sexta-feira, 10 de abril de 2015

A visita do Chanceler lituano


                            

          O ministro do exterior da Lituânia, Linas Linkevicius visitou oficialmente o Brasil nesta semana.

          A estranha guerra movida por Vladimir V. Putin contra a Ucrânia – a que esta coluna vem dando uma atenção, que não parece merecer do Ocidente preocupação equivalente  - foi o objeto principal da viagem de Linkevicius.

          Tendo presentes as desastradas intervenções da Presidente Dilma Rousseff, seja avalizando nas Nações Unidas a anexação da Crimeia, seja sinalizando a desimportância da Ucrânia para o Brasil, não terão constituído para o fim anunciado da visita de Linkevicius um sinal encorajante.

          Se por um lado é público e notório o pouco apreço que a Presidenta tem pelo Itamaraty e a política externa – a ponto de cortar o orçamento da Casa de Rio Branco a tal extremo, que beira o irracional, nos jogando no abismo dos devedores, sem fundos nem para pagar a contribuição para as Nações Unidas – de outro lado, ela sequer atenta para a nossa Constituição, ao ignorar os recentes atos de desrespeito ao direito internacional público por parte do presidente russo.

          O recado do chanceler lituano é previsível. No seu entender, a Europa precisa ampliar o apoio militar à Ucrânia e buscar isolar o regime de Putin, por meio da comunidade internacional.

           No presente, o que se assiste é, na prática, a inação da União Europeia. A Alemanha e a França, que participaram das negociações do cessar-fogo de Minsk (2ª Versão), por intermédio da Chanceler Angela Merkel e o Presidente François Hollande, não passaram exatamente a Putin uma linha de firmeza na defesa da agredida Ucrânia do Presidente Poroshenko.

            Em termos de ajuda militar à Kiev, a posição da Chanceler Merkel (a que adere Hollande) é de na prática negá-la, porque a assistência fica no setor humanitário, chegando ao cúmulo de sequer disponibilizar material militar de caráter defensivo.

            A esse propósito, é interessante ter presente as declarações de Linkevicius: “Não estamos fazendo o suficiente, precisamos de mais alternativas.  Precisamos fazer mais. O apoio dado ao exército ucraniano é muito débil, e as milícias pró-Rússia são mais bem equipadas que muitas forças armadas europeias.”.

            Para o chanceler Linkevicius, seria impossível e tampouco desejável o rompimento total com Moscou. Não obstante, ele está convencido de que Putin  precisa ter seus movimentos restringidos.  Nesse sentido, o ministro do exterior lituano preconiza mais sanções econômicas e o isolamento político do Russo: “Ele não pode sair em fotografias pelo mundo como se tudo estivesse dentro da normalidade.”

            Apesar de teoricamente protegidos pela participação na OTAN, os países bálticos temem  ser a próxima bola da vez no expansionismo imperialista promovido pelo regime autoritário de gospodin Vladimir Putin. Nesse contexto, carece ter presente a respectiva população de origem russa – que está sendo decerto instrumentalizada pelo Kremlin no que tange a sua guerra larvar contra a Ucrânia.  A Lituânia é a que possui a situação demográfica mais confortável, eis que apenas 6% de sua população de três milhões é de origem étnica russa. Já na vizinha Letônia, essa minoria ascende a 27% da população, e na Estônia, que é o terceiro estado báltico, este ominoso percentual vai para cerca de 25%   

               Dado o animus restaurandi do regime autoritário e cleptocrático de Vladimir Putin, essa inquietude dos países bálticos é bastante compreensível.  O que não é inteligível é a postura tíbia e pouco enérgica – que relembra a política de apaziguamento de Neville Chamberlain [1]e Edouard Daladier[2] às vésperas da Segunda Guerra Mundial – que o Ocidente vem adotando no que tange ao Senhor do Kremlin.

 

( Fonte:  Folha de S. Paulo )



 1  Neville Chamberlain (1869-1940), Primeiro Ministro inglês (1937-1939).
[2] Edouard Daladier (1874-1970), Primeiro Ministro francês (1938-1940)

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