (a conta chega a
R$ 135 bilhões entre 2011 e 2015). Mas os filhotes da desoneração fiscal não
foram ainda estancados: para 2016, a estimativa da Receita Federal é de mais R$
32,2 bilhões. Por outro lado, ela que se quer a grande amiga dos trabalhadores,
causou enorme recessão e um grande número de desempregados, como se verifica no
presente.
É esta talvez a imagem mais
dura da crise econômica, e também mais cruel, ao quantificar a incompetência de
gestão que, malgrado os altissonantes projetos, atinge em cheio os
trabalhadores. São 8 milhões e oitocentos mil que estão de braços cruzados, e
não por vontade própria. Chega, portanto,
a mais de dez por cento a nossa taxa miséria, aqueles que estão desempregados,
não porque o desejem, mas pela incompetência do governo de Dilma Rousseff.
E é por isso que este
modesto blogger resolveu dar a essa questão atenção um tanto maior, tentando
aprofundar e fazer entender o que pode significar uma decisão errada na
indicação de pessoa despreparada para exercer a função de Presidente da
República Federativa do Brasil. E é também por isso que aquela frasezinha de
Paul Krugman "economias emergentes anteriormente na moda como o Brasil, de repente se estão dando muito mal" me
mostrou o que o Brasil tinha pensado conseguir, e tudo aquilo que perdeu, pela
conjunção de fatores acima descrita.
(Fontes: The New York Times, O Globo, Folha de S.
Paulo; Getúlio (1945-1954) Lira Neto, Companhia das Letras; coluna de Míriam Leitão)
[1] Cristianizar um candidato foi termo criado por contra do
procedimento eleitoral do PSD com relação ao seu candidato a Presidente em
Minas, no pleito de 1950, Cristiano Machado. Os caciques desse partido mandaram
despejar os votos, que seriam de Cristiano, em Getúlio Vargas.
[2] É sempre o modelo de
Plutarco Elias Calles que instaurou no México do fim dos anos vinte e começo
dos trinta, o chamado Maximato. Na prática, ele permanecia no poder, enquanto
se elegiam os presidentes 'peleles' (fantoches). Lazaro Cardenas, o grande
presidente mexicano, acabaria com o ciclo, quando colocou o líder máximo
Plutarco em avião com destino aos Estados Unidos...
[3] Nulidades.
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