A fórmula poderia ser mais ampla,
dadas as óbvias implicações da tragédia da Petrobrás não só com as suas
perspectivas no futuro próximo, mas também com o passado digamos recente que está
por detrás de o que ocorreu com a maior empresa nacional.
Aldemir
Bendine, que é o novo presidente da Petróleo Brasileiro S.A., “vem a público
pedir desculpas pelo que aconteceu na Petrobrás nos últimos anos – ele, que
chegou à presidência da estatal há pouco tempo e nada tem a ver com o que se
passou,(...), o que dizer de Dilma ou Lula, responsáveis diretos pelo
descalabro de corrupção e má gestão, uma consequência da outra, que dominou a
empresa nos últimos doze anos?”
A pergunta de
colunista de O Globo não é só decerto
retórica, pois muita coisa carece de ser determinada. Por enquanto, a eventual
responsabilidade no escândalo da dupla e notadamente de sua maior figura vem
sendo tratada de modo facecioso e brilhante pelo cartunista Chico Caruso. A
comicidade, sobretudo porque tangencial, é uma forma de versar questões
espinhosas. Nesse sentido, a sátira – representada pelos bobos da Corte – foi a
fórmula primeva de levantar, nas cortes de antanho, tópicos de interesse geral
da sociedade, e que concerniam à figura do Rei.
Para
acentuar o caráter divino dos imperadores chineses, eles despachavam com os
representantes da corte através de um biombo, que lhes assegurava a
invisibilidade, e o caráter impessoal das respectivas determinações. A Imperatriz
Viúva Cixi (1835-1908) que reinou durante décadas e que trouxe a
democracia para a China, se valeu desse costume até aboli-lo na prática no
período final de seu reinado. Pelo que fez, e pelo que enfrentou, é uma figura
até hoje pouco conhecida. Diante do temor que os atuais gerarcas chineses tem
diante da democracia, a ponto de mandarem para masmorra interiorana o autor de moderada proposta de abertura, Liu
Xiaobo, que se tornaria o Prêmio Nobel
da Paz de 2010 O povo chinês, por enquanto, o conhecerá de forma nebulosa (e
como ameaça à estabilidade governamental) pois ousara trazer o ideal da democracia para
o Império do Meio.
Mas
deixemos, para a pasta do Futuro, esses acertos que pairam no horizonte. O
senhor Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil e indicação de dona Dilma,
quer de certo modo empenhar o futuro para resgatar o presente da ainda maior
empresa nacional. Admite-se, por isso, vender até fatias do pré-sal.
Em
entrevista para Miriam Leitão, o presidente Bendine admitiu: “No primeiro
trimestre, sim, o impacto do dólar elevará a dívida. A alavancagem deve subir
para 5. Para o ano, deve estabilizar, num cenário de dólar a R$ 3,30.”
Nesse
quadro, uma relação entre a dívida e a
capacidade de geração de caixa em 5 anos é mais do que os atuais 4,7 e o dobro
do que é considerado normal, que é 2.5, como assinala a cronista.. Mesmo assim,
segundo afirmou Bendine, a empresa continua sendo financiável. Refere ter recebido várias propostas de linhas de
crédito, e fechou com aquelas que não tinham custo superior ao dos bonds (do
Tesouro Americano).
Na sua entrevista, o novo
presidente da Petrobrás pintou com cores róseas a exploração e explotação do
pré-sal. Declarou que 80% dos investimentos serão em exploração e produção, a maior parte no pré-sal (minha a
ênfase), que afirma ser extremamente atrativo.
Ele
explica a estratégia: “não vamos abrir um campo atrás do outro, os campos que
já perfuramos serão explorados. Quanto maior a escala, mais o custo diminui. Há
interesse internacional no pré-sal, tanto que a Shell comprou a BG atrás
desses ativos. Mesmo com a queda do Brent, a exploração do pré-sal continua
atrativa e nós temos uma belíssima reserva.”
Bendine não vai desvalorizar os respectivos ativos.
Nesse contexto, surge a notícia – cabeçalho do Globo de hoje – que a Petrobrás
admite até vender fatias do pré-sal (a empresa diz que pretende ‘compartilhar
riscos’ para gerar caixa rapidamente).
Não se há
de esperar que na situação em que a Petrobrás foi deixada pelo irresponsável Petrolão petista, que Bendine não vá
pintar com tintas róseas o pré-sal já descoberto. De um lado, porém, a sua
explotação, em termos de rentabilidade, depende do valor atual do Brent, que se
continuar caindo pode tornar antieconômica a explotação do pré-sal.
Por outro
lado, menciona-se na imprensa que a Petrobrás pode ir até à alienação de fatias
do pré-sal para fazer caixa. Aí mora o perigo, pois entramos na faixa perigosa
de alienar para o futuro parte do patrimônio da Nação. Nesse contexto, se
estaria alienando o futuro ou parte dele, para pôr nos eixos a Petróleo
Brasileiro S.A., descarrilada pelo Petrolão.
Se o
prejuízo semelha descomunal, deveria encontrar-se meios de responsabilizar todos
os culpados por esse magnicídio. E tal se deveria à impressão que subsiste de
que neste magno escândalo muitos ainda não foram indiciados, ou sequer
chamados.
( Fontes: A Imperatriz
de Ferro, de Jung Chang, Cia. das Letras, 2013; Colunas de Miriam Leitão e
Merval Pereira; O Globo )
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