Em tempos de crise, o desencontro é a
regra. À confusão e ao burburinho, se sucedem diversos acenos, e muitos
movimentos, alguns para valer, outros não.
É difícil prognosticar quem vai vencer.
Muita vez a observação atenta, minuciosa pode trazer poucas luzes.
Para ganhar, é preciso ter razão? Se, para
não perder, se carece ter confiança, o que é necessário para vencer?
Nos dias que correm, é mister ter amigos,
muitos amigos. Se eles não garantem o triunfo, a sua presença pode assegurar
mais tempo, tempo para pensar, tempo para reorganizar-se, tempo para, enfim,
atacar.
Mas se o cenário se alarga, e aos olhares
em torno, vês a gente inimiga crescer, e os companheiros minguarem.
Se a luta vai mudando, e não para melhor,
Se o gesto do povo a tua volta se vai
ensombrecendo, e aos sorrisos de antes, só entrevês esgares ou - o que é talvez
pior - a pétrea expressão da raiva a um tempo profunda e escarninha,
Joga fora qualquer ilusão a que porventura
ainda te apegues,
Esquece o passado por que ele não mais te
pertence
Entrega-te às forças do presente
e
repudia sem sequer uma lágrima nos olhos o futuro, porque ele também não mais
te pertence.
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