Dezesseis anos e quinze crimes
Que comentário se
pode fazer sobre um de menor que já
cometeu quinze crimes e ainda tem mais dois anos pela frente de menoridade?
Com dezesseis
anos – é indispensável repeti-lo – um brasileiro é considerado apto a
alistar-se e obter título eleitoral, que o habilita a eleger o Presidente da República.
E, no entanto,
o estatuto da infância e da juventude – empunhado por um grupo coeso e convicto
– habilita esse jovem a matar e a voltar às ruas. Escusado dizer que esse
suposto ‘direito’ o torna um assassino e, ainda por cima, cruel.
Não só Jaime Goldman foi covardemente assassinado. Com um facão e golpe soez, covarde, o bandido - cujo nome nem foto não podem ser publicados
- cortou a existência de médico empenhado no seu trabalho e em salvar vidas.
Apesar de não
ter reagido – isso é que os protetores desses facínoras recomendam com
insistência às potenciais vítimas – tal não
foi bastante para que o promissor facínora se abstivesse de um golpe de faca
que ele sabe ser mortal, pois perfura intestino e estômago, áreas do corpo
humano de densa irrigação sanguínea.
Mas ele cujo
nome está protegido por férrea lei,
dentro em pouco estará de volta às ruas e às praças, sobretudo em horas
do crepúsculo e da noite. Pois ele tem
de aproveitar o seu tempo de menoridade
que lhe resta, e não será decerto para preparar-se para a vida em sociedade.
Mas, atenção,
ele não é um animal. É ser humano, que comete atos que sequer as feras
praticam.
E a esse
propósito a frase do governador do Rio de Janeiro quanto à inanidade das
prisões de tais de menores, reflete constrangedora realidade pois não é que sabe-se
lá que depois de preso um desembargador
pode logo liberá-lo com uma liminar ?
Palmyra, tragédia anunciada
O E.I. já se apossou de Palmyra.
Por enquanto, nada fez de o que se teme possa fazer, eis que no Iraque se ‘assinalara’
por destruir ruínas catalogadas pela
UNESCO.
A própria
desenvoltura do Exército Islâmico já constrange. De um lado, a terra de ninguém na Síria
– que a conjunção dos quatro principais responsáveis pela ação de defesa
externa dos Estados Unidos propôs ao Presidente Barack Obama, ao fim do
seu primeiro mandato, que a Aliança dos Rebeldes na Síria fosse armada para
evitar o predomínio de extremistas. Obama,
no entanto, preferiu não armar os rebeldes sírios reconhecidos pela Liga Árabe.
Nisso, contrariou Hillary Clinton e os demais chefes dos departamentos
encarregados de fazer frente a ameaças externas.
Agora,o
presidente americano utiliza o poder aéreo para tentar controlar situação de ameaça
em muitos lugares. E, sem embargo, embora o ISIS apareça agora em muitas aéreas, todas elas fazem parte do
espaço aberto por um conflito de baixa
intensidade, e que antes reunia óbvias condições de derrubar o tirano Bashar
al-Assad.
Não foi por
acaso que a guerra civil síria – que parecia prestes a derrubar o regime dos
Al-Assad – de repente se tornou um vácuo político. Carente de armas e de apoio
logístico, a revolução síria perdeu o ímpeto inicial, ímpeto esse que apontava
para a iminente fuga do Presidente sírio.
Como a
natureza abomina o vácuo, com a perda da força da liga que batalhava por uma
Síria livre, mal ou bem o regime de Assad conseguiu reforçar as próprias
posições ameaçadas. No interior da Síria, a fraqueza da União da Síria livre
abriu espaço para o que viria a ser o Estado Islâmico.
O ISIS
exerce algum poder de atração sobre a juventude – na verdade, o proletariado interno[1] –
em países como a França e Reino Unido – a ponto de que sua migração para a
Síria tenha passado a ser monitorada pelos serviços de segurança. Carece de ser realizado um trabalho
antropológico para determinar o que contribui para a adesão desses jovens.
Muito terá a ver com a vida sem atrativos do proletariado interno condenado ao preconceito e à pobreza
estrutural, como os descendentes de árabes da Argélia e do Magreb em geral, que ‘radicados’ na França foram chamados, a seu
tempo, de “racaille” (ralé) pelo
então Ministro do Interior Nicolas Sarkozy.
Essa minoria
cresce – e como! – nos países europeus em que se estabelece, de que são exemplo
além da França e Reino Unido,os Países Baixos e a própria Bélgica. A Alemanha
mantém também a sua minoria – que no caso são os turcos – os quais também
sofrem preconceito, e tem, como os demais, altos níveis de natalidade.
O E.I. – que é
uma forma de barbárie, dispondo, no entanto, de armamento altamente sofisticado,
e o que talvez seja mais inquietante, uma estranha capacidade de aliciamento
dessa juventude, cuja maior parte fica à
deriva, nos bidonvilles (favelas) do primeiro mundo, e sem eira nem beira - coloca a sua candidatura para qualquer forma
de radicalismo, que venha a dar algum sentido para as suas pulsões. E dado o
potencial de agressividade que esses rejeitados do Primeiro Mundo – com a agravante de nele viverem, porém à margem – causaria
surpresa que tais movimentos radicais como o ISIS venha a atraí-los?
Assim,
quanto mais anti-establishment, melhor! Daí a bárbara e crudelíssima encenação das
decapitações, em geral decretadas com a mesma facilidade de que nos séculos XV
e XVI as cabeças de “infiéis” eram
decepadas, se não gritassem a tempo Allah
Uk Akhbar”!, que é uma espécie de confissão relâmpago, do tipo prêt-à-porter[2]...
Agora o islamismo radical que
tira o seu fundamento para tal comportamento de uma suposta base
histórica. O Profeta Maomé, para fundar
o respectivo predomínio, teve de afastar a idolatria. O que foi feito com a destruição dos templos.
É esse
comportamento datado – e que correspondia à eliminação – pelos meios da época –
de uma ameaça concreta, que serve de “base” para a política do ISIS de
destruição sistemática do passado, sobretudo aquele artístico e religioso, que
deve desagradar sobremaneira uma atitude tão redondamente filisteia quanto às
professadas por esse pretenso Califado do Povo Islâmico.
Contando
com o apoio de núcleos sunitas – que é versão do tradicionalismo islâmico – a que
se opõe a corrente xiita dissidente, aborrece ao Exército Islâmico que o
passado – sobretudo em obras de arte até hoje conservadas e catalogadas pela
UNESCO como do patrimônio universal da Humanidade – possa vir a afrontá-los,
por mais ridícula que seja tal postura tão entranhadamente filisteia.
Daí, como o Ocidente criou condições para
que um vácuo surgisse na Síria, e por outro característico próprio de tais
situações, eis que a natureza abomina o vácuo, surge o Bicho-Papão do Exército
Islâmico agredindo a mídia e fazendo
uma propaganda da estupidez militante (que pode impressionar a mais gente que
imaginar-se possa) através da destruição sistemática de obras de arte oriundas
do passado da Humanidade, que por estranha coincidência não provêm do mundo
islâmico (note-se que o muçulmano não favorece a representação da imagem humana).
Por cortesia
do Ocidente, portanto, e da recusa anterior do Presidente Obama, criaram-se as
condições de vácuo de poder no interior da Síria. Ora, como a natureza abomina
o vácuo...
Preparem-se, portanto, para outra terraplanagem bestial do passado de
velhas civilizações, que a crer-se pelas atitudes niilistas dos membros do E.I.
devem representar ameaça terrível para os mui determinados membros do Califado.
Lembram-se
acaso do Talibã no Afeganistão, e da sua boçal destruição das colossais estátuas
que buscavam espelhar um perigoso radical, conhecido como Buda?
Como todo
movimento menor, ele procura incomodar o mundo à sua volta. É o que o ISIS está
fazendo, através de seu plano de destruição (que não é total, quando o artefato
pode ser vendido a peso de ouro no mercado paralelo...)
Obama, no
entanto, ainda acha possível – ou não tem outra opção por causa de sua passada falta aguda de visão – que, em recorrendo ao poder aéreo, tais
ações possam ser combatidas... Não é,
porém, o que a prática vem mostrando...
( Fonte: Folha de S. Paulo )
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