quinta-feira, 30 de abril de 2015

A Rainha Fraca


                         

       O Google me relembra o que escrevi no blog em 2008, então a respeito da seleção: um fraco rei faz fraca a forte gente. Esse verso camoniano, Brizola o citava amiúde. E ele, infelizmente, continua atual, feita a mudança de gênero.

       Assim, o Banco Central eleva mais uma vez a Selic, a taxa básica de juros em nossa economia, que salta de 12,75% a 13,25 ao ano. Haverá decerto choro e ranger de dentes. É a quinta alta consecutiva acordada pelo Copom (Comitê de Política Monetária) e o maior patamar desde janeiro de 2009.

       Note-se que tal nível nos transporta à grande crise global, desfechada pela consentida falência do Banco Lehman Brothers.  Como a inflação continua subindo – ultrapassou os oito por cento a.a., como ontem assinalado – o único instrumento de controle ativo da carestia é a taxa de juros do Banco Central.

       Com isso se desestimula o crédito bancário, eis que os financiamentos se tornam mais caros. Em época recessiva, o vale de lamentações – sobretudo sindicais – há de tornar-se mais vocal.

       Há muito anunciada – e com as suas feias feições à mostra – a inflação continua subindo, máxime no ramo dos serviços, que é o que mais pensa ganhar à custa da carestia. Volta aquela que nunca partiu – e eis um dos erros do Plano Real – a sopa indigesta dos números da profusão de índices. O dragão que nos infernizou a vida nos anos oitenta e noventa, acreditamos que fosse partido.

       O problema de seu renascimento se deve sobretudo ao egoísmo de Lula da Silva, que impingiu ao eleitorado brasileiro o primeiro poste (dos quais até pouco ele se gabava), eleita em 2010 o que os nordestinos chamaram com irônica presciência de a Mulher do Lula. Criatura dele, pensara quem sabe instituir por aqui  o Maximato de Plutarco Elías Calles no México.  Com uma presidente fraca, pensara continuar governando.

         No que deu, sabemos nós muito bem, talvez demasiado bem. Mas não adianta chorar sobre o leite derramado. O único propósito seria que não o derramássemos mais.  Sem embargo, com a ajuda do marqueteiro João Santana e do aparelhamento do Estado – não se esqueçam do direito de resposta que o TSE negou à Marina, que sequer absurda acusação pôde rebater – Dilma logrou superar, com mentiras e cara de pau, a barreira do segundo turno, vencendo por 3% o antagonista Aécio Neves.

         Aí, os deuses quiseram que os céus caíssem só depois da suada reeleição. Comprovadas as mentiras e descobertos os escândalos – notadamente o Petrolão – a antiga motoniveladora do primeiro mandato transformou-se em tratorzinho de segunda mão, incapaz de arar tanta desconfiança e tanta raiva do povão, ao sentir-se mais do que engodado, ludibriado.

         E o derretimento de Dilma Rousseff ainda não terminou.  Se o PSDB de Aécio se decidir pelos ínvios caminhos do impeachment ainda é um segredo do Olimpo. O retrospecto não é bom, porque essa grei às vezes mais detesta o companheiro de partido do que o adversário político. E por isso pode ser presa fácil – como o foi com Lula da Silva em 2006 – e então por que não  seria de novo?

           A fraqueza da timoneira é um peso, menos para o Partido dos Trabalhadores (que de alguma forma a inventou) do que para a Nação brasileira.

           Dessarte as maiorias de papier-maché que o mago Lula e a magna gestora Dilma construíram se desfizeram no primeiro embate congressual. Eduardo Cunha e o PMDB varreram com facilidade o candidato da suposta maioria, Arlindo Chinaglia (PT/SP). Desfeito o sonho, nossa rainha caíu no inferno astral, em que hoje se debate.

           Nunca, em tão pouco tempo, a primeira mandatária da Nação mergulhou em tal pântano. A  ponto de ver-se tangida a terceirizar o poder, que entrega nas mãos do PMDB, seja com Cunha e Renan, no Legislativo, e  Michel Temer, como coordenador político. A todos esses movimentos, correspondera uma ação inicial do Planalto, eivada da medíocre incompetência, seja de áulicos, seja de canastrões.

           Na Fazenda, está o competente Joaquim Levy (e no Planejamento Nelson Barbosa).  Mas a falta de liderança de Dilma Rousseff e a fraqueza de seu governo, ativa a formação de blocos e facções contrárias, que já não lhe temem. A situação falimentar da economia – que forçou a convocação de Levy – carece de um ajuste fiscal.  Para implementá-lo, no entanto, careceríamos de uma Presidente com força e liderança, e essa pelo visto sumiu depois do triunfo nos dois turnos (e os escândalos como contraponto)

             Assim, como bem resume a Folha, caíu de R$ 18 bilhões para R$ 7,7 bilhoes a economia que o governo petista pensara realizar em 2015, com mudanças nas regras de acesso a benefícios sociais (nos governos anteriores de Lula e Dilma se multiplicaram as benesses de forma inaudita, que não se vê alhures)

             Com a inaudita fraqueza de Dilma, a negociação coube ao Ministro da Fazenda, que se tinha a energia, não possuía os votos para montar o Ajuste em termos cabíveis e suportáveis pela economia. Assim, a economia prevista – e necessária – para repor a economia em condições só terá efeito em 2016.

              Por outro lado, cai de R$ 18 bilhões para R$ 7,7 bilhões a economia prevista pelo Governo em 2015, com as mudanças nas regras de acesso a benefícios sociais.

              Juntam-se fraqueza governamental e demagogia anterior, e continua por isso o risco de o país perder o selo de bom pagador volta a galope, nas palavras do Ministro Joaquim Levy.

               Mas a aliança da turminha parlamentar e das centrais sindicais acredita na chamada da Terra da Cuccagna, que não ficaria só na Itália. Tudo ela pode dar, mesmo sem trabalho e sem a devida economia. Para eles, na fábula, quem leva a melhor é a cigarra e nunca a formiga...

 
( Fontes:  Folha de S. Paulo,  O  Globo )

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