Ausência de Joaquim
Levy
Joaquim
Levy está realmente gripado, mas esta não foi a razão da cadeira vazia
por ocasião do anúncio do corte no orçamento, que foi referido pelo blog de ontem (Exigências fortes para
Governo fraco).
Como é seu feitio,
tendo mais respeito à própria biografia do que a contingências de partido, o
Ministro Levy quis marcar posição sobre suas divergências em relação ao tom do Ajuste
e do cenário fiscal, que considera bem mais sombrio do que aquele apresentado
pelo Governo Dilma II.
Não é só no
Planalto que uma eventual saída do chefe da equipe econômica, sobretudo no
atual cenário, seria vista como desastrosa. Sem querer pôr panos quentes, Levy
gostaria que os parâmetros do contingenciamento fossem mais duros, bem como a
mensagem geral sobre a situação econômica.
Nesse
contexto, Levy já mencionara em reuniões internas que a estimativa da receita
para 2015, de R$ 1,158 trilhão está superestimada, mas prevaleceu o vezo
oficialóide de adotar números mais inchados, para pintar com cores otimistas situação
que nada tem de brilhante. Parece que ao Planalto interessa mais números no
estilo Guido Mantega... Mesmo com a inevitável ulterior lesão à credibilidade.
Não há dúvida
de que a fraqueza do Governo Dilma
acaba com as defesas do Governo, e a consequente crescente arrogância da antiga
base aliada (inclusive nas fileiras do PT). Poucos no Congresso, assim como de Virginia Woolf, têm medo de contrariá-la. A demagogia tem
campo livre em um claudicante Palácio do Planalto. Note-se, por exemplo, a recente “bondade” da
Câmara em termos das regras do notório fator previdenciário. Com as mudanças no
mecanismo, votadas tanto pela aliança demagógica de PT-PTB e a incrível
cambalhota do PSDB (que na gestão FHC criara o tal fator), a previsão dos
expertos na área é que com tal descarada demagogia em menos de uma década o
regime da previdência ficará insustentável.
Nesse
aspecto, seria mais do que interessante, e sim cogente e oportuno que os
senhores deputados fossem informados, quando da tal votação, de o que ocorreu
recentemente com os serviços previdenciários de países da União Europeia (como
v.g. Portugal), em que a irresponsabilidade econômico-financeira deixou a
Previdência de mais de um país em situação de insolvência, vale dizer sem poder atender ao que os preclaros
representantes do Povo tinham disposto.
Por último,
parece que o estreito círculo do Governo Dilma não está mais levando tão a
sério a aquiescência do Ministro Joaquim Levy.
Como assinala a seção econômico-financeira da Folha, o Ministro da Fazenda pedira que a MP que
aumenta de 15% para 20% a taxação dos bancos via CSLL (Contribuição Social
sobre Lucro Líquido) fosse editada não de imediato. Levy queria mais tempo para
dialogar com o setor financeiro e evitar
uma taxação surpresa.
Mas – terá
sido o velho populismo ? - a Presidenta
e o Ministro Aloizio Mercadante foram contra. Nada de favores a banqueiros.
Dessarte, a MP foi publicada no “Diário Oficial” da sexta feira, dia mesmo do
anúncio do corte...
Na minguante
dílmica corte, o favorito continua sendo Aloizio
Mercadante. Não que tenha tido muito
sucesso ultimamente. Lembram-se da confusão armada pela eleição – surpresa para
o Planalto! – de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ?
Pois Mercandante continuou a
embalar sua Raínha com douradas novas da eleição de Arlindo Chinaglia (PT),
que, em relação a nomes anteriores, era um nome que prometia. O problema se
cingia em que a situação mudara e o favorito Mercadante terá mantido a
esperança da sua Chefe, a despeito da realidade... E deu no que deu. Aquele foi
o primeiro sinal negativo de uma comovente série que então se encetava.
E agora, esse patético núcleo duro de um
Palácio sempre mais assediado, acha que é
hora de contrariar Joaquim Levy? Pensam,
acaso, que vão ficar bem na foto se ele sair batendo a porta?
No sistema penal
americano, em juízo de competência de tribunal de júri, após o indiciamento
pelo promotor, a decisão para o julgamento precisa ser confirmada pelo grand júri.
Nas mortes de
afro-americanos provocadas por políciais americanos neste ano, esta é a
primeira em que o pré-indiciamento pelo promotor foi corroborado pelo grand jury. Nesta última quinta-feira,
21 de maio, segundo informou a promotora
Marilyn J. Mosby, o grand jury aprovou acusações similares
àquelas feitas por ela.
A acusação
mais grave recai sobre o motorista da van
– o oficial de polícia Caesar R. Goodson Jr.-, inculpado de homicídio em
segundo grau, de má-fé, com agravante de caráter doloso (depraved heart murder).
O
afro-americano Freddie Gray morrera
a dezenove de abril, em decorrência dos maus tratos recebidos quando foi
algemado no piso da caminhonete, logo após a detenção a que não opôs
resistência. Apesar de seus pedidos de ajuda, o motorista da van, - o qual verificou,
por mais de uma vez, a sua condição - nada fez para sanar o grave incômodo e
agudo mal-estar que a posição em que fora colocado no chão do veículo lhe
estava causando. Por causa dessa iterada crueldade, o prisioneiro quando chegou
ao destino estava in articulo mortis.
Os serviços do hospital para o qual foi transferido conseguiram reanimá-lo, mas
as lesões provocadas pelo comportamento da polícia e em particular do motorista
Goodson
Jr., foram irreparáveis, o que foi comprovado pelo óbito de Freddie
Gray.
O Fenômeno Trem-Bala ou da
Incapacidade de Realização
Nem mais parece que um
Presidente logrou construir uma capital no decurso do próprio mandato, assim
como conseguiu que os elos rodoviários com Brasília fossem terminados no prazo,
como ocorreu com a Rio-Brasil e a Belem-Brasília. Os sacrifícios foram enormes
para implantar a determinação constitucional da Carta de 1946.
Dom Bosco teve a visão profética que prefigura
o grande centro das decisões nacionais em local hoje marcado por um pequeno
santuário. Dali, o visitante poderá descortinar a realidade urbana de hoje, com
alguns dos edifícios e monumentos que marcam a grande empresa de JK.
Não mais
os brasileiros continuariam a arranhar as costas como caranguejos, na frase
célebre de Frei Vicente do Salvador. A importância de demandar os sertões e
abrir o continente brasílico já era sentida em 1627. Como nos escreve Jaime
Cortesão, o grande historiador português, que foi por nós asilado, durante
período da ditadura Salazar, já nos fala
dos padres-matemáticos, a par das entradas e bandeiras que desbravaram a terra
ignota dos sertãos. O próprio Pedro Teixeira, em expedição famosa, saída do
Maranhão, assustou as autoridades quitenhas, ao atravessar a bacia amazônica.
A coragem
e o empreendimento desse pioneiro provocaria, no lusco-fusco da União
luso-brasileira, a cólera do Conselho de
Índias, pois lhes desagradava deveras o destemor do explorador Pedro Teixeira,
chegando aos sonolentos domínios de Castela, às vésperas do término da União
peninsular. Se Portugal se tornou herança de Felipe II, ao cabo da calamidade
de Alcácer-Quebir, e a morte do jovem Dom Sebastião, sessenta anos depois o
Duque de Bragança, em 1° de dezembro de
1640 proclama a independência do Reino, e assume o nome de D. João IV.
Pelas
notícias, no entanto, da mídia, essa capacidade de realização, que tanto
assinalou os luso-brasileiros vem fazendo muito falta nesse século XXI. A tal
ponto, que se tornou recurso bastante corriqueiro da mídia apresentar, em
diversa ordem de grandeza, geringonças abandonadas, todas elas visando a
objetivos meritórios para as populações concernentes.
Não é só
do famoso trem-bala, que os arautos governistas tanto anunciaram. Dessa magna
obra, que por ora está no papel e na delirante imaginação de políticos, nada há de concreto. Sem embargo, de
ferrovias e de um novo curso para o rio São Francisco – tão criticado por quem
mais conhece essa grande artéria fluvial – estão a céu aberto com as obras
inacabadas (posto que há muito anunciadas).
O
espírito de JK – que partilhava a coragem e a capacidade de tantas entradas e
bandeiras – parece que recolheu-se às Alterosas, porque não é mais visto por
aí.
Só
permanecem os restos da incompetência, ou da cobiça, ou daquela velha
malemolência que marcava a figura do caboclo, que parecia satisfeito com os
apertos e inconvenientes da própria centenária miséria a que fora confinado...
( Fontes: Jaime Cortesão; The New York
Times; Folha de S. Paulo )
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