quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

A Crise que não foi

                                  
       
         Diante das perspectivas, mais uma vez entrou em cena a turma do deixa disso, e tudo ficou (ainda que mais ou menos) como dantes em nosso quartel de Abrantes.
        O deixa-disso junto com a composição tem por vezes mais força do que a própria da Lei. Não é que o Brasil tenha horror a brigas, mas talvez exista um traço conservador que muita vez prefere a certeza de uma composição com ganho menor do que um enfrentamento com resultado imprevisível.
         Isto não é de hoje. Veja-se, por exemplo, a batalha de Itararé, aquela que não houve, e que, sem embargo, selou o fim da República Velha.
         Feitos os cômputos, a decisão dos dois lados então pendeu para a revolução saída do Sul. O cardeal embarcou no carro com o carrancudo Washington Luiz, que partiu para o exílio, sem que do decisivo encontro às portas da província de São Paulo houvesse mortos a registrar.
         Não sei de onde saíu essa inclinação para uma fria contabilidade, com a consequente vitória incruenta de uma das partes.
         Mutatis mutandis, a crise entre Senado e Supremo tampouco exigiu sangue, ou a perda da face dos eventuais contendores.  O Presidente Michel Temer contou com a preciosa intercessão de dois ex-presidentes, para a turma do Deixa disso.
          Assim, o presidente em exercício colheu o apoio de dois ex-presidentes, Fernando Henrique e José Sarney, que na discrição dos telefonemas articularam a solução da crise.
           Ajudou o caráter monocrático da liminar do Ministro Marco Aurélio Mello, que ordenara o imediato afastamento de Renan Calheiros.
           Preferindo ficar com o que se conhece, apesar de suas características, de o que a incógnita de uma reviravolta, não terá sido muito difícil convencer alguns ministros a aceitar uma solução de compromisso, em que, a gosto da nacionalidade, se evitam as peripécias (no helênico sentido das imprevisíveis cambalhotas), e se fica com um remendo da prévia situação. 
             Aí se encontra a preferência da gente brasileira pelo status quo, que norteia o sentido de composição  que, volta e meia, reponta na História do Brasil (esta mesmo, com letra maiúscula).
              A turma do jeitinho - este que expertos estrangeiros prognosticam o desaparecimento daqui a dez anos - alisa as vaidades e valoriza a composição. Apesar de que tudo pareça ficar na mesma, não é bem assim. A magna batalha de Itararé - aquela que não houve - abriu espaço para um curto governo de quinze anos. Agora, não sejamos tão sanhudos nessa projeção histórica, mas com o material de que dispomos, e trabalhando com desafios conhecidos, o resultado tenderá a ser mais manejável.
              E é este traço da nacionalidade que vai, ainda que por linhas tortas, compondo e desenhando, e se bem que com as inevitáveis rasuras, o retrato de futuro menos incerto e, esperemos, mais manejável.


( Fontes:  O  Globo, Folha de S. Paulo ) 

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