Não surpreende por que os políticos e as excelências
em geral tenham o presente conceito na opinião pública.
O exemplo não só da turma de Brasília, mas também de
tantas sucursais nos Estados que vêm
contribuindo para essa visão distorcida do serviço público por parte de um Povo
que não sabe no que e em quem acreditar.
Que tal perplexidade possa extravasar em
violência, até o momento, graças à nossa natureza, postas de lado as exceções de
praxe, não tem ocorrido. Contudo é difícil pensar que tal continue a
estender-se como se nada fora.
Mas será que o homem comum
brasileiro - esse que rala muito, sofre nos transportes (caros
e desconfortáveis) e em geral luta para chegar ao fim do mês com comida na mesa
– vai continuar acreditando em Brasília e nos coronéis estaduais?
Pela televisão, as sólitas câmaras escondidas mostram as prevaricações dos
diversos serviços médicos, e as abertas,
o caos nos hospitais públicos, com pacientes agora no chão (ficar nos
corredores, em macas, virou privilégio).
É o mundo cão, com os centros citadinos
abandonados (há um progresso – não são mais crianças, mas os eternos di menores, armados de estiletes – tudo
numa boa, como se dirá, sob a impávida indiferença das otoridades).
No Brasil, entra mês e sai mês, o que há
de perene – além das denúncias com
que a mídia apimenta os seus programas – é
a desculpa da autoridade.
As excelências sabem que há muito perderam a
credibilidade. A tal ponto, que promessas sequer faturam nos programas
humorísticos. Ninguém mais acredita nelas (nem como piada).
Assim como no passado – e põe passado
nisso! – o casaco na cadeira era o passaporte para o remunerado absenteísmo na
repartição, hoje, a desonestidade, ou assume, na respectiva arrogância o
próprio cinismo, e faz da insolência o seu passaporte.
Se vivemos na terra do impostômetro, se a carga dos tributos –
como o antigo cordão dos puxa-sacos - vai aumentando cada vez mais, os resultados
serão sempre pífios.
Fala-se no humor do brasileiro. Diziam
que no carnaval ele florescia. Ainda
aparece aqui e ali, como no cordão puxado por dois populares (o casal petista)
ambos envergando a faixa presidencial, e com o cartaz, o Petróleo é nosso, a Propina é deles.
Esse humorismo até que bem-comportado
parece mais reminiscência do passado. Pelo tamanho da roubalheira, e pelo
cinismo do aparelhamento, ele é, porém, entendido por todos.
As prisões em nossa terra são tão
ruins, que o próprio Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, declara que
prefere morrer a ir para a cadeia no Brasil. Em todos os aspectos, elas são
indescritíveis.
E, no entanto, esses presídios –
como os de Porto Alegre, São Luis e Recife
- continuam impávidos, como se fosse a sua missão refletir no cárcere a
caricatura selvagem da vida lá fora.
Escrevi em outro blog acerca da observação do ensaísta
palestino Edward Saïd, que então
colocara Brasil e Nigéria no mesmo saco, como países sem traços distintivos.
Naquela época, a Nigéria ainda era estado que podia ambicionar um assento
permanente no Conselho de Segurança.
Por enquanto, parecemos fadados a
constituir eterno pretendente a esse símbolo da diplomacia parlamentar: assento
permanente no Conselho de Segurança. Para lograr isso, um Ministro convenceu
presidente a apresentar eterna candidatura, fundada em que temos missões em todos
os países representados na ONU. Para
quê? para nada, como naquele poema
nordestino sobre proezas gaúchas.
Não se contava, é claro, que fosse
sucedido por alguém que deve detestar o Itamaraty, pela maneira com que depena
as verbas da Casa de Rio Branco, a ponto de não poder pagar sequer a
contribuição anual para as Nações Unidas.
Sem querer, essa senhora chegou ao
cúmulo do sarcasmo. Por um lado, continua a pleitear o assento no Conselho de
Segurança. Por outro, sequer lhe dá direito para pagar a anuidade do organismo
em que pleiteia o ingresso no poleiro mais prestigioso.
Na
terra das contradições, e do assim é, se lhe parece, mais uma!
( Fontes: Rede Globo, Luigi Pirandello )
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