O antigo bipartidismo inglês – já contestado na última eleição, com a aliança entre conservadores e liberais-democratas – corre o risco de ser desmentido de modo mais fragoroso nos comícios desta quinta-feira, sete de maio.
O problema
com os conservadores começa com o seu líder, David Cameron. Largando
antigas bandeiras como participação mais intensa na União Europeia – com sinais
nada animadores, mais preocupados com o crescimento de contestações
anti-européias – e com perfil algo decepcionante se comparado com outros
moradores no passado de Downing Street 10, Cameron mesmo assim lidera.
No entanto,
não logrando congregar alianças em torno do Partido Conservador, ele está
politicamente isolado. Os próprios aliados formais, os liberais-democratas de Nick
Clegg, avaliam acordo com os trabalhistas e ... o Partido Nacional da
Escócia.
Assim, se os
conservadores terão entre 270 e 280 cadeiras no Parlamento, estão longe de alcançar
a maioria absoluta para o governo (326 em
um total de 650).
Os liberais
de Clegg, como o parceiro júnior no gabinete atual, não têm mais a força de
2010, e correm risco de sofrerem pesadas perdas. Voltariam, assim, aos
patamares históricos do partido, desde que, com o crescimento dos trabalhistas,
em princípios do século XX, perderam o anterior espaço, quando alternavam
maiorias com os conservadores.
Há outro
desenvolvimento que pode ser preocupante. Os independentistas escoceses do SNP (Partido Nacional da Escócia) que,
após o otimismo inicial quanto ao triunfo no referendo, amargaram inequívoca
derrota, poderiam agora, através da votação surpreendente que lhes é prevista
nas sondagens retomar a marcha batida
para tentar recriar a velha (e pequena Escócia). Essa fragmentação secessionista
dentro da U.E. – de que, na Espanha, a Catalunha é o
principal exemplo – pode receber forte empurrão se o SNP for na prática o
grande vitorioso no pleito da quinta-feira. Tal ocorreria se conseguissem
eleger para Westminster cerca de cinquenta dos 59 assentos alocados à Escócia. Como os liderados de Nicola Sturgeon estão mais interessados
em desestabilizar o gabinete conservador, a sua eventual participação ao lado
dos trabalhistas seria apenas um exercício de oportunismo. Votariam por Ed Miliband, mas não participariam do
gabinete. Como aos secessionistas escoceses não interessam governos estáveis no
Reino Unido – a que se opõem – a sua aliança com o Labour é vista apenas como instrumento na caminhada pela
restauração plena da pátria de Mary Stuart.
O
nascimento da Princesa Charlotte
Para os
rituais prognosticadores do desaparecimento da realeza como instituição
política na velha Inglaterra, a atitude de seu povo, ao saudar com entusiasmo
mais um nascimento real – desta feita o da princesinha Charlotte -, neste
último sábado, como sempre na centenária e provada showmanship da dinastia. É ritual
que mantém a própria atualidade, e,
nesse sentido, continua largamente
popular. Ao vê-lo , não se tem a
impressão de que estaríamos vendo antigas formalidades da monarquia. Basta
contemplar o jovem e sorridente casal William e Kate Middleton, para que se
tenha noção de quão imbricado essas apresentações reais se inserem no dia-a-dia
da monarquia, como se verifica na dignidade a um tempo simples e cativante que
foi exibida aos súditos pelo sorridente
casal real.
O jovem
matrimônio, com jovialidade e naturalidade, caíu nas graças do povo
britânico. Não é muito difícil que isso ocorra, tão entranhada está a monarquia
nos costumes dessa peculiar ilha.
A esse
propósito, nos anos cinquenta do século passado, o deposto rei Faruk do Egito,
perguntado por repórteres acerca da sobrevivência da monarquia como instituição,
disse o que não é exatamente apenas um dito irônico: no futuro haverá cinco reis, os quatro do baralho e o da Inglaterra.
( Fonte: Folha de S. Paulo )
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