O ISIS (Estado Islâmico) é um monstro, e,
como todo corpo com tais características, é necessariamente formado por pouca
exitosa composição de fatores.
Para quem acredita na marcha inelutável
do progresso do homo sapiens sapiens, a situação na África, Europa e
Ásia merece a nossa consternada atenção.
Se a África pode servir para nós
brasileiros como uma espécie de alento ao revés – dar-se conta da implantação
da cleptocracia nesse Continente nos faz esquecer, por um momento, a
roubalheira de que o nosso Erário é vítima – o exame mais detido nos
incrementará a preocupação. Além desses vergonhosos líderes, muitos deles
ladrões contumazes apoiados pelo Ocidente, há no Continente Negro movimentos
como o Boko Haram e o al-Shabab – respectivamente na Nigéria e
na Somália, país este desde a última década do século vinte transformado em
estado falido, e que tem entre as principais atividades o apoio aos piratas que
infestam o Índico e a costa oriental da África.
O nigeriano Boko Haram é supostamente
mais de fundo religioso, conquanto tenha certa dificuldade em admiti-lo, pela
sua propensão ao estupro de meninas e jovens que cáem sob seu domínio.
Não sou, nem pretendo ser, experto
nessas seitas e movimentos que têm a flexibilidade e a maleabilidade dos
paralelepípedos.
No entanto, o jurídico da minha
formação me leva a respeitar, ainda que sob estritas condições, aquelas
comunidades que desejam o progresso de seus membros, dentro de uma determinada
ordem. Dir-me-ão que me atenho ao dístico positivista em nosso pavilhão, mas é
forçoso convir em que esse mote não é lá
muito respeitado, nos dias que correm, em Pindorama.
A Presidente Dilma andou, em recente
reunião com gerarcas africanos, perdoando dívidas de algum desses países. O
Erário brasileiro, que já sofre pelos 39 ministérios e os contínuos escândalos
que vem à luz – enquanto brasileiros e brasileiras doentes esperam, deitados no
chão dos hospitais do Nordeste, o atendimento do SUS, enquanto outros morrem
por não terem as alas de UTI devidamente equipadas, e não estando próximos do
seio de Abraão, têm de conformar-se com instrumentos e remédios inadequados.
Enquanto não foram supridas as principais mínimas necessidades de nossa gente,
não é eticamente aceitável que perdoemos as dívidas de líderes corruptos,
enquanto se deixa ao Deus dará os nossos compatriotas.
A capacidade de aliciar novos e
jovens membros de parte do E.I., a ponto que a sua migração para a Síria e
adjacências venha a ser vedada, deveria provocar das instâncias responsáveis
mais atenção para o que interessa. Vale dizer, que esse movimento reacionário e
intolerante, que quer restaurar o califado medieval, que decapita inocentes e destrói artefatos,
estátuas e obras de antigas culturas, as quais
são considerados patrimônios da Humanidade, seja militarmente controlado
e desarmado para que se restabeleça a Lei e a Ordem, sob os critérios do
vigente século XXI.
No entanto, a facilidade com que o
E.I. vem impondo o seu governo despótico
agora no Iraque não deve ser somente atribuída à capacidade dos fanáticos que o
integram.
Pelos seus sucessos bélicos, que
incluem avanços na terra dos curdos, malgrado a milícia peshmerga, e agora em
outra parte do Iraque, o Estado Islâmico desnuda a fraqueza, desorganização e
corrupção do exército iraquiano. As forças especiais mandadas pelo Primeiro
Ministro Abadi fugiram vergonhosamente.
Enquanto o EI se apossa da capital
Ramadi, da província de Ambar . A insegurança diante do avanço dos islamitas
radicais é enorme, e não são poucos episódios de fugas dos soldados e milícias xiitas diante do ISIS.
Por outro lado, os esforços do
Primeiro Ministro Haider al-Abadi de trabalhar com o seu antecessor Nuri Kamal
al-Maliki não levam a nada no essencial.
Maliki joga a carta de Teerã, como
protetora da seita majoritária xiita. Os sunitas, a quem al-Abadi tem procurado
integrar nas ações de governo, vem sendo sistematicamente ignorados por Maliki
– ex-Primeiro Ministro, que foi retirado do governo pelo seu antagonismo contra
os sunitas, no que segue a linha de Teerã.
O mais grave nisso tudo – quando a
unidade nacional está em perigo pelo avanço da milícia do EI – tanto Maliki,
quanto Teerã, que tem agora forte presença no Iraque adotam como prioridade o
que prejudique o Primeiro Ministro al –Abadi, como se o consequente avanço do
ISIS fosse irrelevante. Na sua cegueira, o que interessa é enfraquecer o
Primeiro Ministro Abadi, mesmo que tal resulte em favor dos invasores
extremistas.
Por outro lado, a aposta de
al-Abadi que a milícia sunita poderia desalojar os soldados islâmicos de Ramadi
não surtiu efeito. Isto enfraqueceu o Primeiro Ministro.
O mais impressionante está na
atuação de Maliki em conjunção com Teerã, e de sistemática oposição ao também
al-Abadi, que para eles tem dois grandes defeitos: (a) trabalha igualmente com
os sunitas, diante da emergência do ataque das milícias do ISIS; e (b) é
pró-Estados Unidos, pelo incessante apoio aéreo que Washington tem dado a Bagdá
na sua campanha contra o ISIS.
A
debilidade do Iraque, se é em parte resultado dessa disposição de
al-Maliki de sabotar todo acordo com o Primeiro Ministro Abadi, mesmo que seja
no interesse do país, mostra como é perniciosa a influência de al-Maliki, que
não leva em consideração o interesse do país (como se tal entidade inexistisse
e a única importância esteja na comunidade xiita e em Teerã ).
Maliki continua a proceder de uma
forma esquizofrênica. Ignora o interesse do pais em repelir a milícia islâmica;
não dá qualquer prioridade a um trabalho conjunto entre as duas milícias (xiita
e sunita) em repelir a ameaça do EI; e, por fim, busca sabotar o trabalho do
Primeiro Ministro, também xiita como ele.
Nada mudou quanto ao seu comportamento anterior, que motivara a
respectiva queda da Chefia do Governo.
Al-Maliki é um defensor extremado
do Irã. Como não mudou em nada, desde a sua expulsão como Primeiro Ministro,
mais cedo ou mais tarde Washington terá de organizar estratégia que neutralize
essa presença nociva aos interesses do povo iraquiano.
Na terra do Iraque, a definição
de Churchill de democracia: “o pior governo excluídos todos os outros” não se
sustenta com a presença de al-Maliki. Para que algo funcione no Iraque – até
mesmo a sua defesa contra o invasor
islamita radical – só há de ter êxito se al-Maliki for neutralizado...
Por fim, a tática do |Ocidente
no seu combate contra o Estado Islâmico a limitar ao apoio aéreo, incluindo
bombardeios, se tem mostrado insuficiente para deter o avanço do E.I.
A maior parte dos ataques aéreos
está a cargo dos EUA. A porfia contra o ISIS fica bastante prejudicada, pelo
melhor preparo das milícias do ISIS contra o exército iraquiano (o que não é
decerto difícil, dada a sua fraqueza e covardia), pelo trabalho desagregador de
al-Maliki, e pela insuficiência do apoio aéreo americano para deter o avanço do
Exército Islâmico.
Haja vistas as vultosas somas
que Washington dispendeu com a sua intervenção no Iraque – que se propunham
aplicar a democracia no país – pode-se considerar que o custo-benefício do
ingente dispêndio americano, com uma operação – que pelo menos em tese –
procurava aplicar as lições dos neoconservadores para Bagdá, face às
considerações acima (Vide também as Partes de I a III) se mostra decepcionante
no seu pouco rendimento em termos de instrução quanto às vantagens da
democracia, dada a falta de qualquer relação entre os enormes gastos da
Superpotência e a ausência de
substanciais benefícios do regime democrático para a preservação e bom
funcionamento do Estado iraquiano...
* * *
(Fontes: The New York Times; O Globo)
Um comentário:
Ótima e lúcida análise desta questão complexa. Abs,
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