sexta-feira, 15 de maio de 2015

Pelo Ralo


                                               

       Não surpreende por que os políticos e as excelências em geral tenham o presente conceito na opinião pública.

       O exemplo  não só da turma de Brasília, mas também de tantas sucursais nos Estados que  vêm contribuindo para essa visão distorcida do serviço público por parte de um Povo que não sabe no que e em quem acreditar.

       Que tal perplexidade possa extravasar em violência, até o momento, graças à nossa natureza, postas de lado as exceções de praxe, não tem ocorrido. Contudo é difícil pensar que tal continue a estender-se como se nada fora.

       Mas será que o homem comum brasileiro  - esse que rala muito, sofre nos transportes (caros e desconfortáveis) e em geral luta para chegar ao fim do mês com comida na mesa – vai continuar acreditando em Brasília e nos coronéis estaduais?

       Pela televisão, as sólitas câmaras escondidas mostram as prevaricações dos diversos serviços médicos, e as abertas, o caos nos hospitais públicos, com pacientes agora no chão (ficar nos corredores, em macas, virou privilégio).

       É o mundo cão, com os centros citadinos abandonados (há um progresso – não são mais crianças, mas os eternos di menores, armados de estiletes – tudo numa boa, como se dirá, sob a impávida indiferença das otoridades).

       No Brasil, entra mês e sai mês, o que há de perene – além das denúncias com que a mídia apimenta os seus programas – é a desculpa da autoridade.

       As excelências sabem que há muito perderam a credibilidade. A tal ponto, que promessas sequer faturam nos programas humorísticos. Ninguém mais acredita nelas (nem como piada).

       Assim como no passado – e põe passado nisso! – o casaco na cadeira era o passaporte para o remunerado absenteísmo na repartição, hoje, a desonestidade, ou assume, na respectiva arrogância o próprio cinismo, e faz da insolência o seu passaporte.

       Se vivemos na terra do impostômetro, se a carga dos tributos – como o antigo cordão dos puxa-sacos  - vai aumentando cada vez mais, os resultados serão sempre pífios.

         Fala-se no humor do brasileiro. Diziam que no carnaval ele florescia.  Ainda aparece aqui e ali, como no cordão puxado por dois populares (o casal petista) ambos envergando a faixa presidencial, e com o cartaz, o Petróleo é nosso, a Propina é deles.

          Esse humorismo até que bem-comportado parece mais reminiscência do passado. Pelo tamanho da roubalheira, e pelo cinismo do aparelhamento, ele é, porém, entendido por todos.

          As prisões em nossa terra são tão ruins, que o próprio Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, declara que prefere morrer a ir para a cadeia no Brasil. Em todos os aspectos, elas são indescritíveis.

           E, no entanto, esses presídios – como os de Porto Alegre,  São Luis e  Recife  - continuam impávidos, como se fosse a sua missão refletir no cárcere a caricatura selvagem da vida lá fora.

           Escrevi em outro blog acerca da observação do ensaísta palestino Edward Saïd, que então colocara Brasil e Nigéria no mesmo saco, como países sem traços distintivos. Naquela época, a Nigéria ainda era estado que podia ambicionar um assento permanente no Conselho de Segurança.

           Por enquanto, parecemos fadados a constituir eterno pretendente a esse símbolo da diplomacia parlamentar: assento permanente no Conselho de Segurança. Para lograr isso, um Ministro convenceu presidente a apresentar eterna candidatura, fundada em que temos missões em todos os países representados na ONU. Para quê? para nada, como naquele poema nordestino sobre proezas gaúchas.

           Não se contava, é claro, que fosse sucedido por alguém que deve detestar o Itamaraty, pela maneira com que depena as verbas da Casa de Rio Branco, a ponto de não poder pagar sequer a contribuição anual para as Nações Unidas.

            Sem querer, essa senhora chegou ao cúmulo do sarcasmo. Por um lado, continua a pleitear o assento no Conselho de Segurança. Por outro, sequer lhe dá direito para pagar a anuidade do organismo em que pleiteia o ingresso no poleiro mais prestigioso.

            Na terra das contradições, e do assim é, se lhe parece, mais uma!

 

( Fontes: Rede Globo, Luigi Pirandello )

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