quinta-feira, 14 de maio de 2015

Será tão difícil governar o Brasil ?


                              

       A crise que o Brasil atravessa é muito mais grave do que o malogro de tentativas bem-intencionadas pode mostrar.

       Cuidar dos efeitos, se não se atacam as causas, é como ver-se arrastado por inundação, depois de derribar as matas ciliares (aquelas às margens dos rios, que protegem as plantações e as moradias) e queixar-se da má sorte...

       Em terra em que todos mandam, ninguém é obedecido.

       Para explicar o mensalão,  que sempre  negou de pés  juntos, agora Lula confidencia ao compadre Pepe Mujica que foi ‘a única forma de governar o Brasil’.

       A par disso, e querendo reeleger-se em 2014, ele inventou a ‘grande gestora’ Dilma Rousseff, e logrou, para desgraça do Brasil, eleger o seu ‘primeiro poste’.

       Não houve fraude visível na eleição de 2010. Lula conseguiu impingir ao Brasil alguém que não tinha estatura para o cargo, por duas razões básicas: (a) não queria no Planalto um grande quadro do PT que lhe fizesse sombra;  e (b) a composição do eleitorado brasileiro que em muitas regiões ainda vota por quem o coronel manda.

       Tampouco a podridão surge por acaso. Temos, por um lado, a farsesca explosão de partidos (32 e crescendo). Isso se deve a um erro do Supremo, que não concordou com uma modesta cláusula de barreira, como se ideologia fosse matéria, que é suscetível de fragmentar-se de forma quase infinita. Assim, a Alemanha seria regime autoritário,  porque o partido que não alcance nacionalmente 5% do eleitorado, perde a licença e só pode voltar no pleito seguinte?

       Por outro lado, o PT de Lula, do pequeno partido aguerrido e jacobino dos anos oitenta transformou-se em  espécie de PRI mexicano, fundado na cínica apropriação do Estado (aparelhamento) e nos métodos que as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público vão desnudando, se porventura encontram juízes da têmpera de Sérgio Moro.

       Agora estamos mal parados. Graças ao marqueteiro e às mentiras (que são apanágio de candidato(a) à reeleição, recebemos o presente de grego da recondução de Dilma.

       Que o seu primeiro mandato foi desastroso, ela própria o confessou, acedendo a ter um diretório de Joaquim Levy e Nelson Barbosa. Como Miriam Leitão tem mostrado, está saindo muito caro o ajuste fiscal. Além disso, aí estão a desenfreada demagogia das facções (porque chamar os grêmios que aí estão de partidos, releve-me o leitor) e a indizível fraqueza de quem se fez chamar Presidenta, agora a tentar comprar com o nosso dinheiro as votações do chamado ajuste no Congresso.

        Dessangramos o caixa para montar um ajuste que, na verdade, pelo preço, nos está saindo como antes se dizia pelos olhos da cara, e o resultado – porque o método está errado – se afigura pífio.

        Em terra onde todos mandam, ninguém manda. Brizola amava repetir o verso camoniano que o rei fraco, faz fraca a forte gente. Pois se até o Lula veste a máscara de demagogo ao recomendar o voto no fator previdenciário, esse que acaba de ser reinstituído?

        Quando as acusações chovem, a tentação é declarar que, em instrumentalizando o erro, todos têm razão em vituperar o adversário...

        Olhamos à volta, e deparamos um deserto de homens (e mulheres). Dilma abusou do erro no seu primeiro mandato. Por isso – e com as mentiras jogadas contra Marina – foi reeleita para o segundo.

        O PSDB agora vota contra o fator previdenciário. Parece que as questões e as medidas não têm importância por si. Tudo é circunstância.

        A aliança da demagogia reconstrói o déficit fiscal, manda o ajuste à breca, e, não obstante, tudo vai bem, senhora marquesa! (como cantavam os sans-culotte na Revolução Francesa).

         Se continuar assim o Brasil continuará a ser a eterna grande potência do futuro,( esperança que não se realizou) , ou um país sem traços maiores (non-descript country)[1] como nos chamou o orientalista radicado nos Estados Unidos, e que morreu não faz muito, Edward Said.

         Será que é assim tão difícil encontrar gente honesta e competente, que tenha como Glauber Rocha uma idéia na cabeça, e que venha a tentar colocar-se ao lado de JK e de Getúlio Vargas, com um projeto de Brasil que nos livre da corrupção, da demagogia e do desgoverno?

 

( Fontes: Ricardo Noblat, Miriam Leitão, O Globo, Folha de S. Paulo ) 



[1] Em tal apreciação, o renomado intelectual nos pôs junto da Nigéria..

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