Reeleita com três por cento
de maioria, através da votação do Nordeste e do Norte do Brasil – o que
representa, em grande parte, o aporte da Bolsa-Família
– o segundo mandato de Dilma Rousseff surgiu como resultado
de eleição apertada, porém inconteste na afirmação da vontade majoritária do
Povo brasileiro.
Sem
embargo, a opinião pública, nos escassos meses subsequentes, foi afrontada pela
exposição de mentiras e falsidades da candidata do PT, na sua propaganda
política, orientada pelo experto marqueteiro João Santana. Ajudou deveras na
desconstrução da candidata Marina Silva, a série de mentiras (nas próprias palavras da então
representante do PSB) que foram lançadas pela publicidade da Presidenta contra
Marina. Tais mentiras ou deformações não
puderam ser contestadas de forma efetiva por uma série de circunstâncias
adversas: o megatempo eleitoral da
candidata do PT contra o ridículo espaço dado à representante oposicionista; a
negação pelo TSE de direito de resposta de Marina contra assertiva
manifestamente falsa da dílmica propaganda (dar autonomia ao BC seria tirar a
comida da mesa do pobre...); e o pouco tempo da candidata do PSB contra o
excesso de tempo da candidata à reeleição. Nesse contexto, diante da postura do
TSE, pareceu à publicidade de Marina inútil postular outros direitos de
resposta.
O PT
tem dado muitas provas de que teme Marina Silva como candidata. Prova disso esteve
na contestação ao registro do partido Sustentabilidade, com muitas firmas
contestadas pelos cartórios eleitorais do ABC, em que não é mistério a grande
presença do PT na área. Há indicações de que a Rede Sustentabilidade deva
encontrar óbices para o registro pelo TSE mais uma vez. Será motivo de espécie
que tais dificuldades repontem, a
fortiori pelas seguintes razões: na terra da proliferação partidária – e disso
o eleitor tem provas por submeter-se a propagandas dos 32 partidos já
acreditados legalmente, muitas de pobreza vizinha da indigência na expressão de
ideias e programas. Será que o veículo proposto por Marina provoca temor pelo
caráter carismático da candidata, sua oposição visceral ao PT, pela honestidade
dos princípios, e pela circunstância de sua progressão inatacável na política,
e não por último, pela origem indígena e afro-brasileira?
Mas
deixemos o parêntesis de Marina – como uma oportunidade perdida desta feita, o
que não quer dizer que a sua ida para o Palácio do Planalto esteja vedada – e lancemos
um olhar sobre a desconstrução do segundo mandato de Dilma Rousseff.
A crise por ela enfrentada, os
panelaços que se sucedem, o êxito inconteste da primeira manifestação nacional
do Fora Dilma!, e a perspectiva de outras, como a marcada para este fim de
semana, não bastariam para explicar a série de erros consubstanciado no início
deste segundo mandato.
Obtido pelo que foi definido um estelionato eleitoral – as mentiras de
sua propaganda do primeiro e do segundo turno que só o pós-eleição desvendaria - cresceu com a impopularidade da reeleita
Presidente o espectro do impeachment, que é alimentado pelo escândalo da
Petrobrás e os sucessivos desmentidos pela realidade dos fatos de suas assertivas
nos debates e nas promessas eleitorais.
No entanto, a desconstrução da Presidenta tem recebido
uma preciosa ajuda da própria mandatária, em uma sequência de erros e de
escândalos que lhe tem corroído com inaudita rapidez os totais da respectiva
popularidade, hoje refletidos pelo Datafolha e o Ibope em números que a põem na
incômoda companhia do antecessor
Fernando Collor.
Por
outro lado, nunca um presidente se tem mostrado tão inepto no exercício das
próprias prerrogativas. O último erro esteve na maneira em que conduziu a
exoneração de Pepe Vargas no intuito de indicar a Eliseu Padilha. Agindo de forma desastrada, deu oportunidade
a que este último recusasse a oferta presidencial, o que um Primeiro Mandatário
deve sempre evitar, menos por orgulho próprio, do que pela preservação da
dignidade das respectivas funções e de sua atribuição de nomear ministros.
Esse
conjunto de trapalhadas – que vem caracterizando a sua ação em muitas
oportunidades – levou a um resultado inesperado e inaudito. Dilma confiou ao
Vice-Presidente, o tarimbado político peemedebista Michel Temer, a função da
articulação política.
Não é
pouca coisa. Temer é o sucessor natural da Presidenta, e pela sua posição no
PMDB pode agora exercer ainda mais poder de o que vinha fazendo. Não é por
acaso decerto que o sardônico Chico Caruso, em sua caricatura hodierna, pinte
Michel Temer empertigado e envergando a faixa presidencial...
Como
isso vai terminar só Deus sabe. Vemos a
Dilma como um fantasma da afirmativa e tonitruante Presidente do primeiro
mandato. Cercada pela Casa Civil, em que
o amigo Mercadante tem funções administrativas, e vendo ao longe a mirífica
base partidária despedaçada ao sabor da má política e por força de adversários
com fins próprios e considerável experiência no mister – Renan Calheiros
no Senado e sobretudo Eduardo Cunha na Câmara – lá se vai
o sonho da maioria-carimbo, servil ao
Planalto e a seus planos.
E
reconstituindo a velha imagem do retrato
de Dorian Gray, quem se animaria
a negar que a anterior, decidida e resoluta Presidenta
como que desapareceu, e no seu lugar aparece senhora subitamente envelhecida,
com o esgar de quem teme aparições ainda piores, e que é uma sombra do passado.
Quanto ao presente, colecionando votos negativos em Congresso onde o PT
e Lula acreditavam terem eleito sólida maioria, resta a fímbria de esperança, que a
todo mortal é concedida...
( Fontes: O
Globo, Folha de S. Paulo )
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