A promotora afro-americana Marilyn J. Mosby – eleita para o cargo
há cerca de quatro meses – surpreendeu
Baltimore ao indiciar nesta sexta-feira, 1º de maio, seis agentes policiais, por
prisão ilegal e pela morte de Freddie
Gray.
Mosby, a
promotora estadual para Baltimore, lavrou a acusação pouco tempo após receber o
parecer médico-legal que determinara haver Gray morrido por homicídio.
Note-se, que
na sua investigação, divulgada um dia antes, a polícia procurou afastar
qualquer responsabilidade dos policiais pela morte da vítima.
A medida
tomada pela senhora Mosby foi recebida com uma ovação no Monumento às vítimas da
guerra. Enquanto os afro-americanos manifestavam satisfação, acrescida pela
rapidez do procedimento da promotora, o cordão policial, com uniforme especial
para enfrentar demonstrações violentas, contemplava impassível o júbilo da
comunidade negra.
Conforme o despacho da Sra. Mosby, Gray sofreu
lesão fatal na coluna vertebral a 12 de abril, ao ser transportado pela van
policial. Nada ocorrera quando fora detido. Segundo a promotora, a lesão se
deveu à omissão dos policiais de pôr cinto de segurança em Gray. “O sr. Gray sofreu grave lesão no pescoço, em
consequência de ter sido algemado, com os pés imobilizados por grilhões,
enquanto seu corpo não o foi, sendo deixado
solto no assoalho da caminhonete da polícia de Baltimore.
“A par
disso, apesar de repetidas paradas para verificar da situação de Mr. Gray, o
motorista da caminhonete, policial Caesar
R. Goodson Jr. e outros policiais nunca afivelaram o cinto de segurança da
vítima, que por isso ficou várias vezes com o rosto contra o chão da van, com as mãos presas nas costas”.
A promotora
inculpou o policial Goodson por assassínio em segundo grau, que é o indiciamento
mais grave dentre os seis policiais.
Goodson foi também acusado formalmente de homicídio involuntário,
agressão e má-conduta nas respectivas funções.
Ainda segundo
a promotora, a condição de saúde de Gray se deteriorou, ao ignorarem os
policiais os seus apelos por cuidados médicos, como também não atentaram para os óbvios sinais de
que o seu estado se tornara crítico.
Em certo momento, quando os policiais tentaram ver como ele estava, o
Sr. Gray não respondeu à intervenção policial. Mesmo assim, os seis policiais
nada fizeram. Ele morreu por essas lesões sofridas em uma semana.
A conduta
policial foi censurada pela promotora
quase a partir do instante em que a polícia abordara o Sr. Gray. Não havia motivo provável para prendê-lo, e
por isso a detenção foi considerada ilegal.
Os policiais o acusaram de portar um canivete com mais de uma lâmina,
mas a sra. Mosby afirmou: “A faca não era de lâmina cambiável, e é legal pela lei
do estado de Maryland.”
Os outros
cinco oficiais que participaram da trágica operação policial também foram
indiciados pela promotora. Nesse particular, pesam contra os policiais Edward M. Nero e Garrett E. Miller as
acusações de ataque, má-conduta na operação, e prisão injustificada.
O
sindicato policial defende a conduta dos seis policiais, e requereu da Sra.
Mosby que abandone o caso e o repasse a um promotor especial. Tal pretensão foi
por ela prontamente repelida. Nesse
contexto, Gene Ryan, o presidente do sindicato policial, ponderou que ela tinha
conflitos de interesse, inclusive pelo fato de que foi apoiada politicamente
pelo advogado da família Gray, William H. Murphy Jr. Na mesma linha, o chefe do
sindicato assinalou que o marido da promotora é vereador da cidade de
Baltimore, e que o futuro político dele será atingido diretamente, para o bem
ou para o mal, pelo resultado da investigação da Sra. Mosby.
A
comunidade negra de Baltimore recebeu com júbilo a atitude da promotora. Muitos
esperam que a sua ação contribua para acalmar as manifestações de protesto dos
afro-americanos.
O
Prefeito Rawlings-Blake declarou que a maior parte dos policiais da cidade de
Baltimore tem boa índole, mas acrescentou: “Para aqueles que preferem agir com
violência, brutalidade e racismo, quero ser bem claro: não há lugar no
Departamento Policial de Baltimore para eles.”
Quando a
van policial chegou ao Distrito
Ocidental , e os policiais tentaram removê-lo, Gray não mais
respirava. Convocado um paramédico, se determinou que Gray tivera parada
cardíaca. Ele foi então conduzido às
pressas para o hospital.
O
presidente Barack Obama preferiu não manifestar-se sobre as acusações. Disse
que lhe interessa que o sistema de Justiça funcione a contento. “O que o povo
de Baltimore quer mais do que outra coisa é a verdade. Isso é o que também espera
o Povo americano”.
( Fonte:
The New York Times )
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