O novo presidente da Petrobrás,
nomeado por dona Dilma, Aldemir Bendine, declarou : “A gente está com
sentimento de vergonha por tudo o que presenciou.” Dando nota de esperança,
também afirmou: “Os valores da corrupção são recuperáveis. À medida que forem
sendo pagos, entrarão no balanço.”
Pode ser até
que sejam totalmente recuperáveis, mas há dois pontos que não o serão: a mancha
– ou a sárcina – da corrupção: R$ 21,
6 bilhões de prejuízo em 2014, e a perda de R$ 6,2 bilhões,
atribuída diretamente à corrupção, posto que registrada pundonorosamente a “pagamentos
indevidos).
Há 23 anos, desde
1991, em plena inflação, que a
Petróleo Brasileiro S.A. não registrava
prejuízo. Quanto ao negativo, o que a corrupção levou é muito mais do que uma
virtual reposição dos valores. Além de não serem totalmente recuperáveis –
sobretudo pela demora na devolução, acarretada pelos percalços da via judicial –
há algo mais do que as quantias supostamente redondas.
O mais grave é
a marca maldita da corrupção, que sacode e fere a grande empresa, e a joga por
não se sabe quanto tempo na ralé das firmas de là bàs (cafundós do terceiro mundo), em que os nédios dividendos
são o disfarce das contas mal feitas. Confiança é cousa que não se constrói da
noite para o dia, e é bom que o Povo brasileiro saiba com lição passada e
repassada a quem se deve esse crime descomunal contra a economia brasileira, e
sobretudo contra a nossa maior empresa, a que por mais de doze anos os governos
do PT, com Lula da Silva à frente, e seguido por sua criatura, Dilma Rousseff sujeitaram a uma dieta de
apaniguados políticos, a que se juntou a infame romaria, à cata de favores de
toda ordem, aos gabinetes de direção da Petrobrás.
Esse gado
político, em que os guias não se distinguem da raia miúda, se descoberto
costuma choramingar lisuras passadas e injustos agravos presentes.
Entrementes,
um olhar, ao mesmo tempo severo e patriótico – deve cuidar para que não se
repitam os “erros” do passado, nem as práticas que a eles conduziram. A
Petrobrás é ainda uma grande empresa. Criação de Getúlio Vargas – lembrem-se
que este morreu honesto, como honestamente governara o nosso Brasil, e não trepidou
no sacrifício extremo para que não se lhe manchasse a memória. E como o entendeu bem o Povo
brasileiro, enquanto o champagne da
oposição raivosa se quedava, inútil, na garrafa, essa mesma gente transformou
o 24 de agosto de 1954 em magna data da Nacionalidade. De minha parte, não sei
se viverei o bastante para vê-lo transformado em feriado, acostumado que estou
a ver desperdiçado esse dever das assembleias, que ao ver preferem sancionar
projetos de comemoração por políticos demagogos de datas desprovidas de qualquer
significado – a Petróleo Brasileiro S.A. não é propriedade de partido político,
mas do Brasil. Ao Povo Soberano interessa que se confie as suas diretorias nem
a políticos, nem a carreiristas, mas sim à gente honesta e experiente no mister.
Dentro do esquema pútrido do Mensalão e agora do Petrolão, que esteja a boa
gente brasileira atenta a que não se jogue aos cães e aos amigos do alheio o
patrimônio e os negócios da Petrobrás.
Se hoje os
números da grande empresa assustam - baixa de R$ 44,6 bilhões no patrimônio
(devido à desistência de alguns projetos). A maior perda foi a do Comperj e surpreende,
como já assinalou, Miriam Leitão, a volubilidade e a irresponsabilidade mesmo que
caracterizaram o cometimento. Esse Comperj
( R$ 21,
8 bilhões) junto com a famigerada Refinaria de Abreu
e Lima (R$ 9,1bilhões) têm a pesada pegada da corrupção, quase aberta,
tão aparente a desfaçatez com que os projetos eram mudados e aumentados. Nesse
contexto, é oportuno citar a Folha de S.Paulo, no seu suplemento Mercado: “Idealizadas no governo Lula para agradar
(sic) políticos aliados, os custos de construção dessas refinarias explodiram
por conta de falhas de planejamento e do cartel.”
A Petrobrás
pertence ao Povo brasileiro, e por isso não deve ser feudo de nenhum partido
político. Que se abram as portas para a saída dos políticos de partido. É hora
de pôr um limite à corrupção, seja ela distributiva, seja ela setorial.
Só a velhinha
de Taubaté desconhecia que havia sérios problemas com a Refinaria Abreu e
Silva. Só ela mesma seria capaz de
inocentemente autorizar a incrível compra do ferro-velho de Pasadena.
Há notícias
de que em Wall Street, o valor das suas ações claudica.
Se a
PriceWaterhouse afinal concordou em aprovar o balanço, é hora que aqueles que por boa fé e até
patriotismo investiram na nossa maior empresa, apertem o cinto, esperem por
melhores dias, e confiem na leda e doce promessa de que desta vez tudo vai ser
diferente.
Sabemos que a Petróleo Brasileiro S.A. dispõe
de Conselho de Administração com conselheiros pagos decerto com polpudos
jetons. É de esperar-se que doravante cumpram com a sua missão, que não é a de
fazer ouvidos de mercador às informações colhidas. Todos recordamos a reação da
sua então Presidente, Dilma Rousseff, acoimando de insuficiente – ou vá lá o
que seja – parecer sobre a aquisição da refinaria de Pasadena. Dadas as
garrafais discrepâncias, o assunto não deveria cercear-se a um despacho
raivoso, publicado em jornal, em que se censurava, com brutal atraso, as bases
de parecer de conselheiro.
O juiz
federal Sérgio Moro, como refere a Folha, já condenou seis réus a ressarcirem a estatal em pelo menos R$ 18
milhões. Se os “pagamentos
indevidos” montam a R$ 6,2
bilhões, feitos a ex-funcionários e
empreiteiras (acusados de participar de cartel para superfaturar as
suas obras), há uma enorme trilha a percorrer.
Além da
baixa em R$ 44,6 bilhões nos seus ativos, porque a estatal acabou desistindo de
projetos maiores para preservar o caixa.
A divida
total da Petrobrás ascende a R$ 351
bilhões (aumento de 31%). Em dólares , a dívida líquida da companhia
chega a US$ 106 bilhões.
Como assinala Miriam Leitão em sua
coluna, e como lembra a empresa, 80% da dívida está em moeda estrangeira. E, nesse
contexto, a colunista recorda a ascensão do dólar estadunidense: no final de
2013, o dólar valia R$ 2,34; no fim do ano passado, foi cotado em R$ 2,66. A
subida continua, porque no primeiro trimestre deste ano o dólar passou da casa
de R$ 3,00. A dívida tende a subir, por conseguinte, um tanto mais, embora se
deva descontar o efeito especulação de más notícias, que podem ser revertidas
até certo ponto.
Outro
índice que piorou é o da alavancagem da empresa, medido pelo endividamento
líquido e o seu patrimônio líquido, com um salto de 39% para 48%. Assim, a
relação da dívida líquida sobre a geração operacional de caixa, Ebitda, pulou de 3,52 para 4,77 anos.
Isso está muito acima do limite máximo recomendado pelas Agências de Risco, que
está na casa de três anos. Em outras
palavras, a Petrobrás continuará tendo dificuldades, e carece de fazer longo
trabalho para voltar a ter confiança do mercado e melhorar seus indicadores.
Por fim,
Miriam Leitão fala que entre os desafios a serem arrostados pela Petrobrás
estão as disputas judiciais. São
investidores que buscam na Justiça reverter o impacto da corrupção em seus
ativos. Há ainda o efetivo negativo da crise sobre os investimentos que estavam
previstos no setor de óleo e gás.
Em um
cenário internacional desfavorável – queda nos valores da matéria prima
petróleo, o que pode afetar diretamente a explotação do pré-sal, que demanda
altos custos comparativos e, portanto, depende muito em termos de
rentabilidade, da cotação internacional do barril de petróleo – a feição
judicial será decerto imponderável.
Se não é
provável um cenário argentino, ele é
possível. Com os chamados fundos abutre,
tampouco se pode afastar o perigo de ações de grandes bancas de advocacia
estrangeira a perseguirem fins pouco confessáveis. Dentro os imponderáveis, estão juízes de New York, cuja visão pode ser
suscetível de ‘envenenamento’ por bancas demasiado ambiciosas e apoiadas em
discutíveis informações colhidas no lúrido mercado do subdesenvolvimento.
A encruzilhada em que se acha a Petróleo
Brasileiro S.A. é, em fim de contas, simples: se se opta pelo bom caminho, e
encarregamos técnicos (e nunca políticos de partido) da
presidência da nossa maior empresa e de seus inúmeros departamentos, o trabalho
de refazer a grande companhia continua enorme e desafiante, mas há pelo menos a
esperança de levá-lo a bom termo, com a sua recuperação plena.
Se, no entanto, a presidência da república –
seja quem for a autoridade responsável – optar pela via encomendada por Lula da
Silva, ao assumir a Presidência da República, em 2003, tudo continuará na
mesma. Se são desaconselháveis as peregrinações dos políticos aos gabinetes da
Estatal, se deve sobretudo evitar
confiar a políticos de quaisquer partidos a responsabilidade de gerir os
departamentos em tela. Nesse particular, a herança de Lula deve ser evitada a
todo custo. Quanto aos outros desenvolvimentos, que um assalto de tais
proporções ocasionou, não deveria ficar por isso mesmo.
Ou será
que para nossa vergonha e dissabores tudo ficará como dantes no quartel de
Abrantes?
(Fontes: O
Globo, Folha de S. Paulo,coluna de Míriam Leitão)
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