Infelizmente,
Congresso e Presidente acabam de nos dar mais um presente de grego. O
Legislativo deve acreditar-se como de grande mérito, pelo amargo preço que por
ele pagamos. A semente do mau exemplo vem de longa data, com as diárias em
dobro do tempo da fundação da nova Capital, supostamente para adoçar a pílula da transferência da velha capital, o Rio de
Janeiro, para a poeira e a precariedade da novacap.
Não
surpreende que, malgrado o passar do tempo e as melhores condições de Brasília,
o absenteísmo em Câmara e Senado se tornou a regra. Esse Congresso, entra
governo, sai governo, continua o mesmo. O centro de sua atividade são as
quartas-feiras. A terça é o dia da chegada, e a quinta, o da partida. A farra
das passagens continua, farra esta que se estende à representação de Brasília,
como se os deputados distritais carecessem de mais esta prerrogativa. Há um
único deputado na representação do Distrito Federal, que recusa tais
vergonhosas vantagens. Mas é andorinha solitária, que não move nem comove o
resto da bancada.
Como se tal
não bastasse, o nosso Poder Legislativo, se é um dos que menos trabalha,
aparece como dos mais bem apaniguados. Junto dele está o italiano, que também
custa muito ao próprio Erário, embora talvez trabalhe um pouco mais, pois é
difícil concorrer com o fazer nada ou muito pouco do parlamento tupiniquim.
Se alguém de
outro tempo aportasse ao nosso país, o surpreenderia o mau estado de nossas
instituições. Aqui como na Chicago
dos anos trinta, o mais predomina.
Mas decerto ele nada tem a ver com algo de bom, que se traduza em esforço, trabalho,
dedicação. Nos dias que correm, aludir a tais conceitos, é incorrer (sem
trocadilho) no risco de ser rodeado por risotas escarninhas, pela troca de entr’olhares
dos chamados cognoscenti. Em termos
de alças salariais, dá triste exemplo a pressa do Supremo Tribunal Federal, ora
encabeçado pelo Ministro Ricardo Lewandowski, com a sua presteza na proposta de
atualização dos gordos vencimentos dos membros de nossa mais alta Corte. E,
dado o sinal, logo acorrem nessa progressão as outras cortes, tanto as
superiores, quanto as inferiores, em volúpia que nos recorda os bons maus
tempos da inflação, que em má hora nos regalou de volta a Presidenta, posta em tal
poleiro por decisão de D. Lula da Silva, primeiro e único. [1]
Assim, em tempo de corrupção – e que
dúvida se pode ter, pois na série maldita do Mensalão, vem agora o Petrolão,
com todo o estrago moral e material que imaginar-se possa na terra de
Pindorama. O que esse novo Baal vai exigir como carne
sacrificial para que a sua pantagruélica fome seja por um tempo saciada, só
está escrito nos escaninhos da sorte madrasta.
Todos os que ora
mandam, se declaram sem culpa, abusando quiçá da corroída regra da presunção de
inocência. Pode igualmente despertar espécie que os que mandaram antes não dão impressão
de desejarem a correção dos costumes, tal a pressa com que acorrem uns a dizer,
sem serem para tanto chamados, que isto
ou aquilo não é crime de responsabilidade.
Mas decerto
vivemos em época madrasta, que me recorda avoengo que sardônico dizia aos seus
próximos - não chorem muito pelo que lhes ocorre, porque as coisas podem ainda
piorar. Não é que a velha regra se confirma?
Nesse incrível país dos trinta e dois partidos – diabólica fórmula que
está por trás da armação dos trinta e nove gabinetes, reeditando um país de
opereta em que nada é sério, a começar de seus mandantes.
O mais
continua, pois, a ser a grande fórmula dessa medíocre república, que semelha
ocultar-se no número para encobrir a própria inutilidade em termos de o que ter
possa de interesse público.
Que a Presidente Dilma Rousseff não se
anime a tomar grandes providências, é até compreensível pela sua esquerda
posição de dependente de Congresso que a sua chapa terá ajudado a eleger.
Dizem que terceirizou o governo e que não tem autoridade para propor a essa
maioria, hoje subordinada a Eduardo Cunha, qualquer medida que possa melhorar o
que aí está.
Na história da
República será difícil encontrar Administração que se tenha desmoralizado tão
rapidamente quanto esta.
Hoje, no dizer
de um sarcástico embaixador, ela terá dificuldade em receber com presteza o bom
e velho cafezinho, que se servia às autoridades.
Mas na escadaria que leva ao Hades – Caronte está de férias – ainda se encontram propostas condizentes
com a atmosfera política atual. Sem qualquer pejo – ou eventuais pruridos
republicanos de algum respeito – a Presidente Dilma Rousseff sancionou sem
vetos o aumento triplicado dos fundos de
todos os partidos – importantes, nanicos, de aluguel ou de vá-lá o que seja –
para engordar-lhes as vácuas inserções nos anúncios que situam sempre nos
melhores horários, para assim mostrar ao Povo Soberano quem realmente manda
neste país que cada vez mais parece ou de opereta, ou de fancaria.
( Fontes: Folha de S. Paulo, O
Globo)
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