A atitude da
candidata Rousseff prometendo mundos e fundos na campanha, mostrando-se
imperturbável nas promessas, e sem pestanejar nas mentiras, lhe iria custar
caro, quando a vitória foi alcançada, posto que, sob a contradição evidente
entre a promessa radiosa (e enfeitada pelo esperto marqueteiro) da candidata e
a realidade bruta e em verdade cruel, que uma vez assegurado o ambicionado
prêmio, é chegada a hora de dar o dito por não dito.
Esse tipo que
definiria como estelionato eleitoral tem um precedente histórico, marcado pela
vã esperança do último congelamento de preços sob o governo José
Sarney.
Em vitória
arrasadora o PMDB elegeu a ampla maioria dos candidatos, que confiavam no
chamado Plano Cruzado, com a fórmula do congelamento dos preços no comércio
e alhures. Muitos ainda se lembrarão do popular que, na base do grito, mandou
que os empregados fechassem supermercado, porque estava remarcando preços...
Mas essa
empulhação tem vida curta, ainda que se haja refletido por toda a pindorama nos
fáceis triunfos dos representantes do principal partido, que encarnavam o boi
gordo (de Orestes Quércia) e a manutenção férrea dos preços, contra vento e
maré.
No entanto, duraria pouco o júbilo popular,
uma vez exposta a vigarice, a empulhação da campanha do partido do
governo. Quando, poucos dias após o ledo
evento, vieram a público os ministros de Sarney para informar o povão do Cruzado II, que não passava da negação
na prática do miraculoso Plano Cruzado, todo o povo se conscientizou que havia
sido vítima de verdadeiro conto do vigário com fins eleitorais.
A partir desse
momento, despencou como uma pedra a popularidade de José Sarney, a ponto tal
que não mais podia aparecer em público. Nesse contexto, havendo Sua Excelência
viajado ao Rio de Janeiro, o ônibus e a comitiva em que viajavam, foi cercado e
apedrejado, passando Suas Excelências por transe difícil que há de ter
despertado, nos porventura dados a alguma reflexão sobre os atos políticos e
suas consequências, que o povo enganado, se ele traduz o engano em portentosas
vitórias nas urnas, também esta virtual aplicação de o que seria na prática um
conto do vigário (ganhar concretos lucros políticos em troca de brisa
bem-condicionada), pode ser encantadora a curtíssimo prazo, mas não é decerto
recomendável para o futuro mediato...
O cerco do
tal ônibus no Rio de Janeiro, além do susto e da tensão que infundiu em Sua
Excelência e comitiva, felizmente não teve outras desagradáveis consequências,
salvo a confirmação da desastrosa impopularidade, daquelas que forçam os
poderosos do dia a evitar contatos com o Povo Soberano.
Pois o meu
leitor há de ter suspeito para onde me encaminho, já longe das passadas
vivências do último século, enquanto mergulhamos nesses tempos interessantes na
velha definição chinesa, em que vacas desconhecem bezerro, e se abrem dadivosos
os espaços, porque é hora da onça beber água...
Meditar
sobre a popularidade, é um vezo dos políticos. Por isso, as grandes
figuras, por causa de demasiado longa trajetória, acabam reputando que ela é eterna, e
influenciável por eventual conjunção de fatores.
Lembram-se
acaso do orgulho e da altivez da Presidenta – sentimentos esses que são vizinhos da arrogância – com que acionava as redes da mídia para a divulgação das
mensagens da Chefe de Estado?Apesar de parecer um tanto pressurosa nas suas
aparições por dá cá aquela palha, não alimentava quaisquer dúvidas na sempre
oscilante cabeça, como se qualquer motivo fosse pretexto bastante, para que ela
nos invadisse a sala de estar. Proclamava, então, supostas conquistas ou desfazia de
alegadas armações da oposição. Como se se dirigisse à entidade das trevas, ela transpirava palavras e conceitos, prenhes de censura e menosprezo, como se a mandasse para ermos e pântanos do
menosprezo popular ?
Todavia, tão logo publicadas as consultas do Datafolha
à cidadania, com a brusca queda na sua avaliação pelo Povo, com palavras que a
sinalizam como falsa e mentirosa.
De repente
lhe ocorreu fenômeno de que se acreditara isenta: a desconfiança com uma
campanha que ecoava as palavras de Marina: mentiras. Desmantelou a indefesa candidata do PSB com
torrente de propaganda desleal. Como a outra dispunha de um tempo ridículo,
estaria indefesa diante das inverdades e, até mesmo calúnias. E como não tinha
tampouco meios de valer-se do direito de resposta, pela invisível muralha do
aparelhamento do Estado (aí incluída a justiça eleitoral), nada seria julgado
bastante para avalizar eventual contestação, como no filmete sobre a autonomia
dos bancos (que tiraria a comida da mesa dos pobres).
Fantasma sabe
para quem aparece. Dispondo dessa vantagem, pôde roer no apoio dado a Marina,
pois o seu estado-maior desejava evitar a todo custo um segundo turno entre Dilma e Marina.
Não
surpreende que mais tarde a conjunção do Petrolão com a inflação desencadeasse
demonstrações pelo seu impeachment.
Nesse campo, há ainda longo caminho a percorrer. Duas jornadas se seguiram, com
panelaços e buzinaços.
A rejeição
popular a quebrantou e o trator de
antes, com a segurança da fortuna e dos bons ventos, tornou-se moçoila
assustadiça, que passou a temer grandes concentrações e magnas datas, as quais,
em sequência, começa a evitar.
Um senador alcunhou-lhe
de ridícula a recusa de discursar
no primeiro de maio. Para poupar-lhe o desaire de vaias e panelaços ela
apareceu para a comunidade obreira em pequenas intervenções na internet. Agora, esse virtual período de
nojo – para não sofrer os agravos dos apupos e assobios – se estende a
representações de estado, de caráter cerimonial, como o comparecimento no
Monumento ao Pracinha no aterro do Rio de Janeiro. Algum representante irá
para, na homenagem da alta chefia das Forças Armadas, trazer a atenção para
mais uma defecção, sob o pânico do constrangimento.
Por outro
lado, o seu poder político semelha ter diminuído. Pessoas que ela antes
desprezava, como o Vice Michel Temer, agora tratam em seu nome as questões
políticas com os antigos aliados. Num governo sem elã e sem rumo, em que se formam 39 ministérios, a grande parte de mera
fachada, eis que faltos de importância e interesse para o Brasil, pouco ou nada
contam. Nesse quase batalhão, eis que o próprio PDT, que se assenhoreou do
Ministério do Trabalho não lhe dá sequer um voto para a aprovação do ajuste
fiscal. O próprio Ministro do Trabalho, Manoel Dias, parece que não lhe tem
contas a prestar, nem satisfações a apresentar.
Há uns
poucos meses atrás essa situação, se algum repórter a reportasse, seria julgada
demencial. Como a moto-niveladora Dilma Rousseff, a presidenta que maltratava os
auxiliares e inclusive brindava ministros de estado, na frente dos demais, com palavrões
grosseiros, se terá transformado em frágil donzela que vê inimigos em toda
parte e que foge da luta onde quer que ela porventura apresentar-se possa ?
Onde está a
corajosa jovem que enfrentou tortura e militar façanhudo? Onde estás que não te
vejo? Por mais que force a vista tampouco se me depara a mulher encorpada, que
passava em revista a tropa, como se trator fora.
Hoje
tenho diante do Brasil mulher que encolheu de súbito, que de destrambelhada
virou tímida, em que rugas e indecisões a assaltam, e ela, entre incertezas
e arrefecimentos, não é que sombra de o que foi há coisa de poucos meses.
E o Povo, pouco acostumado com a tanto medo e indecisão, começa a perguntar-se: Se és a
mulher do Lula, que ganhou a primeira eleição, e o muro que rebateu desdenhosa
as dúvidas e insinuações do adversário das Alterosas, aonde estás agora, que não mais te
encontramos por esses Brasis?
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