terça-feira, 14 de abril de 2015

Do significado da Coleira

                                  

         Lembram-se da estória da conversa entre um cachorro nédio e um vira-lata magricela?

         Vai mais ou menos assim: o bicho gordo e lustroso vê passando em frente sua casinhola velho conhecido, com pelo desgrenhado e ar meio cansado.

         “Como é que cê vai?”

         “Assim, assim...”, responde, meio-desanimado, o vira-lata.

         “Francamente, não te entendo...”

          “Tô vendo que as coisas andam bem pra ti”,  suspira, desalentado, o cão de rua.

          “É verdade... E não me falta nada...”

           Admirando-lhe o aspecto, o olhar do vira-lata se detém na fita de couro lustroso, que o seu conhecido leva no pescoço.

            “O que é isso?”, pergunta ele.

            A indagação perturba o outro.

            “Nada de mais...”

            “Podia me dizer o que é?”, insiste o vira-lata.

            Com ar meio desenxabido, o cachorro gordo confessa:

            “É uma coleira. Serve para atar a correia quando o dono me leva com ele...”

             “Ah, agora entendi... A coleira é a marca do dono e da tua falta de liberdade...”

                                                     *               *

             A fábula é antiga, mas a sua veracidade continua nossa contemporânea.  Exemplo disso foi o comportamento da Controladoria-Geral da União. Apesar de haver recebido a 27 de agosto de 2014 de Jonathan Taylor, ex-executivo da empresa holandesa SBM, um dossier com provas de corrupção entre a Petrobrás e a dita SBM, a saber contratos com o lobista Julio Faerman, elo entre as duas empresas, a CGU só divulgou o processo a doze de novembro.

             Para o delator J. Taylor, o atraso da CGU foi proposital, com o escopo de evitar quaisquer danos à campanha de reeleição de Dilma Rousseff.

              Apesar do nome pomposo, a autonomia da Controladoria-Geral da União depende da escala hierárquica.  Uma reles ONG teria outra desenvoltura, porque não tem satisfações a dar a ninguém, salvo à própria consciência...

 

( Fonte: Folha de S. Paulo )  

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