A poucos terá escapado mais um
fenômeno – e quê fenômeno! – na política nacional. Não me reporto a Lula
da Silva, que quer despontar como o novo
valor do Partido dos Trabalhadores para a próxima eleição presidencial.
Sem desdouro para
Lula, a bola da vez neste momento é Dilma Rousseff. Talvez o maior erro
que cometeu – excluída a aceitação da presidência, em 2010 – foi a sua escolha
de pleitear o segundo mandato.
No primeiro
quadriênio, a húbris pontuou alto,
chegando a investir contra o vernáculo, ao inventar-se o horrível neologismo presidenta
com que julgou oportuno celebrar a própria feminilidade no Palácio do Planalto.
Salvo os
áulicos de plantão – e a velha marchinha já cantava o cordão dos puxa-sacos – esse estranho termo ali ficou com a sua incômoda
presença palaciana. Mais um capricho afirmativo. Já na pré-eleição o povo
nordestino preferiu chamá-la de mulher do Lula, expressão decerto mais
veraz, enquanto igualmente refletia o caráter impositivo, sem qualquer
contribuição da candidata. Ao elegê-la, o Brasil mostrou que ainda não superou
a fase do paternalismo coronelístico.
Espalhada para
os trouxas e os crédulos de plantão como espécie de primeiro-ministro - um pouco no modelo de o que teria sido José Dirceu, que não se pejou de
declarar alto e bom som – no meu
Governo – em seu discurso de despedida, enxotado que fora pelo Mensalão, na verdade Dilma Rousseff foi na Casa Civil apenas chefa de gabinete de Lula.
Selecionada
pelo presidente para sucedê-lo, menos por suas qualidades, do que para impedir
que lá se sentasse algum medalhão do partido que pudesse fazer sombra ao
fundador do PT, Dilma, chegado o tempo desse presente de grego dado por Fernando Henrique à política brasileira
(i.e., a reeleição), preferiu ir em
frente e desconhecer a vontade do seu criador.
A conjunta
ironia – tanto na indicação de Lula (que ele pensara fosse muito esperta),
quanto na força intrínseca da presidente em funções para postular o continuísmo
– teve grande eficiência em afastar o seu padrinho, e garantir a própria eleição.
Foi apertada a
sua vitória – apenas 3%. Foi suficiente para vencer o desafiante Aécio no
segundo turno. O importante para ela
fora lograr afastar Marina do segundo turno (dado o justificado temor que os
petistas nutrem pela carismática acreana).
Lula tudo fez
para dissuadi-la da nova candidatura. Ele tinha toda a razão, mas as cartas na mão
de Dilma eram mais fortes. Apesar da gestão temerária ou quase no primeiro
mandato, a sorte da presidenta foi de
que o magno escândalo do Petrolão
ainda não estourara pra valer.
Por outro lá,
com muita cara de pau, boa dose de cinismo e a mirífica ajuda do mago João
Santana, ela conseguiu o quase impossível – que o baú dos erros do primeiro
mandato tivesse diferido o seu estouro.
Para o eleitor,
a verdade chegou com atraso. Só mais tarde a ficha cairia. Ninguém gosta de ser
feito de trouxa, e foi este o sentimento da grande maioria dos votantes pró-Dilma.
Com os
escândalos espoucando, Dilma foi encolhendo politica e administrativamente. De
repente, todos se lembram dos meses finais de José Sarney, em que a impopularidade o expulsava das ruas e de
aparições públicas.
Afirmativa, grosseira, impiedosa,
recordista (no primeiro mandato) de mensagens sob qualquer pretexto na tevê, eis que aquela que fazia ministros chorarem,
ou que os mimoseava com palavrões, ou
que até se empenhava em batalhas de cabide – como nos conta Ricardo Noblat - de repente, a casa cai e tudo muda. E a
sorridente da segunda posse, emagrece de chofre e a fisionomia está mais para
Almodóvar e mulheres no limite do ataque de nervos.
Escolhendo
gente menos pela qualidade do que pela incoercível vontade de agradar – que é
do feitio do fâmulo e do favorito da vez – não é que no maldito segundo mandato tudo começa a dar
errado? Das mãos se vão os anéis, enquanto os velhos amigões desaparecem dos
postos de mando no Legislativo. Desafetos lhe são empurrados goela abaixo, e ela
já não manda mais no Congresso...
Quem se
acreditara muito popular, se vê obrigada a recolher-se. Encolhe o seu poder,
pois o presidencialismo vira parlamentarismo caboclo. E a antiga força e
prepotência, ei-las transformadas em fraqueza e humildade forçada.
O velho Economist, este nosso desafeto de
plantão na imprensa mundial, se diverte com a sua condição de mandatária sem
prestígio e sem poder, ainda que exagere, pois Dilma ainda não pode ser
comparada aos presidentes da França na Terceira República, quando moravam no
Palácio Elisée, e inauguravam exposições
florais...
Por último,
Dilma que antes forçava a barra, e vinha discursar na tevê a propósito de quase
tudo, eis que renuncia a falar na Data universal do Partido dos Trabalhadores,
também conhecida como o Primeiro de Maio ...
Agora, são os
panelaços que a fazem apequenar-se ainda mais.
Dilma Rousseff,
a Presidenta, o terror de Ministros, secretários e secretárias, não é que
perdeu o perfil?
( Fontes: O Globo, Coluna de Ricardo Noblat,
Folha de S. Paulo )
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