sábado, 27 de fevereiro de 2016

Barrar Trump a qualquer preço!


                           
     À medida que se aproximam as primárias de princípios de março, os principais líderes do GOP intensificam os seus contatos e reuniões, na tentativa de deter o front-runner[1] Donald Trump a qualquer preço.

       A dezenove de fevereiro, em reunião de governadores republicanos em Washington, o conhecido consultor conservador Karl Rove os advertiu que, se a dinâmica de Trump não fosse quebrada, e ele  colhesse a nomination na Convenção, ela seria catastrófica para o partido nas eleições gerais de novembro.

       Sem embargo, ainda segundo Rove, não era tarde demais, para que os governadores lograssem barrar o avanço de Trump.

       No dia seguinte, LePage do Maine, em outra reunião de governadores, fez  apelo pela união contra Donald Trump.  Frustrado, disse que a nomination de Trump iria ferir profundamente o GOP. Nesse sentido, LePage fez outro apelo aos demais governadores  para que, em carta aberta ao Povo americano, descredenciassem Mr Trump e as suas políticas divisórias.

         Não obstante a retórica e a veemência dos apelos, eles não foram ouvidos. E o que aconteceu com o candidato Trump?  Não é que ficou mais forte ainda? Venceu em dois estados e, ainda por cima,  ganhou o apoio de Chris Christie, governador de New Jersey.

          Posto que Christie tenha tido no passado muito mais cacife - contribuíu para enfraquecê-lo um escândalo acerca das rodovias em New Jersey, em que chegou a fechar uma delas por motivos políticos - ele ainda é um expoente no Partido Republicano, e o seu apoio não irá enfraquecer o candidato Donald Trump...

          Outrossim, conforme refere o New York Times, uma onda de nervosismo ataca os big-shots (chefões) do GOP. Tudo se deve ao temor que a candidatura Trump, uma vez arrebatada a nomination, seria presa fácil para o candidato democrata. Esse temor tem gerado verdadeira histeira entre os caciques republicanos, porque eles estão apavorados com a perspectiva de landslide (avalanche) democrata.

          De acordo com esse cenário, o Partido Democrata elegeria não só Presidente, mas também  Senado e várias Governanças estaduais. Quanto à Câmara que, como se sabe, graças ao amplo [2]gerrymander que se sucedeu à tunda (shellacking) aplicada no inexperiente Obama em 2010 (eleição intermediária) parece ser um bastião quase impregnável pelos democratas. Nesse sentido, os republicanos apenas ousam prognosticar que a maioria deles na Câmara de Representantes será bem menor...

             En passant, esta referência à situação pelo menos bizarra  na Câmara de Representantes, parece muito boa para o GOP, eis que lhe garante, de forma aparentemente contrária às determinações legais, o domínio da Câmara Baixa. E é através desse domínio que se estabeleceu o bloqueio legislativo na Presidência Obama. Só no primeiro biênio foi possível ao Presidente aprovar leis importantes, como a Reforma da Saude e a reforma de Wall-Street, além do instrumento legal dispondo sobre os recursos necessários para vencer os efeitos da Grande Recessão,  provocada pela falência do Banco Lehman Brothers em 2008.

               Diante dessa situação de derrocada eleitoral - em que existe muito de histeria, eis que não está ainda provado que Donald Trump não poderia vencer o candidato democrata, seja ele Bernie Sanders ou Hillary Clinton - a hierarquia republicana já pensa em outros recursos, como forçar o impasse (deadlock) na Convenção, e assim prevalecer a última hora por meio de candidato com as bênçãos do estamento republicano.

               O terror na alta hierarquia republicana é bem expresso pelo Senador Mitch McConnell.  Será que a sua liderança da maioria no Senado desapareceria com o fenômeno Trump e a consequente vitória dos democratas tambem no Senado (cuja maioria os colegas de Harry Reid, que era o lider democrata da maioria até o começo do ano passado, poderiam então recuperar e desbancar o pobre Mitch ?!)

               E é por isso que os chineses chamam de interessantes os tempos de revoltas e sublevações (ou no caso, a temida derrocada do GOP...)

               Apesar de todos os esforços da alta hierarquia republicana, Donald Trump prossegue no seu avanço. E se, para surpresa de muitos, ele conquistar a nomination e sobretudo a vitória em novembro, eles estarão prontos a dar-lhe todo o apoio...

 

( Fonte: The New York Times )   



[1] O dianteiro na corrida.
[2] Gerrymander é prática eleitoral ilegal, que pelo redesenhamento dos distritos eleitorais garante artificialmente a representação majoritária dos eleitores de um partido, em detrimento do outro partido.

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