quinta-feira, 28 de maio de 2015

A Corrupção na FIFA


                                      
        A  Fifa (Federação Internacional de Football Association) fundada em Paris, 1904 e com sede em Zurique, na Suiça, será apenas uma andorinha, mas ao contrário do provérbio, esta andorinha faz o verão.

         Se nos detivermos por um instante e pensarmos nessa questão, nos daremos conta de como a corrupção se faz presente por toda a parte, inclusive no esporte.

         Não está esclarecido se o ‘convite’ ao FBI de parte da FIFA existiu realmente, ou se foi apenas formalidade, para tapar o sol com peneira, diante de  investigação que independia de Sepp Blatter & Cia.

        Desde muito  suspeita-se da corrupção no futebol.

        Sem embargo, a dose foi muito além de qualq   uer expectativa. Nove dirigentes da FIFA e de organizações internacionais latino-americanas foram presos por iniciativa do Bureau Federal de Investigações (FBI), dos Estados Unidos.     

        A própria relação retira qualquer ilusão sobre a qualidade ética desses paredros do futebol da FIFA, a maior parte representada na reunião da Federação Internacional para acompanhar a eleição do Presidente da FIFA. O quinto mandato de Sepp Blatter vence e ele deseja o sexto...

         Os alvos na operação da polícia americana na Suíça são José Maria Marin, que é vice da CBF, foi dela presidente e do Comitê Organizador da Copa de 2014. Para vergonha dos cartolas do futebol latino-americano, foram igualmente detidos: Jeffrey Webb, Vice-Presidente da FIFA e Presidente da CONCACAF (Confederação de Futebol da América do Norte); Eugenio Figueiredo, vice-presidente da FIFA e ex-Presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol; Eduardo Li, membro do Comitê Executivo da FIFA; Rafael Esquivel, Membro do Comitê Executivo da FIFA e Presidente da Federação da Venezuela; Nicolás Leoz, ex-presidente da Conmebol (Sul-americana); Julio Rocha, presidente da Federação de Futebol da Nicarágua; Jack Warner (*), ex-Vice-Presidente da FIFA e ex-presidente da CONCACAF (Confederação de Futebol da América do Norte); Costas Takkas, assessor da presidência da Concacaf. (*) Warner – que não estava na Suíça – se apresentou à polícia em Trinidad Tobago, onde reside, pagou a fiança[1] e foi, por conseguinte, liberado.

         José Maria Marin, preso na Suiça, e os demais acusados na operação do FBI, foram afastados (por ora, a título provisório) de todas as atividades concernentes ao futebol.  Marin ocupava a vice-presidência da FIFA e é membro do comitê organizador do futebol na Olimpíada. Em função das acusações, Marin deverá renunciar a tais cargos.

         Acompanhava Marin em Zurique o atual Presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, se achava no mesmo luxuoso hotel em que se hospedara o ex-presidente da CBF e Vice-presidente da FIFA, José Maria Marin, conforme noticia a Folha.

         A nova Attorney-General dos Estados Unidos, Loretta Lynch, fez questão de participar da entrevista em New York.  Dado o maior interesse atual dos Estados Unidos pelo futebol – o que se reflete no acompanhamento de sua seleção, que vem crescendo em Copas do Mundo sucessivas – tanto a Ministra da Justiça (a Attorney-General Lynch) e James Comey, diretor do FBI, foram à Corte de Brooklyn, em New York, nesta quarta-feira, 27 de maio.

          As declarações das autoridades americanas denotam a relevância atribuída e o consequente empenho. Dessarte, Comey, do FBI, afirmou: “O trabalho vai continuar até que todos os corruptos sejam descobertos. A mensagem é que este tipo de conduta não será tolerada”.

          Diante de uma centena de jornalistas, que cobriam a sensacional matéria, a novel Attorney General declarou: “Duas gerações de executivos da FIFA, da Concacaf e da Conmebol usaram seus cargos de confiança para solicitar propinas de empresas de marketing esportivo em troca de direitos comerciais sobre campeonatos. Eles fizeram isso, ano após ano, campeonato após campeonato”. Entre outros exemplos, a Sra. Lynch citou o acordo de patrocínio da seleção brasileira com uma “grande empresa de artigos esportivos dos EUA”.  É interessante rememorar o tal acordo de patrocínio que incluía cláusulas bastante intrusivas acerca do comportamento (inclusive escolha de jogadores) pelos responsáveis técnicos da seleção brasileira. Na época, o assunto causou espécie, mas não a ponto de ser aprofundado como devera.

           Questionada sobre a ausência do Presidente da FIFA, Joseph Blatter, no mandato de captura dos paredros latino-americanos detidos, a Secretária de Justiça declarou que não falaria sobre indivíduos não mencionados.  No entanto, o seu adendo a essa observação não semelha de molde a que tais pessoas não estejam ainda sob investigação: “O que posso dizer é que essa investigação está em andamento e vai continuar”.

           Por ora, não há comprovação de que o Presidente Blatter tenha ligação direta com os escândalos de suborno em contratos comerciais que foram apresentados de forma pública pela Justiça estadunidense. Por sua vez, Del Nero, mandatário da CBF, aparece nos documentos da investigação, mas não tem o seu nome citado e é identificado apenas por um número.

           A ficha ainda não caíu para Sepp Blatter. Ele pretende, contra vento e maré, mais uma reeleição. Assim como Havelange no passado, o suíço acha que ainda pode continuar. Não é a opinião da UEFA, que tem o apoio das Federações Européias. A Liga europeia tudo fará para impossibilitar mais esta reeleição. Politicamente, fica muito difícil dizer que o assunto não lhe concerne. Se não participou, e toda pessoa é inocente até prova em contrário, ter permitido que uma atmosfera dessas tivesse alcançado as dimensões expostas pelo FBI  já indica uma certa omissão. Por outro lado, as autoridades americanas não o isentaram de culpa. Perguntadas pela imprensa, silenciaram quanto à acusação, mas frisaram que a investigação está em andamento.

           Segundo a polícia americana, a investigação envolve esquema de corrupção superior a US$ 100 milhões na FIFA nos últimos vinte anos, abrangendo fraude, extorsão e lavagem de dinheiro  em transações  ligadas a campeonatos e  acordos de marketing e transmissão  televisiva.  As contas bancárias dos suspeitos no país foram bloqueadas (dois brasileiros estão envolvidos no caso). 

             Há dois brasileiros com as contas bloqueadas: Réu confesso, José Hawilla, septuagenário, dono do Traffic Group , que tem os direitos de transmissão, patrocínio e promoção de campeonatos de futebol e jogadores, além de empresas de comunicação no Brasil. Por outro lado o brasileiro naturalizado (natural da Argentina) José Margulies, conhecido como José Lázaro, é outro envolvido. Intermediava contratos da Conmebol com emissoras de TV e empresas de marketing.

              Deve considerar-se de muita oportunidade a entrada do Federal Bureau of  Investigation (FBI) dos Estados Unidos nesse campo minado. Há muita aparente omissão do poder público, nas competentes instâncias judiciais – excluídas as indiretas e diretas de Romário contra o genro de Jean Havelange, Ricardo Teixeira – em umbrosos episódios que se estendem por tantos anos. A suposta ‘chasse gardée’ (o defeso da caça) para a Justiça Esportiva, amparada pelas diretivas e ameaças da FIFA, terá criado no país do futebol a doce ilusão de que bastaria essa justiça especializada para controlar o futebol.  Pelo que a investigação do FBI está demonstrando, é que há um possível campo (de tamanho a ser determinado) de omissão em tópicos relevantes dos diversos direitos públicos.

       Nesse ponto, a declaração da Presidente Dilma Rousseff se me afigura tristemente  típica da atitude das autoridades de Pindorama. Apesar de rejubilar-se com essa ação do FBI: “acho que vai permitir uma maior profissionalização do futebol”,  ela dá impressão de ser uma espectadora na matéria. 

       Com efeito, perguntada se o envolvimento de Marin e da CBF não sugere que o governo deveria ter mais ingerência sobre a entidade e seus negócios, Dilma lembrou que a legislação brasileira não permite ao Poder Executivo investigar corrupção no setor privado.  Não obstante, ela própria lembra em seguida  que o uso do dinheiro público pela CBF – por exemplo, os recursos desembolsados para a Copa de 2014 – “está sujeito a escrutínio da CGU, do Ministério Público Federal (MPF) e outros órgãos, além da PF (Polícia Federal)”.

        Tudo isso é para ficar bem na foto. Não escapará ao leitor atento é que todas as considerações  estão na faixa do hipotético e do condicional.  São apenas hipóteses. Será que a ação do FBI não mostra os benefícios da investigação levada a sério?

        Entrementes, tudo fica na mesma. Continuamos no plano das hipóteses  e de assertivas tão amplas quanto vazias.

        Se me é permitido adaptar uma frase célebre,  o futebol é importante demais para ser deixado totalmente nas mãos dos paredros da CBF. É um tanto deprimente ficar de basbaque a admirar a ação do FBI, enquanto a Presidenta se enrola em considerações mil atrás das quais se esconde a própria inação.

         Pelo visto, a turma da CBF e das demais confederações latino-americanas podem dar lições de propina aos diretores da Petrobrás e à turminha de quem cuida – e bem! – o juiz Sérgio Moro. Que negócio é esse que futebol é assunto privado no Brasil? Quando uma questão tão importante para o brasileiro pode ser deixada exclusivamente por conta dessa gente da CBF?

          Essa postura de avestruz ajuda a entender melhor o vexame do 7x1, que para o Felipão, é coisa do futebol...  

( Fontes: Site de O Globo, Folha de S. Paulo, O Globo )          



[1] A bagatela de US$ 2,5 milhões de fiança, tendo sido liberado sob a condição de reapresentar-se a doze de julho p.f.

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