Como o leitor do blog se há de recordar,
atravessei todo o primeiro mandato de Dilma Rousseff a reportar a crescente
ameaça da inflação.
A princípio a
novel presidente parece ter acreditado que seria possível controlar a carestia
com frases de efeito (ou que julgava serem de efeito), em que afirmava, em tom
retórico, que não seria admitida por seu governo a volta da inflação.
Trocando em
miúdos, Dilma acreditava – ou desejava fazer acreditar – que para manter o
maldito dragão à distância, bastariam frases peremptórias, em que explicitava a
sua postura política de não admitir de forma alguma a coexistência com essa
besta-fera que fora tão presente em décadas passadas. E, como se tal não fosse
bastante, tratava de enxertar enérgicos adjetivos às fórmulas encantatórias,
com que o seu retórico combate à carestia surgisse da forma mais enérgica
possível.
Ora, nós
sabemos bem, que muitas coisas não funcionam contra a inflação. A par dos
programas heterodoxos, tampouco afetam o dragão as enfáticas fórmulas de
linguagem. Para ser justo, creio que nem ela acreditava na eventual força desse
combate através da retórica. Para as gerações, como a nossa, curtida por essa
luta sem fim contra um processo que corrói tanto o dinheiro do povo, uma tal
assertiva há de provocar seja um sorriso irônico, seja um esgar de mau humor, seja
até um sonoro palavrão.
Não há nada mais
firmado e estabelecido do que a responsabilidade de Dilma Rousseff em
desmantelar o Plano Real e, sobretudo, trazer de volta o dragão.
Não foi do
dia para a noite, e nem faltaram advertência, que foram crescendo no respectivo
diapasão, à medida que se concretizava o esdrúxulo resultado de destruir uma
conquista da nacionalidade – que foi o Plano Real – e trazer, como consequência
lógica e siamesa, o retorno da carantonha inflacionária, tão bem retratada pela
remarcação frenética nos supermercados, pela exploração desenfreada nos
diversos serviços, e pelo cruel encolhimento da renda e dos salários das
classes remediadas.
Quando penso
nesse desastre que devemos agradecer a Dilma Rousseff – que além de ser
proclamada mãe do PAC, goza agora do pleno direito de intitular-se quem nos trouxe
a inflação de volta.
Não é coisa que se goste de reivindicar. Esse estigma do
Dilma I continua a incomodar-nos, nos
primeiros vagidos do Dilma II.
As novas da
imprensa são acabrunhantes. Assim, o IPCA (índice de preços ao consumidor)
fechou o mês passado em 1,32%, o patamar mais alto para um mês de março desde
1995. Naquele ano, é bom lembrar, a perspectiva era de tempos melhores, pois o
país mal saía da hiperinflação, e adentrava o Plano Real (rejeitado, como é
notório, pelo PT). De resto, esse partido nunca nele acreditou, chegando a contestar-lhe a sua chave de
abóbada, a Lei da Responsabilidade Fiscal, no Supremo Tribunal Federal (no
Dilma I começaria obra cara ao PT de então de desestabilizar a LRF...) .
E
continuemos com a maldita sopa de números. A inflação de março foi a maior
desde fevereiro de 2003, que foi de 1,57%, sendo esta um efeito pós-posse de Lula,
com a povoação nervosa sobre a posição do novo governo com relação ao Plano
Real (que tanto combatera no passado).
Mas as más
notícias não ficam só por aí. A inflação
acumulada em doze meses chega a 8,13%,
que está mais uma vez acima do teto da meta fixado em 6,5%...
A inflação
se acerca perigosamente dos 10% (dois dígitos), o que representaria um senhor empecilho para o
crescimento econômico.
E note-se
que a carestia se expressa em mais de uma maneira. Em um clima de alça, os
serviços de hoje e do passado inflacionário tinham o vezo de recorrer a
incrementos de dez por cento, para proteger-se do dragão. Na verdade, com bem
se sabe, estamos em jogo de tolos, em que mesmo os mais espertos são
punidos pela carestia.
Ao
aumentar, de orelhada, os preços, eles criam novos parâmetros – a inflação de
dois dígitos e ei-nos de novo na maldita ciranda, em que os nossos salários
congelados continuam na melancólica baixa de poder aquisitivo, e todos os
outros fenômenos correlatos dessa praga reaparecem.
E a quem
devemos a inflação? Se me permitem completar o número de suspeitos, eu os
resumiria a dois: Dilma Rousseff, que
por uma política insana, nos trouxe de volta para a ciranda; e Lula da Silva, por tê-la recomendado para a
Presidência, pensando recandidatar-se em
2014. Apesar de reeleita, Dilma nos deixou má lembrança do primeiro mandato, a
começar pela carestia. Lula, então com o poder de eleger postes,
deveria ter submetido ao nosso Povo candidato que melhor enfrentasse o desafio
Brasil.
( Fonte: O
Globo )
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