A rodada de ontem continuou a
surpreender. A Holanda, franca favorita, penou para vencer a Austrália, em jogo
marcado pela violência, com 43
infrações. A lesão mais grave foi a do holandês Bruno Martins Indi, em
choque com o australiano Cahill. Indi sofreu traumatismo craniano (caíu com o
rosto no chão) e ficará 48 horas em observação no hospital Mãe de Deus, em
Porto Alegre. Van Persie, o centro-avante do gol mais bonito da Copa (o de
cabeça contra a Espanha) levou o segundo cartão-amarelo, e ficará de fora no
jogo com o Chile.
Desse grupo,
veio também a notícia mais surpreendente, com a eliminação da Espanha. Depois da acachapante (e humilhante) derrota
para a Holanda (5x1), a antiga Fúria, com o seu testado paradigma da linha de
passes – em rápidos passes de bate-pronto para manter o domínio da bola,
denegando-o ao adversário – tampouco conseguiu impor-se à equipe do Chile que
com aplicação tática superou a desvantagem técnica.
Vendo
desmoronar-se o time espanhol – de que
era o espelho a imagem do técnico
Vicente del Bosque, que com seu terno e fleuma contrastava com o gestual e a informalidade
do chileno – a fisionomia do veterano orientador técnico se ensombrecia com a
súbita inversão do controle do jogo. Em verdade, não mais se via a posse da
bola sob o domínio da Espanha. Recordei-me de jogo com o Uruguai, em que os
jogadores da Celeste foram levados ao descontrole emocional pela irritante
situação de não poderem sequer tocar na bola, que era mantida na posse da
esquadra espanhola. E, com exasperante facilidade, os espanhóis não se
mantinham no que os perplexos adversários consideravam um antijogo, eis que com
a mesma naturalidade completavam afinal a sua aparente infindável linha de
passe em gol. Seria como se de repente o leitor de um parágrafo, a primeira vista inconsequente, túrgido e cheio
de meandros, chegasse abruptamente a um final que seria o esperado se não
tivesse sido retardado por tanto tempo.
Com esse novo
paradigma técnico os espanhóis tinham arrebatado a Copa do Mundo – que antes
sempre se esquivara da chamada Fúria – e duas taças da Europa. Mesmo com o
ritmo acelerado da pós-modernidade, os
espanhóis foram surpreendidos com a desenvoltura dos adversários, que não mais
os consideravam invencíveis. A seleção brasileira, ao derrotá-los na Copa das
Confederações já tinha prenunciado esse desenvolvimento, que agora se confirma
diante de seleção tecnicamente inferior, mas com aplicação tática que soube
contornar a maior habilidade do time espanhol. Sob a incrementada tensão, também o
goleiro Casillas mostraria falhas antes não detectadas tanto na partida com a
Holanda, quanto no jogo com os chilenos.
Por sua vez,
em resultado esperado, Croácia
prevaleceu sobre os Camarões, que, infelizmente, não se dissociaram do padrão
africano de desorganização tática e regressão técnica, que contrasta com performances
anteriores. Diante desses resultados, o
Brasil só deixará de classificar-se para as oitavas de final se perder para os
Camarões e houver empate entre Croácia e México.
Em falha
gritante da segurança, o Maracanã viveu na quarta-feira, dezoito de junho,
nova invasão de torcedores. A desorganização – com o habitual jogo de empurra
entre Fifa e os órgãos de segurança do Estado – foi determinante para que uma
turba de 150 chilenos derrubasse grade e entrasse no estádio, invadindo sala
de imprensa, com quebra de vidros e danificação de arquivos. Outra vergonhosa falha, foi o arrastão de
furtos de ingressos na saída da estação de metrô do estádio.
O Comitê
Organizador Local (COL) – que também falhou no jogo de Brasil x México em
Fortaleza – se vê incriminado pelas autoridades federais de segurança ao não
exigir das empresas contratadas o emprego do efetivo máximo de vigias.
Hábeis em
montar desculpas, as entidades participantes parecem esgrimir-se mais na autodefesa,
do que em fornecer efetivos confiáveis para evitar as contristadoras e
desmoralizantes invasões, como a de ontem à tarde. A própria avaliação do ‘COL’,
após os acontecimentos é que “a PM precisa mesmo intervir, pois a FIFA está
acostumada a lidar com a torcida em países “mais civilizados” que o Brasil”.
Em vez dessa
guerra de desculpas – que apenas sublinham a incúria e a negligência dos órgãos
encarregados da segurança – o que se deveria alinhar é uma segurança digna
desse nome, com número e preparo suficiente para barrar essas invasões, que
além de desmoralizarem a autoridade local, mandam uma imagem assaz negativa de
nossa incapacidade de lidar com esses
baderneiros. Houve invasão de argentinos no jogo contra a Bósnia, e ontem,
cerca de 150 chilenos invadiram. Parte deles foi presa (88) e será deportada em
72 horas. No entanto, as dúvidas permanecem, eis que os nomes não foram
divulgados, e não ficou esclarecido se os ditos invasores ficarão detidos.
É
contristador o jogo de empurra que tenta
escamotear essa desorganização e a respectiva responsabilidade. Infelizmente às
muitas regras corresponde uma burocrática ineficiência.
Será que o
Brasil não vai mudar nunca ? Será que ao invés de atribuir a culpa ao Outro, os
poderes – municipal, estadual e federal – não poderiam organizar-se para
assegurar o respeito à ordem e à preservação
da segurança dos assistentes ?
Será que isso é tão difícil assim ? E pensam, acaso, que as elaboradas e
torrenciais desculpas enganam o público nacional e internacional ?
( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário