domingo, 5 de abril de 2015

Colcha de Retalhos C 12

                                 

Guerra na Ucrânia oriental

        Há quase um ano da chamada revolta separatista na Ucrânia oriental – o que na verdade é conflito instigado pelo Kremlin, que arma e apóia os rebeldes de Donetsk e do resto do leste desse país – dada a inação do Ocidente, que não dá qualquer  ajuda militar ao país agredido, e malgrado o segundo cessar-fogo de Minsk, os combates prosseguem com o avanço da agressão patrocinada por Moscou. Assinale-se que em abril último a Rússia procedera à anexação da península da Crimeia, através de tropas com uniformes não-caracterizados.

        A partir de então, o conflito se arrasta, em que os separatistas gozam do apoio logístico e – quando colocados em dificuldade – da intervenção pontual de Moscou, que além de armas e munições, envia ‘voluntários’ quando há o risco de as forças rebeldes tropeçarem. A despeito de não ser declarada, a intervenção de Moscou é aberta e constante, equipando e municiando os destacamentos pró-autonomia ou união com a Rússia, de forma a dar-lhes condições de superar eventuais situações de crise e de avançar no território ucraniano.

        Como o exército ucraniano não recebe equipamento militar do Ocidente -  que segue a estranha regra de não dar a Kiev armas ofensivas e até mesmo defensivas – os separatistas têm avançado bastante, e ora dominam Donetsk, zona industrial importante, enquanto  buscam apossar-se das cidades de Mariupol e Luhansk, de modo a firmar a posse da área no extremo oriental, próxima à península da Crimeia, que era parte do território ucraniano desde 1954, por determinação do então líder da URSS Nikita Krushev. Hoje, excluídas sanções pontuais aos cupinchas de Putin, como diria a canção francesa, tudo vai bem, senhora marquesa...

        Bem-armados pela munificência guerreira de gospodin Vladimir V. Putin, que dá a impressão de não poupar despesas para desmembrar o vizinho ao sul, os rebeldes registram agora mais dois ataques contra o exército ucraniano. Em Mariupol, morrem dois soldados das forças de Kiev (o automóvel passara sobre mina colocada em estrada) e em Schastya, a 170 km de Donetsk, veículo militar ucraniano foi atingido por míssil, com a morte de quatro militares.

        Esta guerra de conquista – que completa um ano na próxima semana – mostra a tibieza (para usar uma palavra fraca) dos países ocidentais, com Washington à frente.  Tão timorata postura não dá decerto boas novas para os países do entorno da Rússia, que na terminologia do Kremlin são designados ominosamente como o near abroad (o estrangeiro próximo). Afinal, que motivos terão tais países – da Polônia à Estônia - para nutrir confiança em eventuais apoios futuros do Ocidente, ao depararem o ‘tratamento’ que é dado a uma nação que está entre as maiores desses infortunados vizinhos ?

  O  País do Jeitinho

 

           Enquanto a elite dominante no Brasil não passar a ser dirigente, com base em regras não só estabelecidas, mas cumpridas, haverá pouca esperança de que ultrapassemos o passado colonial, e adentremos em nova era, na qual todos os cidadãos – os comuns e os incomuns – sejam efetivamente iguais perante a lei.

           Tomemos o exemplo – que poderia ser mais oportuno – do Supremo Tribunal Federal. Na definição ímpar dada pelo Presidente Lula da Silva no que tange aos direitos e, sobretudo, à expectativa desses direitos, do então Senador José Sarney  - bastou ao torneiro mecânico para definir a posição de seu novo aliado a circunstância de que ele não era um cidadão comum. Pelo visto, esse fato lhe abria as portas do paraíso, em termos de cidadania.

           Sob a Constituição declarada Cidadã  vivemos ainda em mundo patrimonialista, em que mandam os que podem, e obedecem aqueles que têm juízo.

           Dessarte, o fato de pertencer à elite dominante parece dar aos ministros do Supremo Tribunal Federal – e há lugar mais próprio e oportuno para encetar a tomada de uma nova visão de e na sociedade brasileira – a estranha, bizarra mesmo visão elitista e patrimonialista, em que aos poderosos tudo é permitido, inclusive desrespeitar o regimento do excelso tribunal em que atuam.

           Todos sabemos que o pedido de vista de processo muita vez serve a outros fins do que o conhecimento efetivo de o que se contém nos maços respectivos.  Há alguma seriedade em um prazo que fixa a devolução em duas semanas para o ministro que se vale dessa prerrogativa, se há exemplos de casos em que o julgamento respectivo está parado desde 1998, quando Nelson Jobim, hoje aposentado, pediu vista do processo?  E essa estatística não para por aí, eis que Gilmar Mendes solicitou há um ano atrás vista de maço, que se reporta ao julgamento do fim do financiamento privado de campanha política.

            As regras existem para serem cumpridas. Se há algum problema com uma regra determinada, ele deve ser contestado, para que no debate o colégio respectivo possa chegar a uma conclusão, se há ou nâo problema  com a dita regra.

            Se não respeitamos as normas, ou se nos valemos do poder respectivo para afrontá-las, estamos afirmando que vivemos em uma sociedade patrimonialista, em que a elite é dominante, e estabelece a seu bel prazer como deva agir.

            Só seremos um país sério – e nos livraremos do apodo de país do jeitinho – quando estabelecermos regras que valham para todos, e não são determinadas seja pelo respectivo poder político ou financeiro.

            Será pedir demasiado que os nossos cidadãos – comuns ou não – tenham por princípio o respeito às leis e as normas?

 

 Desperdiçaremos o bônus demográfico?

 

             Não basta ao Brasil ter a maior parte de sua população na idade produtiva (jovens e adultos entre quinze e sessenta anos). O Brasil, por falta de políticas macro-econômicas, está contribuindo para o fim precoce do chamado bônus demográfico brasileiro.

             O alerta provém de José Eustáquio Diniz Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, um dos demógrafos  que mais estudaram o fenômeno no Brasil.  O que é o chamado bônus demográfico ? Ele se caracteriza pelo período em que, por causa da redução do número de filhos por mulher, a estrutura populacional fica favorável ao crescimento econômico: esse fenômeno ocorre  quando há proporcionalmente menos crianças na população, e o percentual de idosos ainda não é alto.

                 Segundo a reportagem de O Globo em 2015 as faixas etárias são:

                                                23% (crianças de zero a catorze)

                                                66% (jovens e adultos de 15 a 60 anos)

                                                 12% (idosos de 60 anos ou mais)     

                 O estudo de Alves mostra que, em 1970, para cada brasileiro economicamente ativo, havia dois fora do mercado.  No último censo, em 2010, se mostra que essa proporção na prática se igualou: para cada adulto economicamente ativo, havia outra pessoa fora do mercado.  E como se a renda do trabalho, antes dividida por três, passasse a ser dividida por dois.

                 Esse bônus, no entanto, é temporário.  Dessarte, em 2050, haverá

                                                  13% (crianças de zero a catorze)

                                                  57% (jovens e adultos de 15 a 60 anos)

                                                  30% (idosos de 60 anos ou mais)

                  Para que a janela de oportunidade aberta em 2015 seja aproveitada, é preciso que a economia faça a sua parte gerando empregos.  Segundo o estudo de Alves, o bônus ainda poderia ser colhido pelas políticas públicas por mais cinco ou quinze anos, mas há sinais recentes que são preocupantes pelo fato de que estamos deixando precocemente de aproveitar esse bônus.

                  Para José Eustáquio Alves os baixos níveis de poupança e investimento não contribuem para a geração de empregos. O seu pessimismo só tende a crescer com outros fatores, como a crise da Petrobrás e a desorganização da cadeia produtiva dos combustíveis fósseis, além das crises hídrica e energética.

                  Nesse contexto, seria o caso de aditar os erros (e foram inúmeros) de gestão de Dilma I, que desencadearam a inflação (que é um favor deveras negativo em termos econômicos, como nós brasileiros podemos atestar com as décadas perdidas) e com a sua imprevisibilidade tampouco criaram condições de crescimento econômico.

 

 

( Fontes:  Folha de S. Paulo, O Globo )

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