quarta-feira, 22 de abril de 2015

O Esvaziamento de Dilma Rousseff

               

        Não me apraz escrever estas linhas. Os meus leitores são testemunha que, quando possível, e levado por essa má conselheira que atende pelo nome de esperança, escrevi blogs em que a elogio, e lhe faço bons votos.

        Não que sejam muitos esses artigos, mas sou brasileiro, e confesso que gostaria de um sucesso seu, se tal redundasse em favor de nosso país.

        Mas os erros, ela os comete a mancheias.  O primeiro mandato, em outro país a teria condenado. Aqui, suas loucuras e prodigalidades foram apresentadas por paisagista de primeira, e as eventuais críticas cerceadas pela autoridade competente, que, dentro do atual aparelhamento dos órgãos públicos, cuidou de evitar que candidata de oposição dispusesse sequer de direito de resposta à propaganda enganosa.

       A par disso, a cara de pau funcionou, a mentira desassombrada armando as negativas, e as promessas... ah, as promessas, delas cuidam para mais além do dia em que o diploma já está na bolsa.

       A reeleição é invenção do diabo, sobretudo em país subdesenvolvido. É a grande aliada dos titulares em exercício. Grande corruptora, para quem postula ser reeleito, já costuma sair na frente nesse páreo, e ele (ou ela) carece de ser muito ruim para perder  reeleição.

       Embora o seu primeiro mandato não tenha sido maravilha, por subterfúgios, marqueteiros e prazos, ela logrou cruzar a meta com pequena vantagem, porém suficiente para garantir-lhe o segundo mando.

       Nessa eleição, estava decerto presente o deus ex-machina que é padroeiro dos que postulam o segundo mandato.  Ela devia o primeiro ao seu criador Lula da Silva, que nutria muitas dúvidas sobre a sua continuação. Dilma, no entanto, deve tal benesse ao singular achado do próprio benfeitor, que, na propaganda, a promoveu de chefa de gabinete a gestora de governo. Pensava o fundador do PT que a sua escolha o garantiria quatro anos depois. Ledo engano! Ao alçar às alturas a neófita política, cuidava de ter controle no próximo encontro com as urnas.

       Lula, o magnífico, esqueceu-se, porém, de dado importante. Ao designá-la e entronizá-la, ele cedia o respectivo poder à criatura. Valendo-se, então, dessa mesma força e respectiva aura presidencial, Dilma sabia que disporia do empurrão  da continuação, estando já nas alturas. E, numa lição amarga e sobretudo inesperada ao criador e mestre, ele teve de consolar-se com a condição (que abraçara voluntariamente em 2010),  de ex-mandatário.

       Agora, lançados os dados, a sorte muda de aspecto, e mais aparece como velha desgrenhada, que rola no brejo das pesquisas, as quais soem trazer os erros, cabeludos ou não, do primeiro mandato da Presidenta.

       No governo inicial, encetado sob a expectativa que cerca, ansiosa, os neófitos, ao invés de acertos, ela acumulou erros e falsas promessas. Se o pior viria depois, a sua fé de ofício já registrava a volta da inflação, que muitos julgavam exorcizada pelo Plano Real.  Pensando que tal programa fosse coisa de partido – o detestado PSDB – e não obra da Nação, de forma tão ruinosa quão irresponsável, passou a empregar a retórica para combater  a carestia, enquanto se divertia em plantar ventos que breve virariam tempestades.

         Conseguindo postergar pelo tempo necessário o relógio das críticas e da verdade, ela continuou pensando estar no poder. Sem dúvida, Dilma Rousseff permanece como moradora do Alvorada, e primeira funcionária no Palácio do Planalto.

         Sem embargo, da margarida do mando efetivo, neste momento lhe resta pouco. Perdeu primeiro, por inépcia política de seus favoritos, a presidência na Câmara, que passou a um desafeto seu.

         Em seguida, a sua trajetória imita o desfolhar daquela flor. Se antes tivera de convocar para a Fazenda e o Planejamento, técnicos respeitados, com a missão de desfazer o que aprontara no quadriênio passado, os malogros no Congresso, e a frágil construção de sério candidato ao mais medíocre dos gabinetes da República, lhe iriam afundando a barca e a constrangendo a melancólicos recuos.

        Se há uma terceirização discutida em Câmara e Senado, a Presidenta do primeiro mandato se viu forçada a terceirizar as respectivas funções, passando ao Vice-Presidente  Michel Temer o encargo de negociar o apoio no Congresso.

        De repente o presidencialismo da Constituição Cidadã de Ulysses Guimarães, vira parlamentarismo. Dizer que os escândalos – de que o Petrolão, pela irresponsabilidade de lançar a Petrobrás nesse beco infame, conserva a primazia – circundam esse governo do PT, é dizer pouco.

         Na verdade, eles estão na sala de espera. Do colarinho branco aos desgrenhados, tanto a sua paciência, quanto o trabalho da Justiça, ou aparecem em polvorosa, ou avançam em rumos que nada de bom semelham prometer para a ainda flamante segunda administração de D. Dilma Rousseff.

 

( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )

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