sábado, 18 de abril de 2015

A longa espera de Loretta Lynch


                                

          Em fim de mandato, com pouco mais de ano e meio pela frente na Casa Branca, a paciência do 44° Presidente dos Estados Unidos se esgotou. Há praticamente seis meses que os senadores republicanos cozinham a avaliação de Loretta Lynch, candidata a sucessora do Procurador-Geral dos Estados Unidos, Eric  H. Holder Jr. 

          Nesta sexta-feira, Barack H. Obama convocou uma entrevista de imprensa na Casa Branca acerca do tratamento a que vem sendo submetida a mulher negra, que tem respeitável folha de serviço como promotora e administradora no distrito leste de New York. A sra. Lynch possui sólido apoio das forças de segurança policial e de grupos de direitos humanos.

          O tratamento dado pelo novo Líder da Maioria no Senado, o republicano Mitch McConnell, do Kentucky (o mesmo - lembram-se? – que, enquanto líder da minoria na Câmara Alta, dissera ser a meta do GOP derrotar Obama na eleição de 2012, de maneira que ele não passasse de presidente de um só mandato) à questão da avaliação e votação das condições de Loretta Lynch de se tornar a primeira afro-americana Procuradora-Geral dos EUA como no mínimo de benigna negligência.

          Reservar esse tipo de tratamento, caracterizado pela procrastinação, não indica respeito pelos direitos da minoria negra, mormente em se tratando de designação de grande peso, de uma profissional altamente capacitada. Se tivermos presente, que o próximo ano é de eleição presidencial, e que há grande probabilidade de que Hillary Clinton seja a nominee (a candidata indicada) será que interessaria à nova maioria republicana no Senado ser lembrada como a causadora do malogro de uma indicação de alto relevo ministerial de parte de afro-americana altamente qualificada? Sobretudo, se – como acentua o artigo do New York Times – levarmos em conta a situação sofrível do Partido Republicano com os votantes das diversas minorias (negros, latinos, pobres e idosos)?

          O rompante do Presidente Barack Obama na entrevista da Casa Branca espelha um raro momento de raiva ainda que controlada, do primeiro mandatário negro nos Estados Unidos, que se assinala em geral por atitudes comedidas, em que o temperamento domina o recurso ao afeto[1].  Compreende-se por que razão a sua paciência chegou ao limite. Na declaração, com voz alterada, disse por duas vezes ‘enough’, que nesse contexto se traduziria por ‘basta!

           Mitch McConnell tem, por repetidas vezes, condicionado a realização das audiências para examinar formalmente a oportunidade da nomeação da Senhora Loretta Lynch, a que determinadas questões que contêm cláusulas inaceitáveis para os democratas (o Senado precisaria aprovar primeiro projeto sobre tráfico humano, que contém cláusulas sobre aborto que são recusadas pelos democratas).  A princípio se pensara que as postergações do tema da nomeação de Loretta seria um modo de o novo líder da maioria afirmar-se.  Com a continuada manutenção da candidata a Attorney General em estado de contínua e inútil espera, o Presidente Obama – que com a perda da maioria no Senado se viu despojado de grande parcela de poder – declarou em alto e bom som que a recusa do GOP de abrir a votação na questão Loretta Lynch era ‘embaraçosa’, como exemplo de sectarismo pela maioria republicana. “Há momentos em que a disfunção no Senado vai longe demais. Este é um exemplo disso. Já se foi longe demais. Basta! Basta! Convoquem Loretta Lynch para a votação. Providenciem a sua confirmação. A ponham em exercício! Deixem-na fazer o seu trabalho.”

      Com esse controlado ataque de nervos, ainda que destituído do poder que lhe conferia a anterior maioria do partido no Senado, Obama traz para os anais da política uma cena única em sua já longa presidência, em que se mostra colérico, posto que não se duvide que se trata de controlada explosão temperamental. Que o faça em momento quando não mais tem os votos dentro da própria bancada no Senado para implementar a medida em apreço põe a nu o desafio afrontado, em que o aparente descontrole não passa de recurso retórico para frisar a importância da questão e  o quanto a continuada negligência republicana pode resultar como problemática e mesmo perigosa em termos eleitorais para o Grand Old Party do Senador Mitch McConnell. Pois ao tentar tosquiar em demasia o Partido Democrata e a sua competente candidata a Procuradora-Geral, quem arrisca sair tosquiado nesse dissídio é o Partido Republicano.

 

( Fonte:  The New York Times )



[1] Termo freudiano em que as diversas emoções estão compreendidas.

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