terça-feira, 7 de abril de 2015

Rescaldo da Semana

                                          

O juiz do Porsche

 
          Após ser afastado do processo contra Eike Batista – por ter dirigido o carro esporte de luxo apreendido entre os bens do empresário – e ser afastado do juízo e das próprias funções,  a situação do juiz Flávio Roberto de Souza continua a piorar. 

           Agora, o Ministério Público o denuncia por alegados crimes de peculato, falsidade ideológica e por extraviar e inutilizar documentos.

            De acordo com a denúncia do MPF-RJ, o incrível juiz Flávio de Souza usou decisões falsas e informações inverídicas, e conseguiu convencer tanto a Caixa Econômica Federal, quanto o Banco Central que o habilitaram a efetuar resgates irregulares de dinheiro apreendido num caso de tráfico internacional de drogas.  Ao todo, mais de R$ 1,1 milhão foi desviado pelo magistrado.

            O juiz, segundo a acusação, valendo-se de documentos falsos, personagens inexistentes e informações inverídicas, logrou desviar recursos  retidos na Operação Monte Perdido, ligada à ação penal contra o traficante espanhol Oliver Ortiz de Zarate Martin.

            Através de sua ação delituosa, o juiz resgatou US$ 150,617 e Euros 108.170 junto ao Banco Central. Convertida em reais (R$ 838,5 mil), ele empregou R$ 549 mil para comprar apartamento na Barra da Tijuca, que tinha o preço de R$ 650 mil !

            Posteriormente, quando a insólita tramoia veio a lume, e a aquisição indébita foi desfeita, o advogado do juiz Flávio de Souza apresentou ao TRF comprovante do depósito no montante  no valor de R$ 599 mil. O MPF pede a oitiva de oito testemunhas. Se a denúncia for aceita, o juiz se tornará réu em ação penal.

            Como se sabe, os ilustríssimos juízes gozam do privilégio de que não podem ser demitidos. Em casos de culpa comprovada, são em geral aposentados a bem do serviço público. Fala-se muito na possibilidade de que os juízes sejam tratados da mesma forma que os demais brasileiros. Até o momento – como em muitos outros temas a serem aprofundados e corrigidos – nada foi feito até o presente...

 
O Senador Corker deseja ter vista do Acordo com o Irã 

 

           Já vão longe os dias em que Barack Obama  dispunha de um Congresso com maioria democrata. Na Casa de Representantes, os democratas detiveram o controle apenas por dois anos mais, o que, no entanto, lhes permitiu aprovar importantes reformas como a da saúde, a de Wall Street e as dos fundos para reativar a economia. Desde 2011, a Câmara de Representantes dispõe de maioria republicana, e pelas razões que foram amplamente expostas neste blog a perspectiva de que o G.O.P. venha a perde-la na próxima eleição são bastantes débeis, por força do guerrymander que habilita a manutenção do controle pelos republicanos.

           Agora, chegou a vez do Senado.  O Partido Democrata, que o controlava desde o tempo de Bush júnior, perdeu igualmente a maioria na Câmara Alta. O Senador Harry Reid não é o líder que controla o Senado, tendo o Partido Republicano completado o seu cerco da administração Obama, através do domínio do Poder Legislativo.

           Por mais que se deseje dourar a pílula, esse controle através da oposição – mormente em período no qual o bipartidismo é  criatura do passado – tende a gerar problemas para a Administração democrata de Barack Obama. Se a sua atuação em termos legislativos estava mais do que cerceada, e sim bastante prejudicada pelo bloqueio exercido pela Câmara de Representantes,  a posição presidencial se vê ainda mais restringida, pelo controle do GOP do Senado e de suas Comissões.

          É neste cenário, não exatamente encorajante, que se insere iniciativa do Senador Bob Corker (Rep.-Ten), que é o novo Chairman do Comitê de Relações Exteriores do Senado.

          Corker tem fama de fazedor de acordos entre governo e oposição, nesses tempos em que o radicalismo tem substituído o antigo bipartidismo. Mas moderado ou não, Bob Corker deseja que o Senado tenha vez e voz na elaboração do Acordo Nuclear que, na prática, restabeleceria a quase-normalidade nas relações entre Washington e Teerã.

          Se em junho o acordo nuclear for firmado, decerto uma nova perspectiva se abriria na interação dos dois países, por tanto tempo inviabilizada pela confrontação existente há mais de trinta anos.

          Como há de presumir o leitor, o que Corker deseja é obrigar Obama a mandar qualquer acordo com Teerã para ser examinado e referendado pelo Congresso.

          Nesse sentido, Bob Corker tenta angariar uma coalizão bipartidária para obrigar o Presidente a submeter ao Congresso qualquer acordo firmado.  Segundo o projeto republicano, o Congresso disporia  de  janela de sessenta dias para debater o acordo, antes de votar sim ou não, ou mesmo abster-se.

          Até 30 de junho – que é a data limite para o acordo nuclear com Teerã ser assinado – o Presidente Obama trabalharia sobretudo para diminuir o número de senadores democratas que venham a apoiar o projeto de Corker.  Se a referida iniciativa republicana angariasse um número substancial de aderentes democratas, a prerrogativa presidencial de Obama correria risco de não mais ser à prova de veto, i.e., a aliança entre republicanos e democratas teria número suficiente para tornar írrito o veto de Obama.

         É pouco provável que tal venha a suceder. Sem embargo, não se pode descontar que a iniciativa republicana representa ameaça não negligenciável para o Presidente Barack Obama. Sem mais dispor de maioria no Senado, as coisas ficam mais complicadas para os democratas. Por outro lado, seria realmente lamentável que um acordo nuclear com o regime dos ayatollahs, construído com competência pelo Secretário de Estado americano, John Kerry (e contando com a cooperação da nova direção trazida pelo Presidente Hassan Rouhani) abriria óbvias perspectivas através da consequente détente para a criação de melhores condições nas relações entre Washington e Teerã países, com as previsíveis consequências de  entorno diplomático mais conducente a um melhor futuro nas relações entre os dois países.
 
( Fontes:  O Globo, The New York Times ) 

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