quinta-feira, 23 de abril de 2015

A Farra da Corrupção


                                        

        O novo presidente da Petrobrás, nomeado por dona Dilma, Aldemir Bendine, declarou : “A gente está com sentimento de vergonha por tudo o que presenciou.” Dando nota de esperança, também afirmou: “Os valores da corrupção são recuperáveis. À medida que forem sendo pagos, entrarão no balanço.”

        Pode ser até que sejam totalmente recuperáveis, mas há dois pontos que não o serão: a mancha – ou a sárcina – da corrupção: R$ 21, 6 bilhões de prejuízo em 2014, e a perda de R$ 6,2 bilhões, atribuída diretamente à corrupção, posto que registrada pundonorosamente a “pagamentos indevidos).

        Há 23 anos, desde 1991, em plena inflação, que a Petróleo Brasileiro S.A.  não registrava prejuízo. Quanto ao negativo, o que a corrupção levou é muito mais do que uma virtual reposição dos valores. Além de não serem totalmente recuperáveis – sobretudo pela demora na devolução, acarretada pelos percalços da via judicial – há algo mais do que as quantias supostamente redondas.

        O mais grave é a marca maldita da corrupção, que sacode e fere a grande empresa, e a joga por não se sabe quanto tempo na ralé das firmas de là bàs (cafundós do terceiro mundo), em que os nédios dividendos são o disfarce das contas mal feitas. Confiança é cousa que não se constrói da noite para o dia, e é bom que o Povo brasileiro saiba com lição passada e repassada a quem se deve esse crime descomunal contra a economia brasileira, e sobretudo contra a nossa maior empresa, a que por mais de doze anos os governos do PT, com Lula da Silva à frente, e seguido por sua criatura,  Dilma Rousseff sujeitaram a uma dieta de apaniguados políticos, a que se juntou a infame romaria, à cata de favores de toda ordem, aos gabinetes de direção da Petrobrás.

         Esse gado político, em que os guias não se distinguem da raia miúda, se descoberto costuma choramingar lisuras passadas e injustos agravos presentes.

         Entrementes, um olhar, ao mesmo tempo severo e patriótico – deve cuidar para que não se repitam os “erros” do passado, nem as práticas que a eles conduziram. A Petrobrás é ainda uma grande empresa. Criação de Getúlio Vargas – lembrem-se que este morreu honesto, como honestamente governara o nosso Brasil, e não trepidou no sacrifício extremo para que não se lhe manchasse  a memória. E como o entendeu bem o Povo brasileiro, enquanto o champagne da oposição raivosa se quedava, inútil, na garrafa,  essa mesma gente transformou o 24 de agosto de 1954 em magna data da Nacionalidade. De minha parte, não sei se viverei o bastante para vê-lo transformado em feriado, acostumado que estou a ver desperdiçado esse dever das assembleias, que ao ver preferem sancionar projetos de comemoração por políticos demagogos de datas desprovidas de qualquer significado – a Petróleo Brasileiro S.A. não é propriedade de partido político, mas do Brasil. Ao Povo Soberano interessa que se confie as suas diretorias nem a políticos, nem a carreiristas, mas sim à gente honesta e experiente no mister. Dentro do esquema pútrido do Mensalão e agora do Petrolão, que esteja a boa gente brasileira atenta a que não se jogue aos cães e aos amigos do alheio o patrimônio e os negócios da Petrobrás.  

           Se hoje os números da grande empresa assustam -  baixa de R$ 44,6 bilhões no patrimônio (devido à desistência de alguns projetos). A maior perda foi a do Comperj e surpreende, como já assinalou, Miriam Leitão, a volubilidade e a irresponsabilidade mesmo que caracterizaram o cometimento. Esse Comperj ( R$ 21, 8 bilhões)   junto com a famigerada Refinaria de Abreu e Lima (R$ 9,1bilhões) têm a pesada pegada da corrupção, quase aberta, tão aparente a desfaçatez com que os projetos eram mudados e aumentados. Nesse contexto, é oportuno citar a Folha de S.Paulo, no seu suplemento Mercado: “Idealizadas no governo Lula para agradar (sic) políticos aliados, os custos de construção dessas refinarias explodiram por conta de falhas de planejamento e do cartel.”

          A Petrobrás pertence ao Povo brasileiro, e por isso não deve ser feudo de nenhum partido político. Que se abram as portas para a saída dos políticos de partido. É hora de pôr um limite à corrupção, seja ela distributiva, seja ela setorial.

         Só a velhinha de Taubaté desconhecia que havia sérios problemas com a Refinaria Abreu e Silva.  Só ela mesma seria capaz de inocentemente autorizar a incrível compra do ferro-velho de Pasadena.

         Há notícias de que em Wall Street, o valor das suas ações claudica. 

         Se a PriceWaterhouse afinal concordou em aprovar o balanço,  é hora que aqueles que por boa fé e até patriotismo investiram na nossa maior empresa, apertem o cinto, esperem por melhores dias, e confiem na leda e doce promessa de que desta vez tudo vai ser diferente.

          Sabemos que a Petróleo Brasileiro S.A. dispõe de Conselho de Administração com conselheiros pagos decerto com polpudos jetons. É de esperar-se que doravante cumpram com a sua missão, que não é a de fazer ouvidos de mercador às informações colhidas. Todos recordamos a reação da sua então Presidente, Dilma Rousseff, acoimando de insuficiente – ou vá lá o que seja – parecer sobre a aquisição da refinaria de Pasadena. Dadas as garrafais discrepâncias, o assunto não deveria cercear-se a um despacho raivoso, publicado em jornal, em que se censurava, com brutal atraso, as bases de parecer de conselheiro.

            O juiz federal Sérgio Moro, como refere a Folha, já condenou seis réus a ressarcirem a estatal em pelo menos   R$ 18 milhões.  Se os “pagamentos indevidos” montam a R$ 6,2 bilhões, feitos a ex-funcionários e empreiteiras (acusados de participar de cartel para superfaturar as suas obras), há uma enorme trilha a percorrer.

            Além da baixa em R$ 44,6 bilhões nos seus ativos, porque a estatal acabou desistindo de projetos maiores para preservar o caixa.

             A divida total da Petrobrás ascende a R$ 351 bilhões (aumento de 31%). Em dólares , a dívida líquida da companhia chega a US$ 106 bilhões.    

             Como assinala Miriam Leitão em sua coluna, e como lembra a empresa, 80% da dívida está em moeda estrangeira. E, nesse contexto, a colunista recorda a ascensão do dólar estadunidense: no final de 2013, o dólar valia R$ 2,34; no fim do ano passado, foi cotado em R$ 2,66. A subida continua, porque no primeiro trimestre deste ano o dólar passou da casa de R$ 3,00. A dívida tende a subir, por conseguinte, um tanto mais, embora se deva descontar o efeito especulação de más notícias, que podem ser revertidas até certo ponto.

             Outro índice que piorou é o da alavancagem da empresa, medido pelo endividamento líquido e o seu patrimônio líquido, com um salto de 39% para 48%. Assim, a relação da dívida líquida sobre a geração operacional de caixa, Ebitda, pulou de 3,52 para 4,77 anos. Isso está muito acima do limite máximo recomendado pelas Agências de Risco, que está na casa de três anos.  Em outras palavras, a Petrobrás continuará tendo dificuldades, e carece de fazer longo trabalho para voltar a ter confiança do mercado e melhorar seus indicadores.      

              Por fim, Miriam Leitão fala que entre os desafios a serem arrostados pela Petrobrás estão as disputas judiciais.  São investidores que buscam na Justiça reverter o impacto da corrupção em seus ativos. Há ainda o efetivo negativo da crise sobre os investimentos que estavam previstos no setor de óleo e gás.

              Em um cenário internacional desfavorável – queda nos valores da matéria prima petróleo, o que pode afetar diretamente a explotação do pré-sal, que demanda altos custos comparativos e, portanto, depende muito em termos de rentabilidade, da cotação internacional do barril de petróleo – a feição judicial será decerto imponderável.

              Se não é provável um cenário argentino, ele é possível. Com os chamados fundos abutre, tampouco se pode afastar o perigo de ações de grandes bancas de advocacia estrangeira a perseguirem fins pouco confessáveis.  Dentro os imponderáveis, estão  juízes de New York, cuja visão pode ser suscetível de ‘envenenamento’ por bancas demasiado ambiciosas e apoiadas em discutíveis informações colhidas no lúrido mercado do subdesenvolvimento. 

        A encruzilhada em que se acha a Petróleo Brasileiro S.A. é, em fim de contas, simples: se se opta pelo bom caminho, e encarregamos técnicos (e nunca políticos de partido) da presidência da nossa maior empresa e de seus inúmeros departamentos, o trabalho de refazer a grande companhia continua enorme e desafiante, mas há pelo menos a esperança de levá-lo a bom termo, com a sua recuperação plena.

          Se, no entanto, a presidência da república – seja quem for a autoridade responsável – optar pela via encomendada por Lula da Silva, ao assumir a Presidência da República, em 2003, tudo continuará na mesma. Se são desaconselháveis as peregrinações dos políticos aos gabinetes da Estatal,  se deve sobretudo evitar confiar a políticos de quaisquer partidos a responsabilidade de gerir os departamentos em tela. Nesse particular, a herança de Lula deve ser evitada a todo custo. Quanto aos outros desenvolvimentos, que um assalto de tais proporções ocasionou, não deveria ficar por isso mesmo.

              Ou será que para nossa vergonha e dissabores tudo ficará como dantes no quartel de Abrantes?

 

(Fontes:  O  Globo, Folha de S. Paulo,coluna de Míriam Leitão)     

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