O decreto-executivo de Barack
Obama, de novembro de 2014, continua a ser mal-recebido pela Justiça
Americana.
Quanto ao
juiz escolhido pelos impetrantes da ação de inconstitucionalidade do decreto de
Obama, não havia decerto o que fazer. Era um juiz do Texas, estado que há muito
deixou de ser democrata, para adentrar o barco republicano. Seria de
presumir-se por conseguinte que a primeira instância seria desfavorável.
A visão
regressiva do Sul estadunidense continua infelizmente a prevalecer. Agora, a
Corte do 5° Distrito
de New Orleans confirmou, por maioria de votos, a decisão do Juiz singular do
Texas.
Contra a
maioria de dois votos, houve, no entanto, um magistrado – o Juiz Higginson
– que considerou constitucional a ordem executiva do Presidente
americano.
É clara a
necessidade de que a legislação para imigração nos Estados Unidos adquire forma mais consentânea com a realidade da
sociedade americana. Cada vez mais é sentida a necessidade de aporte do
imigrante para atender às carências do mercado.
Diante do
bloqueio legislativo então determinado desde 2010, com a ‘tunda’ (shellacking) recebida pelo então inexperiente Obama, em que o Partido Democrata
perdeu a maioria na Câmara de Representantes por causa da famosa ‘tunda’, a
possibilidade de aprovar legislação importante se viu gravemente obstaculizada.
A Câmara
Baixa – graças a maioria do GOP
construída pelo guerrymandering que o
shellacking de 2010 possibilitara – se
tornou feudo republicano. Dessarte, a legislação relevante – como comprovaram a
Reforma da Saúde, a Reforma de Wall Street, e a concessão de maiores fundos para os setores atingidos pela Grande Recessão
– virou verdadeira miragem, pela total impossibilidade de cooperação de uma
Câmara Baixa dominada pela facção ultradireitista do Tea Party.
O que a Câmara de Representantes do Speaker John Boehner tenta desde 2011 é provocar paradas no Estado, através
da (negação) da renovação do teto fiscal americano, ameaçando inclusive o
não-pagamento dos bônus da dívida, com graves possíveis consequências para o Tesouro
Americano.
Entende-se, por conseguinte, que a reforma da imigração, com o
assentimento do Senado, não tinha qualquer perspectiva de implementação pela
Câmara, a qual por força de sua composição artificial não reflete o sentir da
sociedade americana.
Foi por
força desta grave situação de paralisia legislativa em tópicos de alto
interesse para os Estados Unidos, que o Presidente Barack Obama optou recorrer
ao decreto executivo (Executive order),
o único instrumento de que a paralisia do Legislativo tornara mandatória a
respectiva utilização.
As duas Cortes
(a singular e a distrital) se serviram do recurso de apelar para a alegada inconstitucionalidade
da medida executiva de Obama. Na verdade, a oposição à imigração e à introdução
de regras mais humanas e consentâneas com o valioso aporte trazido pelos
imigrantes – em sua grande maioria mexicanos e centro-americanos – para atender
às lacunas em termos de serviço da sociedade americana do século XXI, cabe
sempre ao Partido Republicano, enquanto a maioria dos democratas defende as
classes menos favorecidas.
Diante
da necessidade de “consertar um sistema de imigração arruinado” o Presidente
resolveu recorrer à sua faculdade constitucional de servir-se de um decreto executivo
para evitar a injusta deportação de pais de cidadãos americanos, ou cujos
filhos já dispõem de permissão de residência permanente.
Nesse
sentido, Brandi Hoffine, porta-voz da
Casa Branca, assinalou que as ações de Barack Obama para evitar a deportação de
imigrantes sem documentos “estavam perfeitamente dentro dos limites de sua
autoridade”. E referindo-se ao voto que dissentiu da maioria de dois juízes,
voto esse emitido pelo juiz Higginson “a ação executiva de imigração do
Presidente Obama é totalmente conforme à Lei.”
No itinerário previsível, o processo
deverá ser levado às Cortes distritais de Washington. É muito provável que
nesse âmbito, o Presidente tenho ganho de causa. Contudo, é igualmente assaz provável que essa
disputa seja por fim levada à Corte Suprema, onde o resultado é, no mínimo,
imprevisível, eis que na mais alta Corte persiste maioria de cinco juízes
conservadores com quatro liberais.
( Fonte:
O Globo )
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