terça-feira, 19 de maio de 2015

O Fantasma do Iraque (IV)

                      

      O ISIS (Estado Islâmico) é um monstro, e, como todo corpo com tais características, é necessariamente formado por pouca exitosa composição de fatores.

       Para quem acredita na marcha inelutável do progresso do homo sapiens sapiens, a situação na África, Europa e Ásia merece a nossa consternada atenção.

       Se a África pode servir para nós brasileiros como uma espécie de alento ao revés – dar-se conta da implantação da cleptocracia nesse Continente nos faz esquecer, por um momento, a roubalheira de que o nosso Erário é vítima – o exame mais detido nos incrementará a preocupação. Além desses vergonhosos líderes, muitos deles ladrões contumazes apoiados pelo Ocidente, há no Continente Negro movimentos como o Boko Haram e o al-Shabab – respectivamente na Nigéria e na Somália, país este desde a última década do século vinte transformado em estado falido, e que tem entre as principais atividades o apoio aos piratas que infestam o Índico e a costa oriental da África.

        O nigeriano Boko Haram é supostamente mais de fundo religioso, conquanto tenha certa dificuldade em admiti-lo, pela sua propensão ao estupro de meninas e jovens que cáem sob seu domínio.

        Não sou, nem pretendo ser, experto nessas seitas e movimentos que têm a flexibilidade e a maleabilidade dos paralelepípedos.

        No entanto, o jurídico da minha formação me leva a respeitar, ainda que sob estritas condições, aquelas comunidades que desejam o progresso de seus membros, dentro de uma determinada ordem. Dir-me-ão que me atenho ao dístico positivista em nosso pavilhão, mas é forçoso convir em  que esse mote não é lá muito respeitado, nos dias que correm, em Pindorama.    

         A Presidente Dilma andou, em recente reunião com gerarcas africanos, perdoando dívidas de algum desses países. O Erário brasileiro, que já sofre pelos 39 ministérios e os contínuos escândalos que vem à luz – enquanto brasileiros e brasileiras doentes esperam, deitados no chão dos hospitais do Nordeste, o atendimento do SUS, enquanto outros morrem por não terem as alas de UTI devidamente equipadas, e não estando próximos do seio de Abraão, têm de conformar-se com instrumentos e remédios inadequados. Enquanto não foram supridas as principais mínimas necessidades de nossa gente, não é eticamente aceitável que perdoemos as dívidas de líderes corruptos, enquanto se deixa ao Deus dará os nossos compatriotas.

             A capacidade de aliciar novos e jovens membros de parte do E.I., a ponto que a sua migração para a Síria e adjacências venha a ser vedada, deveria provocar das instâncias responsáveis mais atenção para o que interessa. Vale dizer, que esse movimento reacionário e intolerante, que quer restaurar o califado medieval,  que decapita inocentes e destrói artefatos, estátuas e obras de antigas culturas, as quais  são considerados patrimônios da Humanidade, seja militarmente controlado e desarmado para que se restabeleça a Lei e a Ordem, sob os critérios do vigente século XXI.

           No entanto, a facilidade com que o E.I. vem impondo o seu governo  despótico agora no Iraque não deve ser somente atribuída à capacidade dos fanáticos que o integram.

           Pelos seus sucessos bélicos, que incluem avanços na terra dos curdos, malgrado a milícia peshmerga, e agora em outra parte do Iraque, o Estado Islâmico desnuda a fraqueza, desorganização e corrupção do exército iraquiano. As forças especiais mandadas pelo Primeiro Ministro Abadi fugiram vergonhosamente.

           Enquanto o EI se apossa da capital Ramadi, da província de Ambar . A insegurança diante do avanço dos islamitas radicais é enorme, e não são poucos episódios de fugas dos soldados e  milícias xiitas diante do ISIS. 

           Por outro lado, os esforços do Primeiro Ministro Haider al-Abadi de trabalhar com o seu antecessor Nuri Kamal al-Maliki não levam a nada no essencial.

           Maliki joga a carta de Teerã, como protetora da seita majoritária xiita. Os sunitas, a quem al-Abadi tem procurado integrar nas ações de governo, vem sendo sistematicamente ignorados por Maliki – ex-Primeiro Ministro, que foi retirado do governo pelo seu antagonismo contra os sunitas, no que segue a linha de Teerã.

           O mais grave nisso tudo – quando a unidade nacional está em perigo pelo avanço da milícia do EI – tanto Maliki, quanto Teerã, que tem agora forte presença no Iraque adotam como prioridade o que prejudique o Primeiro Ministro al –Abadi, como se o consequente avanço do ISIS fosse irrelevante. Na sua cegueira, o que interessa é enfraquecer o Primeiro Ministro Abadi, mesmo que tal resulte em favor dos invasores extremistas.

            Por outro lado, a aposta de al-Abadi que a milícia sunita poderia desalojar os soldados islâmicos de Ramadi não surtiu efeito. Isto enfraqueceu o Primeiro Ministro.

            O mais impressionante está na atuação de Maliki em conjunção com Teerã, e de sistemática oposição ao também al-Abadi, que para eles tem dois grandes defeitos: (a) trabalha igualmente com os sunitas, diante da emergência do ataque das milícias do ISIS; e (b) é pró-Estados Unidos, pelo incessante apoio aéreo que Washington tem dado a Bagdá na sua campanha contra o ISIS.

             A  debilidade do Iraque, se é em parte resultado dessa disposição de al-Maliki de sabotar todo acordo com o Primeiro Ministro Abadi, mesmo que seja no interesse do país, mostra como é perniciosa a influência de al-Maliki, que não leva em consideração o interesse do país (como se tal entidade inexistisse e a única importância esteja na comunidade xiita e em Teerã ).

              Maliki continua a proceder de uma forma esquizofrênica. Ignora o interesse do pais em repelir a milícia islâmica; não dá qualquer prioridade a um trabalho conjunto entre as duas milícias (xiita e sunita) em repelir a ameaça do EI; e, por fim, busca sabotar o trabalho do Primeiro Ministro, também xiita como ele.  Nada mudou quanto ao seu comportamento anterior, que motivara a respectiva queda da Chefia do Governo.

              Al-Maliki é um defensor extremado do Irã. Como não mudou em nada, desde a sua expulsão como Primeiro Ministro, mais cedo ou mais tarde Washington terá de organizar estratégia que neutralize essa presença nociva aos interesses do povo iraquiano.

              Na terra do Iraque, a definição de Churchill de democracia: “o pior governo excluídos todos os outros” não se sustenta com a presença de al-Maliki. Para que algo funcione no Iraque – até mesmo a sua defesa contra  o invasor islamita radical – só há de ter êxito se al-Maliki for neutralizado...

               Por fim, a tática do |Ocidente no seu combate contra o Estado Islâmico a limitar ao apoio aéreo, incluindo bombardeios, se tem mostrado insuficiente para deter o avanço do E.I.

               A maior parte dos ataques aéreos está a cargo dos EUA. A porfia contra o ISIS fica bastante prejudicada, pelo melhor preparo das milícias do ISIS contra o exército iraquiano (o que não é decerto difícil, dada a sua fraqueza e covardia), pelo trabalho desagregador de al-Maliki, e pela insuficiência do apoio aéreo americano para deter o avanço do Exército Islâmico.

                  Haja vistas as vultosas somas que Washington dispendeu com a sua intervenção no Iraque – que se propunham aplicar a democracia no país – pode-se considerar que o custo-benefício do ingente dispêndio americano, com uma operação – que pelo menos em tese – procurava aplicar as lições dos neoconservadores para Bagdá, face às considerações acima (Vide também as Partes de I a III) se mostra decepcionante no seu pouco rendimento em termos de instrução quanto às vantagens da democracia, dada a falta de qualquer relação entre os enormes gastos da Superpotência e a ausência de  substanciais benefícios do regime democrático para a preservação e bom funcionamento do Estado iraquiano...

                                              *                *                *

(Fontes: The New York Times;  O Globo) 

Um comentário:

Mauro disse...

Ótima e lúcida análise desta questão complexa. Abs,