domingo, 26 de abril de 2015

Colcha de Retalhos C 15

                                      

Lula e a Lava-Jato

                      
               Ultimamente há muita coisa no ar, e tal não se limita aos aviões de carreira, para lembrar o sempre oportuno Aporelly.

               A Veja que está nas bancas volta a acenar com a possível implicação de Lula na operação Lava-Jato.

               Uma vez mais, se repete o sensacionalismo da chamada de capa: “Exclusivo Operação Lava-Jato – EMPREITEIRO ARRASTA LULA PARA O MEIO DO ESCÂNDALO”.

              Mas ainda na capa, o leitor atento terá indicações de que as coisas não estão  nos finalmente:

               “Preso, Léo Pinheiro, da OAS, ameaça contar à Justiça o que sabe sobre  petrolão – e seu alvo é o ex-presidente”

                Anteriormente o cenário não foi muito diverso  com o empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, que continua preso (por ameaçar uma testemunha) e faz ameaças veladas, inclusive deixando escapar pistas dos danos que pode causar a Lula e outros poderosos. Mas até o presente, como no caso hodierno, não há nada de concreto.

 

Será que o 7x1 vai passar em branca nuvem ?

 

                   Que o futebol brasileiro já não apresenta a excelência da seleção de 1970, não é mistério para ninguém. Chegou-se, inclusive, a convocar para técnico o conhecido Dunga, que falhara estrepitosamente na Copa da África do Sul. Por motivos ignotos, com exceção de uns poucos bom jogadores, ele parecia não querer muitas estrelas no time, e quando bateu a sorte madrasta, no jogo com a Holanda, em hora difícil diante da expulsão (merecida) de um jogador, ele olhou para o banco e não havia ninguém (que estivesse à altura).

                   Por enquanto, as coisas avançam nos conformes na atual seleção, que tem vencido todos os confrontos (alguns importantes, como Argentina e França).  Mas Dunga continua a prestigiar a base que foi derrotada (e vexaminosamente) pela Alemanha.  Tem chamado um que outro valor, mas a minha pergunta é por que não  Ganso, que traz um aporte que não apareceu na Copa do Brasil (era grande a dificuldade da seleção municiar o ataque).

                   Refiro-me a um jogador de meio-campo, que faça a ligação com o ataque. Todos sabemos que Dunga não gosta de grandes craques. Talvez porque não tenha sido um, e mesmo assim participou do tetra. Mas ali, não se esqueçam, havia Romário, Bebeto e Taffarel.

                    Se Zagalo, por exemplo, se tivesse guiado pelo realismo e não por questões pessoais, Romário teria sido mantido na seleção e talvez a final com a França terminasse de outro modo.

                    Se a Copa no Brasil mostrou alguma coisa, é que os nossos craques escassearam. Ficou impossível ganhá-la apenas com um grande jogador. Aliás, desde o começo, com a pífia apresentação perante a Croácia, a seleção já mostrara que seria difícil levar o caneco, com scratchs como o da Alemanha e o da Holanda, justamente os dois que nos venceram.

                    Mas tudo continua na mesma. A CBD continua a cuidar de forma feudal  de nosso futebol.  O Sete a Um não aconteceu por acaso. A Alemanha já mostrara com Portugal como atua se o time adversário não dá atenção especial à defesa.

                    A modestíssima Argélia – e não é a primeira vez que a isso me refiro – deu uma senhora surpresa no bicho-papão teutônico em Porto Alegre. Com jogadores limitados, mas esforçados e integrados em ótimo esquema tático, neutralizaram durante os dois tempos regulamentares o esquadrão germânico. Além disso, com plano de ataques pelas pontas, levaram por vezes perigo à fortaleza alemã.

                    E o técnico da seleção argelina tinha uma equipe incomparavelmente inferior aos adversários, mas que cumpria, com lealdade na cancha, os ditames do seu orientador, e se houve de tal forma, que foi abraçada pela torcida gaúcha, tão surpresa quanto eu, da maneira com que os argelinos – que não são exatamente grandes azes – conseguiram controlar o bicho-papão da RFA, que ao entrar em campo o fez com a arrogância de quem espera impor goleada ao time adversário.

                    A lição que nos deu a seleção argelina foi simples, Para enfrentar a Alemanha, se precisa ter uma idéia  na cabeça, e executá-la com firmeza. A lição de Glauber vale para o futebol.

                    O futebol brasileiro continua a exportar muitos jogadores e a ornar o Bayern, o Barcelona e os times ingleses e franceses, entre outros, com bons elementos. Mas a seleção não é mais aquela de 1970, sem falar na de 1958.  Neymar era seu único grande valor  e, quando se depende de um só, fica mais fácil para as botinadas dos adversários desleais, como essa última Copa quase mostrou (porque com a Colômbia, por exemplo, a boçal deslealdade com Neymar não seria determinante para o resultado).

                    Com o desastre de Belo Horizonte – e o fato de havermos sofrido a maior goleada da Copa do Brasil  -  tudo continua como dantes no quartel de Abrantes.

                    Longe, muito longe da necessidade de que se analise e se faça um exame de fundo na situação, continuamos com a CBF ancien régime[1]. O Senhor Marco Polo del Nero sucede a José Maria Marin, que tinha substituído Ricardo Teixeira, o ex-genro de Jean Marie Havelange. Os paredros do futebol parecem configurar  uma aristocracia que nada ou muito pouco tem a ver com o realidade e os desafios do Brasil como potência  nos campeonatos mundiais. Não é por acaso decerto que somos o único país que esteve presente em todos os mundiais, e que por outro lado fornece jogadores a diversas seleções que atuam nas Copas, inclusive com trocas de nacionalidade à última hora.

                     O esquema Felipão foi construído em base de um sonho – i.e., a repetição de 2002, quando vencemos a Alemanha na Final.  Mas apesar de não trazermos Romário, tínhamos Rivaldo e Ronaldo, que, no ataque, bastaram para o penta.

                     Agora, é estranhável que depois do desastre de Belo Horizonte, continuemos o esquema anterior, como se a goleada humilhante de sete a um (e os alemães, segundo declararam muito depois, tiveram pena do time canarinho e, por isso, não forçaram mais para que a humilhação não passasse para o achincalhe) fosse um simples acidente de percurso.

                      É notório que há um ambiente circense a rodear a seleção. Os comentários são de cortesão. Entramos em campo sem esquema defensivo para valer. Felipão mostrou estar superado pela catástrofe. Enquanto a pequena Argélia perderia da pujante Alemanha por 2x1 (todos os gols feitos na prorrogação), a nossa defesa ruíu por inteiro e em cinco minutos, quatro gols foram marcados, tornando a partida praticamente um jogo amistoso, eis que tudo já estava decidido.

                      Felipão se mostrou totalmente perdido – porque a velha máxima do pugilismo vale também para o soccer: só se vai  a nocaute por um soco que não se sabe de onde saíu – e nada fez para remontar os pedaços que restavam de o que era apresentado como o favorito para a Copa...

                      Se a desmoralização do técnico e da seleção, no próprio campo nacional, pelo maior escore de toda a Copa, não é reputada como bastante para a convocação dos estados-gerais do futebol, com uma discussão para valer sobre o quê fazer, e ao contrário, se opta silenciosamente por mais do mesmo, o que se pode esperar da próxima Copa?...

 
( Fontes: VEJA; O Globo, Rede Globo: Folha de S. Paulo )



[1] Velho regime. A comparação implícita com a Revolução Francesa não é decerto por acaso.

Um comentário:

Maria Dalila Bohrer disse...

O meu desgosto com a desconstrução do futebol brasileiro fez com que eu não tome conhecimento das movimentações da atual seleção. Para mim é como se não existisse.