A Parada de Putin
O Dia da Vitória é o feriado russo mais importante no aspecto
secular. Ele comemora o longo padecimento da URSS sob o ataque nazista, além de
acentuar o papel da Federação Russa, como força de paz e segurança.
Refletindo o crescente enfoque
belicista utilizado pela presidência de Vladimir
Putin, a parada deste ano
representou o maior desfile militar encenado pelo Kremlin desde o colapso da União Soviética, no início dos anos
noventa do século passado.
Não foi decerto por acaso que o governo
Putin pôs em campo um grande número de soldados, sem dúvida para sublinhar a
força de seu exército. Se constitui, sob certo aspecto, uma visão um tanto
retrô de desfile militar, cuidou-se também dos progressos tecnológicos do
poderio do urso russo. Passaram pela Praça Vermelha – que nos recorda o
triunfalismo dos espetáculos passados, sob as vistas do Politburo reunido no
monumento dedicado a V. Lenin – tanques de alta sofisticação. Em especial, o
tanque Armata arrancou muitos
aplausos. Também desvelado por primeira vez o pesadão e lento lançador de
mísseis ICBM (intercontinentais) RS-24 Yars, apresentado ao povão junto outros
novos e menores veículos militares.
Na sua fala para as tropas e os veteranos
reunidos, Putin disse que a carnificina
do último conflito mundial sublinha a importância da cooperação internacional,
mas “em passadas décadas vimos tentativa de criar um mundo unipolar”.
Essa frase – que é óbvia indireta
contra os Estados Unidos – tem sido usada amiúde pelo atual regime russo.
Pode-se, outrossim, ler na quase
completa ausência de líderes europeus da cerimônia um reflexo da atmosfera
glacial provocada pela a guerra não-declarada, mas bastante manifesta de Putin
contra a Ucrânia (já lhe arrancou em abril de 2014 a península da Crimeia, o
que fez despencar sobre esse território antes ucraniano, uma série de sanções
para marcar este grave crime contra o direito e os tratados internacionais).
Somente o grande vizinho a oriente, Xi
Jinping, presidente da República Popular da China, dentre os grandes
desse mundo, compareceu.
É de notar-se que não será sem
efeitos negativos internos para o Império russo que continuará o ataque à
vizinha Ucrânia. Embora almeje emular a antiga União Soviética, um perfunctório
exame nos atuais mapas políticos mostrará que o reino de Putin encolheu deveras
em relação à antiga segunda Superpotência.
Com a queda no valor do barril de
petróleo, que é a principal mercê de suas exportações, o esforço bélico
continuará a exigir prestações da economia russa que hão de provocar inflação
interna, além de eventual descontentamento, sobretudo se aumentarem os
regressos das chamadas ‘bodybags’ de voluntários russos para o solo da mãe
pátria.
É interessante recordar que Boris
Nemtsov, ex-primeiro ministro de Ieltsin, homem honesto e popular, recentemente assassinado nas cercanias da
Praça Vermelha, por um contract-killer
(matador contratado) ainda não identificado, pretendia realizar na mesma semana
comício de repúdio à guerra da Rússia contra a Ucrânia.
O próprio discurso de Putin, acusando indiretamente
Washington de querer monopolizar o poderio militar mundial, parece já sofrer da
doença infantil de Estado insatisfeito com a respectiva situação.
Ele sofre de grandiloquência dos que
buscam lugar ao sol, ou substituir-se aos destroços da União Soviética, abatida
pelo princípio das nacionalidades, que tanto preocupara Vladimir Lenin a ponto
que confiasse a Joseph Stalin a responsabilidade da pasta encarregada das
diversas nacionalidades que compunham o Estado comunista. Só alguém com a
paranoia, a maldade, a crueldade e a determinação do antigo seminarista seria
capaz de desempenhar o encargo com êxito.
Putin pode até pensar em reverter o que
ocorreu em 1992. As condições, no entanto, mudaram bastante. A sua sinuosa, mas
contínua, agressão à Ucrânia faz parte desta sede de recuperar o fastígio
anterior.
Não será pela fraqueza e a tentativa de
composição com o Senhor do Kremlin que se conseguirá aplacar-lhe a ânsia de
transformar a Rússia de hoje, justamente apodada por Obama de poder regional para uma eventual
potência mundial (e atente o leitor que não agrego super à potência).
Ao lado do Império dos tzares (hoje, a
despeito dos esforços de gospodin
Putin, com reduções substanciais), a oriente surge o velho Império do Meio. Não
é por acaso que Xi Jinping é o mais importante conviva do feriado do Dia da
Vitória. A RPC é hoje tão ou mais
ditatorial do que a Rússia, e dispõe de PIB que se aproxima do da atual
superpotência. Aí está o poder que se contraporá ao americano no curso deste
século XXI. Para o bem da Humanidade, importa que esse prélio seja pacífico e
se limite à economia, à ciência e tecnologia, e às letras.
Seria de todo interesse para Beijing
que a China se tornasse mais aberta e democrática, como a deseja o prêmio Nobel Liu
Xiaobo, que hoje está trancafiado em masmorra interiorana. O poder
chinês nada ganha com o aferrolhar por Xi Jinping das poucas liberdades que
lá persistem. No início do século passado, a Imperatriz Ci Xi acabara de instituir a democracia coroada. Não foi por culpa
sua, e sim das Parcas, que o respectivo projeto não vingou.
Por isso, é importante que a
democracia volte para a China. Quanto à Rússia, a cleptocracia de Putin – tão
bem analisada por Karen Dawisha – não é decerto a chave do futuro.
O regime democrático – e não o
autoritarismo vigente em Moscou, que, ao parecer, precisa de guerras e
anexações de terras alheias para projetar-se – seria também com um bom
governante oportuna benesse para esse grande país.
O
Porsche para a Socialite
Continua a repercussão do empréstimo-amigo, concedido
pelo então Presidente do Banco do Brasil e hoje, por determinação de D. Dilma,
presidente da Petróleo Brasileiro S.A., Aldemir Bendine, à sua cara amiga, a
socialite Val Marchiori.
Por sua ordem,
e driblando regras internas do B.B., concedeu-se R$ 2,79 milhões à Torke
Empreendimentos, empresa registrada em São Paulo por Marchiori.
Aprovado o limite de crédito de R$
3 milhões, com recursos do BNDES, subsidiados pelo governo a juros de 4% a.a.,
foi dada a luz verde para a aquisição de cinco caminhões, em abril de 2013.
Liberado o dinheiro pelo B.B. em agosto, o valor da aquisição ficou abaixo do
limite, em R$ 2,79 milhões.
Com a sobra restante do limite de
crédito, Val Marchiori pediu para ampliar
e usar o valor restante do limite de crédito (cerca de R$ 200 mil) para a
compra de carro de passeio (um Porsche branco).
A solicitação foi feita, apesar de o BB não costumar
autorizar o uso de “sobras” de limite de crédito para finalidades distintas do
objeto de financiamento. Mas não foi o que ocorreu.
Val conseguiu o financiamento
desejado. O banco, no entanto, disse que o financiamento não empregou recursos
do BNDES.
Como assinala a Folha, Aldemir
Bendine e Val Marchiori são amigos. Assinala-se que a socialite se hospedou no
mesmo hotel utilizado pelo presidente do BB, durante duas missões oficiais
desse Banco, uma na Argentina e outra no Copacabana Palace, no Rio. Bendine observa que a estada nos mesmos
hotéis, e nas mesmas datas, foram tão somente coincidências.
Não obstante, segundo se noticia, a
operação é alvo de inquérito da Polícia Federal, aberto a pedido do Ministério
Público Federal em São Paulo.
Luiz Fachin, a indicação de Dilma
A tarda indicação por Dilma Rousseff para o Supremo do
advogado Luiz Fachin continua a levantar indagações, que pela consistência
reclamam a atenção da cidadania.
Ao invés da linha dos nomes propostos por
Lula, que seguia as oportunas sugestões do recentemente falecido e ex-Ministro da
Justiça, Marcio Thomaz Bastos, a abalada
Presidenta resolveu apresentar um nome polêmico para substituir o Ministro
Joaquim Barbosa, e depois de oito meses, a ponto de provocar a cólera do
Ministro Celso de Mello, decano dos membros do STF.
Apesar de colher o apoio de
dois senadores tucanos do Paraná, Luiz Fachin está longe de ser uma indicação tranquila.
Já não surpreende muito essa assistência, pois foi um deles que aprovou no
passado a discutível indicação feita por
Lula da Silva de Dias Toffoli, que,
além de haver sido auxiliar de José Dirceu na Casa Civil, tinha sido reprovado
em dois exames para juiz simples.
Pesam contra o senhor Fachin
várias questões. No passado, em intervenção gravada, ele pediu votos para a
candidata de algibeira de Lula, Dilma Rousseff.
Seria também próximo do MST.
Há outros possíveis
impedimentos, que revestem gravidade, e que foram levantados pela reportagem de capa da
revista VEJA, que ora está nas bancas:
(a) A Comissão de Constituição e Justiça do Senado deu parecer
sobre a ilegalidade cometida por Fachin, que, quando no cargo de Procurador do
Estado do Paraná, continuou exercendo a advocacia privada;
(b) Fachin é favorável à poligamia. Tal pode ser
interpretado como desafio à legalidade da família monogâmica, modo de união da
imensa maioria dos casais brasileiros?
(c) Fachin tem amiúde demonstrado o seu desprezo pelo
preceito constitucional que garante a propriedade privada no Brasil. Cabe
perguntar se ele se sente apto a interpretar e, assim, ajudar a transformar a
Constituição?;
(d) Se chegar ao
STF, Fachin continuará advogando pela desapropriação de terras produtivas para
fins de reforma agrária, com o confisco de propriedades sem indenização?
O Senado que julga as propostas do
Presidente para novos ministros do Supremo tem um histórico desapontador, em
matéria de negações de novos membros. Só há uma exceção, que foi para derrubar
proposta de Floriano Peixoto, que indicara um médico para o Supremo da época.
Esta foi a única negativa, em mais de cem anos.
Creio que chegou a oportunidade de quebrar
essa tradição de governismo agudo.
( Fontes: New York Times; CNN; Karen
Dawisha, Putin´s Kleptocracy; Jung
Chang – Imperatriz Viúva Ci Xi; Folha de S. Paulo; O Globo; VEJA)
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