Os primeiros
assessores militares prometidos por Barack
Obama já começam a chegar para o teatro de operações no Iraque, mas por
foto divulgada pela imprensa o funcionário americano mais incômodo para o
cambaleante governo de Nuri al-Maliki semelha ser o
Secretário de Estado americano, John
Kerry.
Na
fotografia, divulgada por O Globo,
não há traços de calor humano, ou dos sorrisos tipo ‘noblesse oblige’[1] que costumam aparecer em tais ocasiões.
Nem o carrancudo Kerry, nem o desconfortado Maliki (que parece ter problemas
com o colarinho) fazem qualquer esforço de aparentar cordialidade. O único
aspecto mais light é o da intérprete que troca sorriso com alguém
não visto na foto.
No entanto,
Kerry mostrou-se satisfeito com os resultados da reunião. A Casa Branca já manifestara a conveniência
de que al-Maliki renunciasse como passo necessário para conter a insurgência
sunita. Sem embargo, ao cabo do encontro, se colheu a promessa do Primeiro Ministro
(no poder desde 2006) de montar um gabinete até o dia primeiro de julho p.f.
Havendo os
Estados Unidos solicitado o afastamento do xiita al-Maliki, cuja política
facciosa (e excludente da minoria sunita) constitui o principal motor da ofensiva
do Isis (Estado Islâmico do Iraque e
da Síria), sem embargo, John Kerry saiu da reunião satisfeito. Tal se
deve muito provavelmente à circunstância de que o Primeiro Ministro lhe terá
dado elementos para que confie na sua palavra. Com efeito, o Primeiro Ministro
reafirmou seu compromisso com a data de 1° de julho para a solução da crise no
governo do Iraque. O futuro dirá se a palavra de Maliki – com os elementos que
terá fornecido - merece o crédito que lhe foi dado pelo Secretário de Estado
americano.
A reunião,
que se desenrolou em ambiente por vezes tenso, terá pela promessa do Primeiro
Ministro alcançado o seu objetivo.
Kerry, dentro de seu propósito de viabilizar uma solução política para
enfrentar o desafio do Isis, também
se reuniu com o influente clérigo xiita Ammar al-Hakim, e os dois expoentes
sunitas, Osama al-Nujaifi, presidente
do Parlamento, e o vice-primeiro ministro
Saleh al-Mutlaq.
Entrementes, os jihadistas do Isis consolidaram a sua posição no norte
do Iraque, tendo assumido o controle de postos fronteiriços em disputa: o de
al-Walid, junto à Síria, e o de Trebil, com a Jordânia. Nesse momento, o Iraque
estaria separado pelo exército do Isis de qualquer contato nos postos de
fronteira do Iraque com a Siria e a Jordânia.
Por
enquanto, existe a clara ameaça de que o Iraque se esfacele, sob o controle de
poderes rivais: os curdos no norte, os insurgentes (jihad) sunitas ao norte e
ao centro, e a maioria xiita no sul, esta sob os nervosos olhares de Ali
Khamenei, o líder supremo da teocracia iraniana.
Depois do
pavoneado desembarque no porta-aviões Abraham
Lincoln do uniformizado Presidente George W. Bush, sob o slogan “Missão
Cumprida”, semelha que as coisas não saíram como Bush Jr. e o seu grupo
neo-conservador imaginaram, em termos de situação iraquiana. O carrossel vienense de Arthur Schnitzler[2]
reserva para os sucessores do bicho-papão Saddam
Hussein surpresas para eles imprevistas, mas demasiado humanas e
previsíveis para outros que não o então Vice-Presidente Dick Cheney e o
Secretário da Defesa Donald Rumsfeld, cuja
responsabilidade nessa tragédia americana tem sido magistralmente descrita por Mark Danner, em The New York Review.
Após ter
contribuído para a vitória eleitoral de Barack Obama (pela sua oposição à
aventura militar iraquiana de Bush Jr.), a ironia de que o fantasma do Iraque –
cuja guerra ruinosa sangrou o erário da Superpotência em mais de um trilhão de
dólares) – retorne agora, com as vestes diferentes de um mesmo problema, para a
administração Obama, com fortes e
inquietantes indicações de uma revisitada maldição (começada, é bom lembrar,
com os assessores militares mandados
por Eisenhower para outro teatro militar), mas com iguais danosos resultados,
como foi a experiência do Vietnam
para os Estados Unidos...
( Fontes:
O Globo, The New York Review of Books )
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