As CPIs governistas
Constitui um desrespeito à opinião pública e à
instituição da Comissão Parlamentar de Inquérito o que foi feito com relação à
composição e pretensa investigação pelo Congresso, com a intermediação do
Senador Renan Calheiros, atual presidente do Senado.
Até o Sr.
Paulo Roberto Costa, ex-diretor da estatal teve a vida fácil na sua arguição
pelos congressistas da base de apoio do Governo. A despeito da ficha deste
senhor – posto em liberdade por liminar do Ministro Teori Zavaski – as fotos de
seu ‘interrogatório’ de parte governista, com troca de sorrisos, mostra a falta
de seriedade em propósito de aclarar os escândalos na Petrobrás.
As deferências
dessa CPI ‘chapa branca’ não livraram o ex-diretor da Petrobrás de que fosse
deferida a solicitação da Policia Federal para que este senhor voltasse à
prisão. Tratado com mesuras pela dita
CPI – que teve relatoria e presidência açambarcadas por parlamentares da base
de apoio – Paulo Roberto Costa foi novamente preso, por oportuna iniciativa da
Polícia Federal. Assinale-se que teve US$ 22 milhões bloqueados na Suiça, e por
isso a PF fez valer o real perigo de fuga para o exterior que representava para a Justiça a
circunstância de que o ex-diretor da Petrobrás dispusesse de outros
substanciais fundos no exterior.
Se uma
lição deve ser retirada desse embuste eleitoral que constitui a CPI chapa
branca, será a de que toda Comissão Parlamentar de Inquérito – cujo objetivo
não é o de mascarar a verdade, mas sim apresentá-la nua e crua – deva ter os
seus dois principais cargos distribuídos entre governo e oposição. Nesse
sentido, a presidência da CPI ficaria com o governo e a relatoria com a oposição. A composição de seus demais membros deveria,
igualmente, ser distribuída por situação e oposição.
Essa
prática, favorecida por Renan Calheiros, de transformar a CPI em fábrica de
pizza, além de antiética, não corresponde aos precípuos fins dessa instituição
parlamentar. Ela não é constituída para mascarar a verdade, mas sim para
desnudá-la. Seria importante que o regimento do Congresso e das duas Câmaras
estipulasse a composição para as CPIs. Pois elas não existem para favorecer o
governo, mas sim para chegar à verdade, doa a quem doer. Tudo que contrarie tal
orientação não passa de estelionato político-eleitoral.
Ainda os sovietes de Dilma Rousseff
A entrevista à
imprensa de Aloizio Mercadante, atual Chefe da Casa Civil, em resposta ao
discurso do Presidente da Camâra, Henrique Alves, seria para sinalizar que a
Presidenta não pretende recuar quanto ao seu decreto (inconstitucional) que se
propõe estabelecer conselhos .
Dado o
caráter legislativo desse decreto, uma vez escolhida a opção executiva, não há
negar que a Presidenta esteja desrespeitando os poderes do Congresso. Deseja
colocar Câmara e Senado diante de um fato consumado. É nisto que reside a inconstitucionalidade do
decreto. Dilma está usurpando uma função
própria da instância congressual, conforme prescrito pela Constituição. Se
julgasse que a idéia de Franklin Martins merece constar do arcabouço legal
brasileiro, para ater-se à norma constitucional deveria ou mandar mensagem ao
Congresso, para que as duas Casas apreciassem a proposição e a aprovassem,
emendassem ou rejeitassem. Também estaria dentro da via constitucional, se o
fizesse por medida provisória (MP), que pode ser aprovada, com ou sem emendas
pelo Congresso, ou mesmo rejeitada. O
que a Presidente não pode fazer é substituir-se ao Congresso, legislando por
via de decreto, como se estivesse na Venezuela, no Equador, e em outras
paragens do poder do neo-populismo chavista.
Só se pode
interpretar esse decreto como sintoma do desespero diante de um malogro
eleitoral. Faltando os votos, pensará
ela que todos os que arrebanhar serão válidos ?
Talvez não contasse com a reação dos dois chefes do Congresso, em geral
submissos. Desta feita, os presidentes
Calheiros e Alves encareceram à Presidenta a revogação do decreto já batizado
de ‘bolivariano’, pelo seu conteúdo. Com efeito, o tal decreto obriga os órgãos
da administração pública a incluir em suas instâncias decisórias conselhos
formados por ‘movimentos sociais’ da ‘sociedade civil’.
Conforme se
refere, o mais provável é que tais ‘conselhos’ serão integrados pelo crescente
grupo de pessoas para quem o “ativismo” virou profissão, a maioria constante de
alguma folha de pagamento de Gilberto de Carvalho, ministro (sem pasta) com
gabinete no Palácio do Planalto, e que seria o financiador dos manifestantes
profissionais no país. Se esse quadro,
esboçado pela revista VEJA se confirmar, a gravidade de uma tal ingerência
institucionalizada pelo decreto bolivariano
não carece de ser enfatizada.
Nas próximas semanas, em ambiente tomado
pelas atenções voltadas para a Copa, se testarão as alternativas
constitucionais para derrubar o decreto. São indispensáveis – se a Presidenta
não recuar – os votos de 257 deputados e de 41 senadores para inviabilizar esse
monstrengo dos sovietes, que se pretendeu instaurar na surdina. Estarão acaso
disponíveis ?
A queda de Eric Cantor, líder da maioria na Câmara de Representantes.
Eric
Cantor não é um deputado qualquer. Até a semana passada, era o segundo da Casa
de Representantes, com o título formal de Líder da Maioria. A autoridade máxima
da Câmara Baixa nos Estados Unidos é o Speaker John Boehner, do Ohio.
Ambos são
republicanos, e dominam a Câmara em resultado do eleição intermediária de 2010.
Causada pela famigerada tunda (shellacking), resultado da inexperiência do
novel Presidente Barack Obama, essa perda do controle de uma das Câmaras foi
desastroso para o Povo Americano, eis que possibilitou, através das assembleias
estaduais, o redesenho das circunscrições eleitorais, de forma a favorecer o
GOP. Como 2010 era ano para readequar as bancadas ao censo, o Partido
Republicano se valeu da oportunidade para estabelecer nos estados em que ganhou
a dita eleição o redesenho dos distritos eleitorais, i.e., o chamado guerrymandering.
Por isso,
até hoje a Câmara de Representantes continua a ter maioria republicana, ainda
que diminuída. Esse triste fenômeno ficou bastante evidente – conforme
examinado por politólogos de nomeada, como Elizabeth
Drew – e na prática garante a permanência da Câmara de Representantes sob o
domínio do Partido Republicano.
Os
estudiosos da matéria tinham, no entanto, apontado para um fenômeno colateral.
Os deputados eleitos por esses distritos remanejados teriam a eleição
garantida, a menos que surgisse uma
contestação de parte da ultra-direita.
Como o redesenho da circunscrição aumenta a maioria que normalmente vota
com a direita, se o voto pro-democrata não tem qualquer chance, a única
possibilidade vem da direita, e máxime daquela próxima ao Tea Party, o movimento de ultra-direita conservadora, que surgira,
com as benesses dos irmãos petroleiros Koch, em 2010, em reação ao
‘esquerdismo’ vitorioso em 2008 (em consequência da gestão ruinosa de George W.
Bush e a grande recessão, de que a
falência do Banco Lehman Brothers
tornara inevitável).
Foi o que
ocorreu no distrito seguro (para o GOP),
de Richmond, na Virgínia, até hoje representado pelo deputado Eric Cantor. Ele foi derrotado em votação primária por
David Brat, um professor universitário, de linha ultra-conservadora.
Como se
verifica, por conseguinte, a ironia
imanente neste processo de gerrymandering
é a de que, se em geral torna seguro (apesar da ilegalidade formal do
processo) o posto para o representante do GOP,
não garante que ele seja derrotado por um elemento à sua direita.
O Cara de Pau Vladimir Putin
O recém-empossado
(no sábado, 7 de junho de 2014) Presidente Petro
Poroshenko parece destinado a fazer um rápido curso quanto ao
valor a ser dado às assertivas de gospodin Vladimir Putin, Presidente da
Federação Russa.
Poroshenko,
além de um aperto de mão a Putin nas praias da Normandia, ao ensejo dos setenta
anos do Dia D, já falou com o presidente russo por telefone
posteriormente. Sem embargo, terá de
julgá-las à luz de vazamentos posteriores, em que a disposição para a paz do
Kremlin sai um tanto prejudicada.
Depois da
anexação da Crimeia, a irrupção do movimento pró-separatismo nas províncias
orientais da Ucrânia, notadamente em torno da bacia de Donetsk, e a repatriação
dos cadáveres de ‘voluntários russos’ mortos em choques com as forças
comandadas por Kiev, surge agora mais uma prova do envolvimento de Moscou nos
distúrbios naquela região, que tem sido objeto de campanha sustentada pró-união
com a Rússia.
Malgrado as
promessas do presidente Putin de que as tropas na fronteira (os cerca de
quarenta mil homens na cabeceira da linha férrea, que vai de Kharkiv até
Donetsk) estariam sendo retiradas, ‘apareceram’ na Ucrânia oriental tanques
russos (que embora obsoletos pelos padrões atuais, serviriam para o gasto dos
pró-separatismo). Aqui, uma vez mais, cabe aquela velha pergunta da sapiência
nordestina: quem botou o jabuti no ramo da árvore (pois todos sabemos que
jabuti não sobe em árvore). Talvez
Vladimir V. Putin continue orientando o seu Ministro Sergei Lavrov a dizer
mentiras diplomáticas, enquanto vai tentando desestabilizar as províncias orientais
ucranianas. Quem sabe, o presidente russo deseje apenas uma faixa territorial
no leste, para dar-lhe um melhor acesso por terra à sua mais recente conquista,
i.e. a península da Criméia. Enquanto
essa estratégia não for muito onerosa em termos de sanções, Putin continuará
melífluo e cooperante ao telefone, mas um pouco menos no dia-a-dia, eis que tem
de atender a voluntários e quejandos na Ucrânia oriental...
(Fontes:
Folha de S. Paulo, O Globo, VEJA, New York Times, The New York Review)
Nenhum comentário:
Postar um comentário