Dilma
Rousseff, que hoje não dará as caras, nem na tevê, quebra ritual da
Presidência da República desde Getúlio
Vargas (que fazia o discurso de primeiro de maio no Estádio de São
Januário, então o maior no Rio de Janeiro). Ao invés de aparecer em cadeia,
temendo o panelaço, ela usará a internet,
em três vídeos, de que a peça de destaque será o aumento do salário mínimo.
Ao resolver
não enfrentar a reação da cidadania, sem querer Dilma sublinha uma até hoje
ignorada timidez, eis que no primeiro mandato a presidenta usara e abusara da
faculdade de convocar rede televisiva (e radiofônica) para os respectivos
pronunciamentos.
Esse abuso –
que alguns de seus antecessores não haviam
imitado – não deveria caracterizar as intervenções presidenciais. Quando
o primeiro Magistrado da República vem a público comunicar algo aos concidadãos, deveria fazê-lo em poucas
datas, como a de hoje (dia do trabalho), a da República e a do Natal. Poderia ter, assim, quota de
cinco alocuções (essas três e mais duas, se houver necessidade), mas nunca o
túrgido número de seus discursos anteriores,
que empregava muita vez com visível abuso e mal disfarçado escopo
político-partidário.
Aliás, isso
de autoridade convocar rede nacional é um traço terceiro-mundista de que o
Brasil faria bem em desfazer-se. Nesse
contexto, antes de passar a coisas de maior monta, a propaganda política pelos 32 partidos (e continuam crescendo!) é desrespeito
à inteligência e ao merecido lazer da cidadania. É mais do que tempo de dar um
basta a essas aparições de partidos corruptos, insignificantes ou até de
legendas de aluguer, que, no cúmulo da ousadia, se colocam no horário hiper nobre
do público, como se as palavras vazias e as bobajadas desta gente devesse pautar-se pelo
máximo incômodo a quem tem mais o que fazer. Falando em terceiro-mundo, eis que
ele aparece com fantasia completa, ainda por cima graças à mal avisada sentença
do Supremo não consentindo sequer o limite do bom-senso à explosão de legendas
que ora nos toca suportar. O Supremo,ao enveredar pela supressão de qualquer
limite aos partidos, esqueceu-se da máxima aristotélica do bom senso, que nos recomenda
o emprego do meio termo. Os ministros deveriam ter olhado para o número de
partidos que contam em grandes democracias ou então se perguntar se a cláusula
de barreira na Alemanha (5%) a torna suspeita de lesa-democracia...
Que o
leitor me perdoe haver fugido por instantes da camisa-de-força do tema único.
Enquanto o
PSDB – como lhe é consueto – se debate na discussão interna se caberia ou não
recorrer ao impeachment, tentemos
acompanhar como vão as coisas em Pindorama.
A CPI da Câmara já parece haver perdido a paciência com a Petrobrás. Não é que
desde fevereiro último ela busca em vão acesso às atas das reuniões do Conselho
de Administração da estatal, de 2003 a 2012 (ou em outras palavras, com a entronização
do PT na República, a base das discussões e decisões na Petróleo Brasileiro
S.A.). No entanto, se deseja conhecer da
motivação de tais decisões, é bom saber desde logo que as gravações das
reuniões feitas no período sob investigação foram destruídas. Hoje a Petrobras
afirma que isso é praxe.
Como as
aludidas atas só contêm decisões e não as razões que as motivaram – sem falar
sequer de eventuais argumentos contrários – pode tirar o cavalinho da chuva
quem pensa aí topar com motivações dos grandes da Petrobrás, como uma senhora
que foi por largo período Presidente do Conselho de Administração...
De
qualquer forma, se a Petrobrás persistir no seu corpo mole, já nesta
segunda-feira a CPI pedirá a competente busca e apreensão pela Polícia Federal
na sede da Estatal.
É compreensível,
portanto, que haja quem sinta cheiro de Watergate nessa pressurosa eliminação
de gravações de reuniões.
Como os rios
que correm para o mar, se acumulam as suspeitas contra o Partido dos
Trabalhadores e de sua candidata no que tange ao último pleito.
Assim,
como se assinala em O Globo, na Justiça
Eleitoral, devido à revelação “de fatos gravíssimos” relativos às contas da
campanha presidencial de 2014, o Ministro Gilmar Mendes, do TSE, “prorrogou por
um ano a decisão que obriga que os arquivos eletrônicos da prestação de contas da presidente e do
comitê financeiro do PT em 2014 fiquem disponíveis no site do tribunal”.
Por
outro lado, segundo a mesma fonte “o Tribunal de Contas da União enviou para o Ministério Público as conclusões de
uma auditoria sobre as chamadas ‘pedaladas fiscais’, para ver se estão
caracterizados crimes, que podem definir o crime de responsabilidade da presidente Dilma, do ex-ministro da Fazenda
Guido Mantega ou de dirigentes do Banco do Brasil e da Caixa Econômica.”
Deve
assinalar-se que o PT é acusado de usar gráficas para lavar dinheiro, tanto nas
contas anuais, quanto nas da eleição de 2014. Assim, a Gráfica Atitude, cujo endereço é o mesmo do Sindicato de Metalúrgicos
do ABC, teria sido usada em operações de lavagem de R$ 2,4 milhões. Note-se,
a propósito, que parte da propina paga para Renato Duque, então
diretor de Serviços da Petrobrás, foi direcionada por empresas do grupo Setal
Óleo e Gás, controlado por Augusto Mendonça, para essa Editora Gráfica Atitude Ltda., a pedido de João Vaccari Neto, então
como se sabe Tesoureiro do PT.
Outro
dado de sumo interesse, no que concerne à campanha de Dilma Rousseff, no
passado ano de 2014 “outra gráfica, a VTPB, teria recebido R$ 22,9 milhões da
campanha de Dilma Rousseff para impressão de folhetos.” No entanto, há um
pormenor de sumo interesse: “no seu endereço não há gráfica nenhuma. A
explicação oficial é que ela servia de distribuidora dos serviços para outras
gráficas, que imprimiriam os pedidos do partido, o que está gerando suspeita,
de lavagem de dinheiro.
Nesse
contexto, o TSE condenou também o PT a multa de R$ 4,9 milhões por
irregularidades nas contas do partido em 2009.
(a continuar)
( Fontes: O Globo,
coluna de Merval Pereira )
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