Guerra na Ucrânia oriental
Há quase um ano da
chamada revolta separatista na Ucrânia oriental – o que na verdade é conflito
instigado pelo Kremlin, que arma e
apóia os rebeldes de Donetsk e do resto do leste desse país – dada a inação do
Ocidente, que não dá qualquer ajuda
militar ao país agredido, e malgrado o segundo cessar-fogo de Minsk, os
combates prosseguem com o avanço da agressão patrocinada por Moscou.
Assinale-se que em abril último a Rússia procedera à anexação da península da
Crimeia, através de tropas com uniformes não-caracterizados.
A partir de
então, o conflito se arrasta, em que os separatistas gozam do apoio logístico e
– quando colocados em dificuldade – da intervenção pontual de Moscou, que além
de armas e munições, envia ‘voluntários’ quando há o risco de as forças
rebeldes tropeçarem. A despeito de não ser declarada, a intervenção de Moscou é
aberta e constante, equipando e municiando os destacamentos pró-autonomia ou
união com a Rússia, de forma a dar-lhes condições de superar eventuais situações
de crise e de avançar no território ucraniano.
Como o
exército ucraniano não recebe equipamento militar do Ocidente - que segue a estranha regra de não dar a Kiev
armas ofensivas e até mesmo defensivas
– os separatistas têm avançado bastante, e ora dominam Donetsk, zona industrial
importante, enquanto buscam apossar-se
das cidades de Mariupol e Luhansk, de modo a firmar a posse da área no extremo
oriental, próxima à península da Crimeia, que era parte do território ucraniano
desde 1954, por determinação do então líder da URSS Nikita Krushev. Hoje,
excluídas sanções pontuais aos cupinchas de Putin, como diria a canção
francesa, tudo vai bem, senhora marquesa...
Bem-armados
pela munificência guerreira de gospodin
Vladimir V. Putin, que dá a impressão de não poupar despesas para desmembrar o
vizinho ao sul, os rebeldes registram agora mais dois ataques contra o exército
ucraniano. Em Mariupol, morrem dois
soldados das forças de Kiev (o automóvel passara sobre mina colocada em
estrada) e em Schastya, a 170 km de
Donetsk, veículo militar ucraniano foi atingido por míssil, com a morte de
quatro militares.
Esta guerra de
conquista – que completa um ano na próxima semana – mostra a tibieza (para usar
uma palavra fraca) dos países ocidentais, com Washington à frente. Tão timorata postura não dá decerto boas novas
para os países do entorno da Rússia,
que na terminologia do Kremlin são
designados ominosamente como o near abroad (o estrangeiro próximo).
Afinal, que motivos terão tais países – da Polônia à Estônia - para nutrir confiança
em eventuais apoios futuros do Ocidente, ao depararem o ‘tratamento’ que é dado
a uma nação que está entre as maiores desses infortunados vizinhos ?
O
País do Jeitinho
Enquanto a elite dominante no Brasil não passar a
ser dirigente, com base em regras não
só estabelecidas, mas cumpridas, haverá pouca esperança de que ultrapassemos o
passado colonial, e adentremos em nova era, na qual todos os cidadãos – os comuns e os incomuns – sejam efetivamente
iguais
perante a lei.
Tomemos o
exemplo – que poderia ser mais oportuno – do Supremo Tribunal Federal. Na
definição ímpar dada pelo Presidente Lula da Silva no que tange aos direitos e,
sobretudo, à expectativa desses direitos, do então Senador José Sarney - bastou ao torneiro mecânico para definir a
posição de seu novo aliado a circunstância de que ele não era um cidadão comum.
Pelo visto, esse fato lhe abria as portas do paraíso, em termos de cidadania.
Sob a Constituição
declarada Cidadã vivemos ainda em mundo
patrimonialista, em que mandam os que podem, e obedecem aqueles que têm juízo.
Dessarte, o
fato de pertencer à elite dominante parece dar aos ministros do Supremo
Tribunal Federal – e há lugar mais próprio e oportuno para encetar a tomada de
uma nova visão de e na sociedade brasileira – a estranha, bizarra mesmo visão
elitista e patrimonialista, em que aos poderosos tudo é permitido, inclusive
desrespeitar o regimento do excelso tribunal em que atuam.
Todos
sabemos que o pedido de vista de processo muita vez serve a outros fins do que
o conhecimento efetivo de o que se contém nos maços respectivos. Há alguma seriedade em um prazo que fixa a
devolução em duas semanas para o ministro que se vale dessa prerrogativa, se há
exemplos de casos em que o julgamento respectivo está parado desde 1998, quando Nelson Jobim, hoje
aposentado, pediu vista do processo? E
essa estatística não para por aí, eis que Gilmar Mendes solicitou há um ano atrás
vista de maço, que se reporta ao julgamento do fim do financiamento privado de
campanha política.
As regras
existem para serem cumpridas. Se há algum problema com uma regra determinada,
ele deve ser contestado, para que no debate o colégio respectivo possa chegar a
uma conclusão, se há ou nâo problema com
a dita regra.
Se não
respeitamos as normas, ou se nos valemos do poder respectivo para afrontá-las,
estamos afirmando que vivemos em uma sociedade patrimonialista, em que a elite
é dominante, e estabelece a seu bel prazer como deva agir.
Só seremos
um país
sério – e nos livraremos do apodo de país do jeitinho – quando estabelecermos regras que valham para
todos, e não são determinadas seja pelo respectivo poder político ou
financeiro.
Será pedir
demasiado que os nossos cidadãos – comuns ou não – tenham por princípio o
respeito às leis e as normas?
Desperdiçaremos o bônus
demográfico?
Não basta
ao Brasil ter a maior parte de sua população na idade produtiva (jovens e
adultos entre quinze e sessenta anos). O Brasil, por falta de políticas macro-econômicas,
está contribuindo para o fim precoce do chamado bônus demográfico brasileiro.
O alerta
provém de José Eustáquio Diniz Alves, da Escola Nacional de Ciências
Estatísticas do IBGE, um dos demógrafos
que mais estudaram o fenômeno no Brasil.
O que é o chamado bônus
demográfico ? Ele se caracteriza pelo período em que, por causa da redução
do número de filhos por mulher, a estrutura populacional fica favorável ao
crescimento econômico: esse fenômeno ocorre
quando há proporcionalmente menos crianças na população, e o percentual
de idosos ainda não é alto.
Segundo
a reportagem de O Globo em 2015 as
faixas etárias são:
23% (crianças
de zero a catorze)
66% (jovens e adultos de 15 a
60 anos)
12% (idosos de 60 anos ou
mais)
O
estudo de Alves mostra que, em 1970, para cada brasileiro economicamente ativo,
havia dois fora do mercado. No último
censo, em 2010, se mostra que essa proporção na prática se igualou: para cada
adulto economicamente ativo, havia outra pessoa fora do mercado. E como se a renda do trabalho, antes dividida
por três, passasse a ser dividida por dois.
Esse
bônus, no entanto, é temporário.
Dessarte, em 2050, haverá
13% (crianças de zero a
catorze)
57% (jovens e adultos de 15 a
60 anos)
30% (idosos de 60 anos ou
mais)
Para
que a janela de oportunidade aberta em 2015 seja aproveitada, é preciso que a
economia faça a sua parte gerando empregos.
Segundo o estudo de Alves, o bônus ainda poderia ser colhido pelas
políticas públicas por mais cinco ou quinze anos, mas há sinais recentes que
são preocupantes pelo fato de que estamos deixando precocemente de aproveitar
esse bônus.
Para
José Eustáquio Alves os baixos níveis de poupança e investimento não contribuem
para a geração de empregos. O seu pessimismo só tende a crescer com outros
fatores, como a crise da Petrobrás e a desorganização da cadeia produtiva dos
combustíveis fósseis, além das crises hídrica e energética.
Nesse contexto, seria o caso de aditar os erros (e foram inúmeros) de
gestão de Dilma I, que desencadearam a inflação (que é um favor deveras
negativo em termos econômicos, como nós brasileiros podemos atestar com as
décadas perdidas) e com a sua imprevisibilidade tampouco criaram condições de
crescimento econômico.
( Fontes: Folha de S. Paulo, O Globo )
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