segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Incômodas Verdades


                   

      Existe a crença na população de que a dengue representa incômodo, mas não é um perigo maior. Doce ilusão. Depois que a dengue foi eliminada no Brasil, nos anos de JK, ela não demoraria muito a voltar, e pelo Norte (Venezuela).

      A indiferença avançando para a displicência, o descuido com a higiene, o prometido e nunca realizado saneamento básico, tudo isso e a arraigada convicção de que dengue podia ser incômoda e mesmo perigosa (sobretudo a hemorrágica), mas que, em fim de contas,  não passaria de uma afecção que não constituiria perigo de vida.

     Doce ilusão. Dengue não é uma gripe forte que pode matar um idoso ou alguém extremamente debilitado.

    Para que se tenha noção de sua periculosidade, embora o grande temor por enquanto para a população seja o zika, em especial, com a brutal crueldade de inutilizar uma criança já no ventre da mãe.A grande ameaça, ainda silente em meio à população, constitui a dengue.

    A macabra trajetória dessa última afasta qualquer ilusão sobre a suposta benignidade da dengue. Partindo de oito mortes em 1990 - a macabra abertura desse mal tropical, no país em que, sob JK,  fora considerada extinta - pulando para 69 em  2005 e passando para a macabra orgia (e sem embargo não repercutindo com a devida ênfase na população) de 656 (2010) e daí resvalando para 482 (2011) e 327 (2012), mas ressurgindo para 674 (2013), recuando um pouco para 475 (2014), até os acordes de um inédito 854,  em 2015!

      Na prática, a dengue continua a ser tratada com um mal tropical de importância menor (se computarmos a esmagadora indiferença oficial) que a considera quase como uma gripe forte, que só leva embora os fracos, os já enfermos e os que não se cuidam.

      Em qualquer outro país, esses totais de incidência da dengue - assim como de real conhecimento sobre a sua séria periculosidade - seriam levados com mais seriedade e empenho.

      Por quanto tempo o Brasil continuará com o país do jeitinho, daquele que considera essas doenças  como problemas de gente pobre, de gente que vive em favela ou em pardieiros, de gente que vive no interior relegado ? É por isso que a real periculosidade da dengue é majestaticamente subestimada.

       O zica - também transmitido pelo mesmo vetor, o mosquito   Aedes Aegypti - tem recebido, por conta de sua macabra novidade, atenção maior. Sendo, no entanto, os fatores de referência relativos - muito relativos, a dizer verdade - o perigo de morte encarnado pela dengue é quase varrido para baixo do tapete, por ser a epidemia banalizada pela sua contínua incidência. Como a dengue ataca faz tempo, a própria mortalidade de certa maneira é varrida para baixo desse imenso tapete que caracteriza a indiferença das elites no Brasil.

       Há ritual para tudo, e nisso está obviamente incluído 'seu' èÜíáôï (a morte  é tão comum em Pindorama, que se tem de banalizá-la com se fosse um conhecido qualquer, que se trata com o habitual "seu". O fato, no entanto, de considerá-la quase da família não lhe tira, infelizmente, a sua cruel letalidade).

        Graças a um amigo médico, que respeito e aprecio, fui há pouco informado de que a dengue é muito mais perigosa do que o zika.

        Ontem, se não me engano, dona Dilma participou de mais um evento supostamente de vulgarização oficial da necessidade da conscientização do perigo de dengue e zika.

         O problema no Brasil não está nas ditas campanhas oficiais. Está na sua falta de seriedade ou de efetivo empenho. Tudo é feito para inglês ou presidente ver. Não se vá pensar que tanto um como outro estejam realmente empenhados em transformar o perigo e a respectiva prática preventiva em coisa séria, para valer...

         Aliás, qual o real significado de tais campanhas oficiais?

         Existe alguma que seja efetivamente p'ra valer?

 

( Fontes:Ministério da Saúde, O Globo )H Hh

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