A ambição desmedida faz esquecer
não só as promessas, mas as obras feitas. Ei-lo de retorno – se, por acaso,
antes pensara recolher-se – a apontar, na foto da Folha, nas seis colunas da primeira página, o cartaz ‘Abaixo Plano
Levy’.
Será tanta a
tua ânsia de voltar, que terás acaso esquecido de que o que aí está é também
obra tua, pois Dilma Rousseff a tiraste da algibeira para suceder-te. Se tal
empresa só é possível no Brasil, pelo despreparo de boa parte do eleitorado, teu comportamento agora desperta espécie, como
se no afã de regressar, ages como se nada fora? E, sem embargo, não te faltaram
ponderações, como abalizado comentarista não deixou de sublinhar.
Pensavas talvez que ela se contentaria com
um único mandato – e a sua desastrosa travessia confirma que tal seria melhor,
inclusive para a própria – mas assim não estava escrito e a ambição fê-la dar
um passo além.
Já dizem os
franceses que quanto mais uma coisa mude, mais ela fica igual. E ao ver-te
verberar em praça pública – e as velhas lembranças das grandes multidões em
praça pública, que foram rampa de lançamento para o futuro na política, te
sacudiam a memória – hão de pensar no primeiro avatar de Lula o sindicalista.
Nas
reivindicações sindicais – derrotar as MPs 664/665 e com elas o Plano Levy –
esqueces acaso o ‘Lula Paz e Amor’? Em
2002, com postura de estadista, venceste afinal uma eleição majoritária, e chegaste
ao Palácio do Planalto, meta inatingível por três eleições ?
Pensas ser
possível desta feita de novo empolgar o poder, apoiado no teu carisma, mas
esquecido do líder conciliador, que se votava a continuar a obra de FHC, posto
que o PT se aferrara à oposição sem quartel, contra o Plano Real, inclusive
intentando o impeachment?
E o que imaginas conseguir com essa
derrubada do Plano Levy? Ele é um
técnico respeitado, ainda que jovem, e foi convocado por tua criatura para
salvar a economia do Brasil, após a desastrosa gestão do Dilma I.
Como o teu
Ministro da Fazenda, Antonio Palocci, te acertou as contas – apesar do excesso
nos gastos correntes, motivados por teu aparelhamento do poder estatal – e depois,
infelizmente se foi, levado pelo caso do caseiro – por que ages como se nada
tenhas a ver com as imprudências e equívocos na economia do teu primeiro poste?
Pensas de
novo empolgar o poder, aferrado à cediça fórmula de trabalhar com a esquerda,
para pavimentar-te o caminho? Derrubar o
Plano Levy não é demagogia barata, por que a quem interessa manter o que aí
está, com a inflação de volta?
Como deves
ter aprendido a lição, se a tua discípula nos fez reencontrar o velho dragão,
não será pela farra financeira, e os aumentos ilusórios, que vamos lograr
reimplantar a estabilidade. Se o erro foi teu em recomendá-la como tua
sucessora, por que te empenhas em pôr abaixo o trabalho do jovem Levy?
Há muitas
nuvens no teu horizonte. Em 2002 conseguiste alcançar a ambicionada meta. Mas
hoje discutimos muita coisa que ainda te diz respeito, e que se refere ao
Petrolão, em que ainda é preciso desvendar um segredo que para muitos já não o
é.
Nunca se
terá visto coisa similar, muitos se animarão a dizer. No entanto, a história é
velha senhora que nos impinge estórias incríveis, ou condena, pela ignorância,
a repetir intentos que podem acabar ou em tragédia, ou ópera-bufa. Já nos disse
outro senhor, palmilhando a mesma trilha, que ignorar o passado é condenar-se a
repeti-lo.
Por isso,
quem se aferra a subir na tribuna, que tal um momento de análise ? O que está
aí, quer queiras , quer não, não só os cartunistas, mas também o povo vai vendo
como obra em que tens muita responsabilidade.
Tu a
impingiste à Nação, como a grande gestora. No primeiro mandato, ela aprendeu
certas coisas, mas desfez muitas outras. E não só pôs a perder aquela conquista
da nacionalidade – que o PT não teve a grandeza de assumir como também sua –
mas aprontou um sem número.
No teu primeiro
mandato, um ministro se foi como se fora chefe de governo. No teu segundo,
vendeste a mulher do Lula como se
fosse primeiro ministro.
Em
política, o assim é se te parece, é máxima sinuosa, com prazo de validade
bastante curto.
Há
políticos que pensam ser o poder eterno. O seu erro está não na máxima, mas em
querer dela apropriar-se.
( Fontes: Folha de S.
Paulo, Coluna R. Noblat, O Globo )
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