Eduardo de
Jesus Ferreira, o menino de dez anos, que morreu na porta da própria casa,
segurando um celular, será vítima de bala perdida?
A própria
mãe, Terezinha Maria de Jesus, nos dá a resposta para esta pergunta.
“Não houve
tiroteio algum. O único tiro que escutei foi o que matou meu filho. Corri para
fora de casa e vi um policial do Batalhão de Choque perto de Eduardo, que
estava caído no chão. Nunca vou esquecer aquele rosto. Avancei, ele disse ‘saia daqui, senão vou
matar você também’. Se tivesse me matado, agora eu não estaria sofrendo.”
As chamadas
‘balas perdidas’ não são de única responsabilidade da P.M. O tráfico com as
suas armas, na estúpida luta pelo controle da venda de entorpecentes, é o corresponsável
por essa insana matança.
A P.M. que
trata os moradores em áreas de conflito como se fossem cúmplices nestas batalhas
infernais, quando na verdade são os reféns de lutas sem glória, forçados a
viver em terra sem lei, em que o uniforme dos policiais não tem sabido granjear
a confiança e o apoio da população civil. A PM deveria saber que está ali para
defender aquela gente e não para escorraçá-la e vitimizá-la.
Enquanto
mulheres baleadas forem transportadas como carga em malas de carro, e toda vez
que se repetir o diálogo entre o PM do batalhão de choque, e a mãe desesperada,
que paz pode existir entre agentes ditos da lei e a população civil, que é a
verdadeira vítima nesses confrontos? Pois os PMs carecem de mudar de
tratamento, se tal é possível , e nem devem ser protegidos por um fundo
silêncio das autoridades ditas competentes, que na prática passam a mão na
cabeça dessa guarda pretoriana, que age de forma bestial em que o civil é
havido como espécie de quinta coluna na conflagração ?
A cidade
partida de que nos fala Zuenir Ventura não desapareceu com as UPPs. Enquanto
elas forem bastiões de uma guarnição que por gritantes motivos não faz por
merecer o apreço da população civil. Seus comandantes, a contar do governador
Pezão e do Secretário Beltrame carecem de saber que palavras não bastam. Se as
promessas de medidas corretivas têm curtíssimo prazo de validade, e nada fazem
em termos de mudança de atitude e comportamento, tudo vai continuar como está,
com a gente da favela descendo à rua para incendiar ônibus, como se este meio
de transporte fosse vítima votiva duma raiva que não pode ser atendida com
promessas e mais promessas ?
Essa tropa de ocupação só há de fomentar a
inconformidade e o ódio, se continuar a ver na população civil a aliada e até
mesmo a cúmplice do tráfico. E essa gente que ali mora, não por escolha, mas
pelas contingências da necessidade, só poderá vê-los como uma tropa cruel, estranha
e tão violenta quanto os bandidos, se eles continuarem a matar meninos como Eduardo
de Jesus, e a tratarem a sua mãe da forma como agiu o PM da tropa de choque.
E não me
venham depois a pedir compreensão desses trabalhadores e trabalhadoras, que são
as verdadeiras vítimas do processo. Pois, palavras não bastam. Cortar na carne
? E na carne de quem – da mãe que perdeu o seu futuro na estúpida morte de um
menino inocente, e que agora quer ir embora
depressa para a terra de onde veio, com a maleta vazia de bens e cheia de
esperança?
( Fonte: O
Globo )
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