Os resultados do primeiro
trimestre de 2015, com a divulgação dos dados do IBGE, já eram esperados. A
retração da economia, para senti-la, não se carece de estatísticas. Ela é
visível em toda parte, com as férias coletivas e a profusão de ofertas pela
indústria automobilística, que, sem embargo, não conseguem esvaziar os pátios
das fábricas. Também o consumo das famílias, tangido pelo incremento da
inflação, se retrai. E a ciranda continua nos anúncios e nas liquidações que
não motivam os compradores, e, em consequência, o desemprego aumenta, e não só
nas chamadas ‘feitorias’ que são as sucursais das grandes marcas europeias e
japonesas que, em outros tempos, serviam para encher o caixa das matrizes em
crise.
Diante do
desafio da queda no consumo, serão de pouca valia as chamadas promoções, as
datas trazidas às pressas da atividade comercial de além-mar, e a enxurrada de
propaganda com que estabelecimentos às moscas se lançam na busca frenética de artigo
de repente em exacerbada escassez: o
freguês, ele próprio com o fantasma
do desemprego a rondar-lhe a porta, transfere as compras supérfluas para um
futuro menos incerto.
Seria a
classe política a única a talvez se locupletar com esse clima de tempos ruins, tempi bui (tempos escuros), como diriam
os primos italianos, que em tantos aspectos – nos bons e nos maus – se assemelham
à nossa gente.
Dessa
feita, porém, não há nada no estrangeiro – a grande recessão nos Estados Unidos,
v.g. – que sirva de desculpa à la carte para a classe política do PT
que, contra vento e maré, continua no poder. Por quanto tempo, já é outra
estória.
Assim, não
há jeito de transferir para os estranjas a má-surpresa da crise estourada com a
falência do Banco Lehman Brothers e todas as irresponsabilidades
que cercaram a inchação do mercado das hipotecas, incentivada pela insana especulação
de Wall Street.
A nossa ressaca o mago Lula chamou de ‘marolinha’. Não foi tão reles quanto o torneiro-mecânico
tentou empulhar ao mercado de Pindorama, pois a causa de além-mar, com as
devidas atenuações, existia.
Hoje, a
recessão na economia que se prefigura só tem uma causadora primária, e as suas
iniciais são... Dilma Rousseff. Se se
quiser ir um pouco além, chafurdar um pouco mais nesse fétido lodo, há um grande
responsável, além da aprendiz de feiticeira que o povo brasileiro elegeu em 2010.
Esse
senhor continua muito presente no grande palco do Brasil. A sua
responsabilidade é grande, pesada mesmo, porque não trepidou em indicar alguém
para o seu lugar, que ele sabia não ter condições de preenchê-lo.
Não direi
que Lula da Silva fosse um gigante
na cadeira presidencial. Não foi por acaso que José Dirceu, no discurso de
despedida, quando teve de sair à carreiras do Planalto, escorraçado pelo
escândalo do Mensalão, reportou-se ao “meu
governo”, como se dele fosse a responsabilidade executiva de tocar a alta
administração.
Lula
mostrou ser um mestre na própria salvação in
extremis. A princípio, choramingou
na mídia, e pediu desculpas. O tempo e o Rio
do Letes – que, por aqui, tem efeitos miraculosos – cuidaram de que
sobrevivesse, vencendo o rival tucano da vez.
Vimos há
pouco que a verdade para ele pode ser compartimentada, desde que soprada para o
companheiro de lutas sindicais na Banda Oriental.
Não há
dúvida que além de mestre na sobrevivência, terá visão um pouco elástica dos
canais de financiamento político.
Mas a sua
atividade não se confina a essa capacidade imitada de Penélope de tecer de
noite o que desfará no dia seguinte.
Contudo,
e data vênia, sobre seus ombros recai a responsabilidade do quadriênio
desastroso da pupila Dilma Rousseff. Pensando em si – e só em si, ele a
apresentou ao Povo brasileiro como a candidata ideal.
Começava, então, a famigerada série dos Postes, com que ele designa as pessoas que, como Coronelão
supremo, indica para que o Povão eleja. Note-se, porém, que sobretudo no caso
em tela, ele o fez pensando passar o governo para quem o restituiria,
transcorridos quatro anos. Errou, porque
menosprezou a força inercial da
Presidência. E, assim, a discípula pôde, contra vento e maré, e a custas de
mentiras mil, reeleger-se, ainda que por
escassos três por cento!
Escarmentada, com as feições contraídas, no gesto o temor dos escândalos
que não mais pode confinar no cercado do
silêncio, a arrogante, menosprezante
Dilma dos debates, que a tudo de ruim afastava, logrou manter-se na cadeira.
Para salvar-se,
convocou a Joaquim Levy, a quem ora
presta o apoio que pode para que ele a
salve da rocha Tarpeia[1] do
Impeachment, e de outros percalços,
enquanto ruge a plebe ignara e se desembesta o mar proceloso das assembleias,
em que cada dia trata de estender-lhe a mão.
Mas
em meio à Tempestade, enquanto a discípula se esfalfa em luta ingente, não é
que o Grande Líder, com o pó de perilipinpim,
tenta fazer com que o seu amado povo se olvide de que essa infernal herança de
um mau quadriênio, nós a devemos ao seu egoísmo. Em quatro anos apenas, a
grande chefe e gestora logrou com loucuras várias, como relançar a inflação,
destrambelhar a economia e atacar o Plano
Real e a sua chave de abóbada – a Lei de Responsabilidade Fiscal – criar as
crises do presente, como esta vítima atual da inflação alta e da consequente baixa
propensão ao consumo – em que são pavimentadas as vias expressas da Carestia e
da Estagnação econômica.
Ora,
dizei-me. Pode-se responsabilizar quem
não estava preparada para tal desafio? Será que também na crise presente – e há
outras que tentam fugir da foto – pode-se em sã mente dizer que ela, a fiel
secretária do Máximo Líder, é na verdade a responsável por tudo de ruim que ora
nos cai na cabeça?
[1] Rocha Tarpeia – rochedo na
colina do Capitólio, de onde, na Antiga Roma, eram lançados os assassinos e os traidores.
( Fontes: O Globo, Monteiro Lobato, Abel Gance )
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