Existe a crença na população de que a dengue
representa incômodo, mas não é um perigo maior. Doce ilusão. Depois que a
dengue foi eliminada no Brasil, nos anos de JK, ela não demoraria muito a
voltar, e pelo Norte (Venezuela).
A indiferença avançando para a
displicência, o descuido com a higiene, o prometido e nunca realizado
saneamento básico, tudo isso e a arraigada convicção de que dengue podia ser
incômoda e mesmo perigosa (sobretudo a hemorrágica), mas que, em fim de contas, não passaria de uma afecção que não constituiria
perigo de vida.
Doce ilusão. Dengue não é uma gripe forte
que pode matar um idoso ou alguém extremamente debilitado.
Para que se tenha noção de sua
periculosidade, embora o grande temor por enquanto para a população seja o
zika, em especial, com a brutal crueldade de inutilizar uma criança já no
ventre da mãe.A grande ameaça, ainda silente em meio à população, constitui a
dengue.
A macabra trajetória dessa última afasta
qualquer ilusão sobre a suposta benignidade da dengue. Partindo de oito mortes em 1990 - a macabra
abertura desse mal tropical, no país em que, sob JK, fora considerada extinta - pulando para 69 em 2005 e passando para a macabra orgia (e sem
embargo não repercutindo com a devida ênfase na população) de 656 (2010) e daí resvalando para 482 (2011) e 327 (2012), mas ressurgindo para 674 (2013), recuando um pouco para 475 (2014), até os acordes de um inédito 854, em
2015!
Na prática, a dengue
continua a ser tratada com um mal tropical de importância menor (se computarmos
a esmagadora indiferença oficial) que a considera quase como uma gripe forte,
que só leva embora os fracos, os já enfermos e os que não se cuidam.
Em qualquer outro país, esses totais de
incidência da dengue - assim como de real conhecimento sobre a sua séria
periculosidade - seriam levados com mais seriedade e empenho.
Por quanto tempo o Brasil continuará com
o país do jeitinho, daquele que considera essas doenças como problemas de gente pobre, de gente que
vive em favela ou em pardieiros, de gente que vive no interior relegado ? É por
isso que a real periculosidade da dengue é majestaticamente subestimada.
O zica - também transmitido pelo mesmo
vetor, o mosquito Aedes Aegypti - tem
recebido, por conta de sua macabra novidade, atenção maior. Sendo, no entanto,
os fatores de referência relativos - muito relativos, a dizer verdade - o
perigo de morte encarnado pela dengue é quase varrido para baixo do tapete, por
ser a epidemia banalizada pela sua contínua incidência. Como a dengue ataca faz
tempo, a própria mortalidade de certa maneira é varrida para baixo desse imenso
tapete que caracteriza a indiferença das elites no Brasil.
Há ritual para tudo, e nisso está
obviamente incluído 'seu' èÜíáôï (a morte é tão comum em Pindorama, que se tem de
banalizá-la com se fosse um conhecido qualquer, que se trata com o habitual
"seu". O fato, no entanto, de considerá-la quase da família
não lhe tira, infelizmente, a sua cruel letalidade).
Graças a um amigo médico, que respeito
e aprecio, fui há pouco informado de que a dengue é muito mais perigosa do que
o zika.
Ontem, se não me engano, dona Dilma
participou de mais um evento supostamente de vulgarização oficial da
necessidade da conscientização do perigo de dengue e zika.
O problema no Brasil não está nas ditas
campanhas oficiais. Está na sua falta de seriedade ou de efetivo empenho. Tudo é feito para inglês ou presidente ver. Não se vá pensar que tanto um como outro estejam realmente empenhados
em transformar o perigo e a respectiva prática preventiva em coisa séria, para
valer...
Aliás, qual o real significado de tais campanhas
oficiais?
Existe
alguma que seja efetivamente p'ra valer?
( Fontes:Ministério da Saúde, O Globo )
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