A crise que o Brasil atravessa é muito mais grave do
que o malogro de tentativas bem-intencionadas pode mostrar.
Cuidar dos efeitos, se não se atacam as
causas, é como ver-se arrastado por inundação, depois de derribar as matas
ciliares (aquelas às margens dos rios, que protegem as plantações e as
moradias) e queixar-se da má sorte...
Em terra em que todos mandam, ninguém é
obedecido.
Para explicar o mensalão, que sempre negou de pés juntos, agora Lula confidencia ao compadre
Pepe Mujica que foi ‘a única forma de governar o Brasil’.
A par disso, e querendo reeleger-se em
2014, ele inventou a ‘grande gestora’ Dilma Rousseff, e logrou, para desgraça
do Brasil, eleger o seu ‘primeiro poste’.
Não houve fraude visível na eleição de
2010. Lula conseguiu impingir ao Brasil alguém que não tinha estatura para o
cargo, por duas razões básicas: (a) não queria no Planalto um grande quadro do
PT que lhe fizesse sombra; e (b) a
composição do eleitorado brasileiro que em muitas regiões ainda vota por quem o
coronel manda.
Tampouco a podridão surge por acaso.
Temos, por um lado, a farsesca explosão de partidos (32 e crescendo). Isso se
deve a um erro do Supremo, que não concordou com uma modesta cláusula de
barreira, como se ideologia fosse matéria, que é suscetível de fragmentar-se de
forma quase infinita. Assim, a Alemanha seria regime autoritário, porque o partido que não alcance nacionalmente
5% do eleitorado, perde a licença e só pode voltar no pleito seguinte?
Por outro lado, o PT de Lula, do pequeno
partido aguerrido e jacobino dos anos oitenta transformou-se em espécie de PRI
mexicano, fundado na cínica apropriação do Estado (aparelhamento) e nos métodos
que as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público vão desnudando,
se porventura encontram juízes da têmpera de Sérgio Moro.
Agora estamos mal parados. Graças ao
marqueteiro e às mentiras (que são apanágio de candidato(a) à reeleição,
recebemos o presente de grego da recondução de Dilma.
Que o seu primeiro mandato foi
desastroso, ela própria o confessou, acedendo a ter um diretório de Joaquim
Levy e Nelson Barbosa. Como Miriam Leitão tem mostrado, está saindo muito caro
o ajuste fiscal. Além disso, aí estão a desenfreada demagogia das facções
(porque chamar os grêmios que aí estão de partidos, releve-me o leitor) e a indizível
fraqueza de quem se fez chamar Presidenta,
agora a tentar comprar com o nosso dinheiro as votações do chamado ajuste no
Congresso.
Dessangramos o caixa para montar um
ajuste que, na verdade, pelo preço, nos está saindo como antes se dizia pelos
olhos da cara, e o resultado – porque o método está errado – se afigura pífio.
Em
terra onde todos mandam, ninguém manda. Brizola amava repetir o verso camoniano
que o rei fraco, faz fraca a forte gente. Pois se até o Lula veste a máscara de
demagogo ao recomendar o voto no fator previdenciário, esse que acaba de ser
reinstituído?
Quando as acusações chovem, a tentação
é declarar que, em instrumentalizando o erro, todos têm razão em vituperar o
adversário...
Olhamos à volta, e deparamos um deserto
de homens (e mulheres). Dilma abusou do erro no seu primeiro mandato. Por isso –
e com as mentiras jogadas contra Marina – foi reeleita para o segundo.
O PSDB agora vota contra o fator previdenciário. Parece que as questões e as medidas
não têm importância por si. Tudo é circunstância.
A aliança da demagogia reconstrói o
déficit fiscal, manda o ajuste à breca, e, não obstante, tudo vai bem, senhora
marquesa! (como cantavam os sans-culotte
na Revolução Francesa).
Se continuar assim o Brasil continuará a
ser a eterna grande potência do futuro,( esperança que não se
realizou) , ou um país sem traços maiores (non-descript
country)[1] como nos chamou o
orientalista radicado nos Estados Unidos, e que morreu não faz muito, Edward
Said.
Será que é assim tão difícil encontrar
gente honesta e competente, que tenha como Glauber Rocha uma idéia na cabeça, e
que venha a tentar colocar-se ao lado de JK e de Getúlio Vargas, com um projeto
de Brasil que nos livre da corrupção, da demagogia e do desgoverno?
( Fontes: Ricardo Noblat, Miriam Leitão, O Globo,
Folha de S. Paulo )
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