Mesmo sem
concorrer diretamente à presidência, Hillary Clinton foi a principal adversária
de Barack Obama para a nomination à
Casa Branca em 2008. Estava escrito, no entanto, que a favorita inicial ao
posto cederia, em adiantado caminho, a vez ao Senador por Illinois. Obama,
depois da performance deplorável de
George Bush júnior, surgia como o candidato da vez. Senador júnior ainda, se
dissociara da guerra de Bush e dos neoconservadores, enquanto Hillary a ela de
inicio se ligara. Por essa vacilação, sem o saber, ela perderia de todo a vez
na luta pela nomination, a que, ao
cabo, teve a clarividência política de reconhecer, posto que seu esposo, o
ex-Presidente Bill Clinton, haja relutado em admitir a força preponderante do adversário
fato político.
Como assinala o New York Times, Hillary já dispõe de
dois títulos: foi a única primeira-dama a eleger-se para o Senado, e agora a
postular a honra de tornar-se a primeira presidente dos Estados Unidos,
indicada por um grande partido.
As pesquisas lhe
dão considerável vantagem inicial,
embora tal situação não é de molde a dar-lhe tranquilidade. Como o
caminho é longo até a Convenção do Partido Democrata, que decidirá sobre a designação,
e a eleição presidencial de novembro de 2016, seria rematada e impensável
loucura que ela adotasse uma postura passiva, como se a indicação já estivesse
garantida.
No presente
campo democrata, apenas o Vice-presidente Joe Biden é reconhecido como
adversário, embora a sua posição nas pesquisas
seja bem inferior à sua. Como um simpático político veterano, famoso
pelas gafes – que chega a transformar em trunfos – Biden não deve ser
descartado a priori, conquanto a impressão inicial prevalente não seja de atribuir-lhe a possibilidade de
transformar-se em adversário a ser realmente levado em conta.
No entanto, como
a campanha se inicia a dezenove meses dos comícios de novembro, todos os
prognósticos carecem de levar em conta o fator imprevisível de um espaço tão
longo e, por conseguinte, deveras suscetível de provocar situações novas, como
que salteadores a esperarem em tocaia na longa via a melhor ocasião de tentar o
próprio bote.
Não obstante as
considerações acima, por ora forçoso será
atribuir a Hillary Clinton a condição de favorita nessa impiedosa maratona, em
que deverá contar com a respectiva habilidade e experiência para arrostar as
diversas armadilhas (algumas delas hoje imprevisíveis), que intentarão a
princípio debilitar a campeã (como nas touradas, é a sina dos picadores
dessangrar o touro).
Hillary é renomada
pela sua resistência, como na massacrante disputa pela nomination de 2008 através de inúmeras eleições primárias.
Começando então favorita, foi surpreendida pelo triunfo do adversário Barack
Obama, cuja campanha se preparara mais para o caucus de Iowa – que costuma ser a preliminar da corrida para a
designação pela convenção partidária.
Tais imprevistos
não estão programados para ocorrerem na interminável campanha de 2015/2016. No
entanto, se existe algo de especialmente cruel na política é a extensão da
campanha e o inescrutável número de eventuais tropeços e de situações
artificialmente criadas com o escopo de desestabilizar-lhe o projeto de
candidatura.
Somente alguém com a personalidade e a
férrea determinação de Hillary terá a força e a capacidade necessárias para
afrontar e confrontar tais desafios. Paradoxalmente, será a grande popularidade
da candidata, arrimada na sua já longa folha de serviços (oficialmente,
senadora por mais de um termo pelo estado de New York, e quatro anos como
Secretária de Estado do Presidente Obama) que alimentará os eventuais projetos
de contestá-la e debilitá-la, buscando
reduzir a substancial diferença que a separa nas pesquisas de outros
pretendentes como o atual Vice, Joe Biden e a senadora democrata por
Massachusetts, Elizabeth Warren.
Os Clinton –
tanto o marido Bill, quanto a própria Hillary – não costumam ter vida fácil com
a imprensa. Se o marido, como elder
President (ex-presidente, e de dois mandatos) já pode pretender tratamento
porventura mais afável, Hillary tende a receber as atenções de muitos
comentaristas, com juízos muita vez acerbos e severos. Tem-se a impressão em
certos artigos de que o jornalista, em um campo plural de adversários
potenciais, tende a colocar-lhe a vara do salto para a presidência em altura muito
superior àquela destinada a seus potenciais concorrentes...
Decerto,
semelha difícil determinar de onde vem tanta rebuscada antipatia contra essa
corajosa mulher. Como a sua trajetória é longa, e os intentos de atravessar-lhe
o caminho começaram com Whitewater,
em que se procurou envolver o casal Clinton. Nesse sentido, as investidas do
Promotor especial, o incansável Ken Starr,
não foram das menores, embora não tenham tido afinal êxito. A grande imprensa
americana empenhou-se nesse gênero de jornalismo que é popular nos Estados
Unidos, estando presente tanto em Whitewater,
quanto no caso dos e-mails
particulares de Hillary no seu período de Secretária de Estado (a que ela
preferia ao invés dos oficiais, o que pode parecer natural e mais flexível para
muitos, mas não para eventuais aristarcos[1] à cata de motivos
de crítica).
Por fim, à
sua volta, mas no círculo do Grand Old
Party, já repontam inúmeros candidatos nanicos, que não desejariam outra
coisa senão que Hillary se incomodasse com suas mesquinharias. Restritos a
insignificância de solitários dígitos, como cãezinhos raivosos, é melhor deixa-los
ganir, na sua vã esperança de chamá-la para o seu acanhado campinho...
( Fontes subsidiárias:
The New York Times, O Globo, O Estado de S. Paulo )
[1] Aristarchus, de Samothrace
(c.216-144 a.c.) Crítico severo da escola de Byzantium em Alexandria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário