Não me apraz escrever estas linhas.
Os meus leitores são testemunha que, quando possível, e levado por essa má
conselheira que atende pelo nome de esperança, escrevi blogs em que a elogio, e lhe faço bons votos.
Não que sejam
muitos esses artigos, mas sou brasileiro, e confesso que gostaria de um sucesso
seu, se tal redundasse em favor de nosso país.
Mas os erros,
ela os comete a mancheias. O primeiro
mandato, em outro país a teria condenado. Aqui, suas loucuras e prodigalidades
foram apresentadas por paisagista de primeira, e as eventuais críticas
cerceadas pela autoridade competente, que, dentro do atual aparelhamento dos
órgãos públicos, cuidou de evitar que candidata de oposição dispusesse sequer
de direito de resposta à propaganda enganosa.
A par disso, a
cara de pau funcionou, a mentira desassombrada armando as negativas, e as
promessas... ah, as promessas, delas cuidam para mais além do dia em que o
diploma já está na bolsa.
A reeleição é invenção
do diabo, sobretudo em país subdesenvolvido. É a grande aliada dos titulares em
exercício. Grande corruptora, para quem postula ser reeleito, já costuma sair
na frente nesse páreo, e ele (ou ela) carece de ser muito ruim para perder reeleição.
Embora o seu
primeiro mandato não tenha sido maravilha, por subterfúgios, marqueteiros e
prazos, ela logrou cruzar a meta com pequena vantagem, porém suficiente para
garantir-lhe o segundo mando.
Nessa eleição,
estava decerto presente o deus ex-machina
que é padroeiro dos que postulam o segundo mandato. Ela devia o primeiro ao seu criador Lula
da
Silva, que nutria muitas dúvidas sobre a sua continuação. Dilma, no
entanto, deve tal benesse ao singular achado do próprio benfeitor, que, na
propaganda, a promoveu de chefa de gabinete a gestora de governo.
Pensava o fundador do PT que a sua
escolha o garantiria quatro anos depois. Ledo engano! Ao alçar às alturas a
neófita política, cuidava de ter controle no próximo encontro com as urnas.
Lula, o
magnífico, esqueceu-se, porém, de dado importante. Ao designá-la e entronizá-la,
ele cedia o respectivo poder à
criatura. Valendo-se, então, dessa mesma força e respectiva aura presidencial,
Dilma sabia que disporia do empurrão da
continuação, estando já nas alturas. E, numa lição amarga e sobretudo
inesperada ao criador e mestre, ele teve de consolar-se com a condição (que
abraçara voluntariamente em 2010), de ex-mandatário.
Agora, lançados
os dados, a sorte muda de aspecto, e mais aparece como velha desgrenhada, que
rola no brejo das pesquisas, as quais soem trazer os erros, cabeludos ou não, do
primeiro mandato da Presidenta.
No governo
inicial, encetado sob a expectativa que cerca, ansiosa, os neófitos, ao invés
de acertos, ela acumulou erros e falsas promessas. Se o pior viria depois, a
sua fé de ofício já registrava a volta da inflação,
que muitos julgavam exorcizada pelo Plano Real.
Pensando que tal programa fosse coisa de partido – o detestado PSDB
– e não obra da Nação, de forma tão ruinosa quão irresponsável, passou a
empregar a retórica para combater a
carestia, enquanto se divertia em plantar ventos que breve virariam
tempestades.
Conseguindo
postergar pelo tempo necessário o relógio das críticas e da verdade, ela
continuou pensando estar no poder. Sem dúvida, Dilma Rousseff permanece como
moradora do Alvorada, e primeira
funcionária no Palácio do Planalto.
Sem embargo,
da margarida do mando efetivo, neste momento lhe resta pouco. Perdeu primeiro,
por inépcia política de seus favoritos, a presidência na Câmara, que passou a
um desafeto seu.
Em seguida, a
sua trajetória imita o desfolhar daquela flor. Se antes tivera de convocar para
a Fazenda e o Planejamento, técnicos respeitados, com a missão de desfazer o que
aprontara no quadriênio passado, os malogros no Congresso, e a frágil
construção de sério candidato ao mais medíocre dos gabinetes da República, lhe
iriam afundando a barca e a constrangendo a melancólicos recuos.
Se há uma terceirização
discutida em Câmara e Senado, a Presidenta
do primeiro mandato se viu forçada a terceirizar
as respectivas funções, passando ao Vice-Presidente Michel Temer o encargo de negociar o apoio no
Congresso.
De repente o
presidencialismo da Constituição Cidadã de Ulysses Guimarães, vira parlamentarismo.
Dizer que os escândalos – de que o Petrolão, pela irresponsabilidade de
lançar a Petrobrás nesse beco infame, conserva a primazia – circundam esse
governo do PT, é dizer pouco.
Na verdade,
eles estão na sala de espera. Do colarinho branco aos desgrenhados, tanto a sua
paciência, quanto o trabalho da Justiça, ou aparecem em polvorosa, ou avançam
em rumos que nada de bom semelham prometer para a ainda flamante segunda administração
de D. Dilma Rousseff.
( Fontes: O Globo,
Folha de S. Paulo )
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