domingo, 22 de junho de 2014

Colcha de Retalhos B 24

                                 

Apatia, desalento ou perplexidade?

 
      A Constituição de 1988, dispondo sobre os direitos políticos, abre o alistamento eleitoral e o voto, porém de forma facultativa, aos maiores de dezesseis e menores de dezoito anos (Capítulo IV, Dos Direitos Políticos, art. 14, II, (c).

      Essa extensão do direito do voto antes da maioridade plena encerra algumas contradições. Com mais de dezesseis e menos de dezoito, o jovem é considerado com discernimento bastante para eleger o presidente da república, o governador do estado respectivo e a escala descendente de políticos que aspiram a cargos nos respectivos legislativos federal, estadual e municipal.

     Não obstante, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) adota um enfoque concessivo no que tange à culpabilidade penal. Nenhum brasileiro entre dezesseis e até completar dezoito anos pode ser indiciado e julgado no que tange a crimes e delitos, não importa a respectiva gravidade.

      Em função dessa benevolência o Estado assiste impotente a jovens transformarem-se em criminosos seriais. Sabem que estão imunes a qualquer imputação. Nesse sentido, formam o contingente dos de menores, que chegam em certos casos, voluntariamente ou não, a se colocar nesse peculiar mercado para oferecer seus serviços, ou assumirem a alegada responsabilidade de delitos que não cometeram, o que fazem pelos mais variados motivos, inclusive os torpes e oportunistas.

       Também essa concessão da chamada Constituição Cidadã – a atribuição do direito do voto para aqueles que completam dezesseis anos – vem sendo, na prática, enjeitada ou ignorada por um número crescente de jovens.  Segundo dados - que presumo procedentes do Tribunal Superior Eleitoral - somente 25% da população de 16 e 17 anos têm hoje o título de eleitor.  O pior, é que esse percentual está em curva para baixo:  em 2010, quando da última eleição presidencial, era de 32%;  e quatro anos antes, em 2006, alcançava 39%.

        Qual é a opinião do jovem atual sobre a política e os políticos? A mensagem das caminhadas do passe-livre, surgidas em São Paulo e alastradas por todo o Brasil, era a do reconhecimento da corrupção, endêmica ou não, na política da atualidade, e a desconexão dos governos da sociedade.  O grito de junho de 2013 : “Vocês não me representam” não ecoou só nas ruas da Paulicéia, mas chegou aos palácios de Brasília e ao Congresso das quartas-feiras, infundindo nesses senhores medo e a adoção de medidas moralizadoras – como a votação aberta das cassações – que antes seriam não só impensáveis, mas decerto provocariam na maioria dos parlamentares risos de mofa.

        Como a labareda nas campinas, a revolução pode assustar. Por isso, enquanto surge e avança, a maioria das excelências se esconde ou até mesmo vem a público engrolar-lhe as  palavras de ordem. Pois muitos dos políticos e a escumalha que os cerca  contam com o seu caráter efêmero. Por isso, cinicamente repetem os slogans e se fingem convertidos. Enquanto esperam que tudo volte a ser como dantes no quartel de Abrantes.
 

A  escolha do PSB  de Eduardo Campos

 
            Faz tempo que o problema se colocou. O mandachuva no Partido Socialista Brasileiro parece ter esquecido a sua fonte ideológica de esquerda. Pelo visto, opta agora pelo oportunismo, na sopa das letras partidárias de Pindorama. Pois não é que Eduardo Campos,  nos dois principais colégios eleitorais do Brasil, prefere renunciar à disputa do posto principal dos cargos, para aliar-se em São Paulo e Rio de Janeiro a siglas rivais no âmbito federal ?

           Desde muito se sabe que Marina Silva, da Rede Sustentabilidade (que teve denegada a inscrição pelo TSE, por estranha contestação de cartórios eleitorais no ABC paulista, dominados pelo PT, e que arguiram uma torrente de falsidade nas firmas dos eleitores que subscreviam o partido de Marina) discorda dessas alianças com o PSDB em São Paulo, e o PT no Rio de Janeiro.  Dessarte, um pessebista será o vice da chapa de Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo, e o ex-jogador Romário – que já progrediu bastante na política para não mais confundir PSDB com PSB – para disputar o Senado na chapa de Lindbergh Farias (PT).

           Pelo visto, não importa muito a orientação política da chapa a que se associa, para altos cargos inda que secundários, o partido do senhor Campos. Ignorou os reclamos de Marina – que, pelo visto, os engoliu – para colher, segundo aquela conhecida lei, vantagens eleitorais e se possível maximizá-las.

           Com a breca, a coerência. Que é também, não custa lembrá-lo, apanágio da sua Vice.

           Pensa que será assim, com a escolha do oportunismo, que progredirá nas pesquisas?

 

A Convenção do P.T.

 

          O partido no poder – e breve completará doze anos no Palácio do Planalto – será sempre o mesmo no que tange à respectiva auto-indispensabilidade. Assim, lobrigará sempre nas hostes adversárias a ameaça do caos. Propõe-se continuar não por egoísmo, mas por altruísmo...

          Se as pesquisas apontam um denominador comum é o desejo de mudança dos brasileiros. Não vê ironia, nem deslavado oportunismo em proclamar-se a campeã da mudança.

          Em matéria de promessas, Dilma acena com Plano de Transformação Nacional e indica como prioridades a desburocratização, a ampliação do acesso à internet, a educação e reformas do sistema político e de serviços públicos.

          Ela que nos trouxe a inflação de volta, acena agora com novo ciclo de desenvolvimento. Apesar do encenado otimismo, pairava na Convenção uma atmosfera de fim de reinado. Como sublinha Eliane Cantanhêde na sua coluna, “o grito de guerra do PT passou a ser   ‘nós’ contra todo mundo, contra tudo  e todos os que não votam – ou não votam mais – no partido.”

            A agressividade, as sovadas teclas contra a diabolizada mídia, ficaram mais por conta dos discursos de Lula da Silva, o criador de postes, e de Rui Falcão, o presidente do PT.

            Para variar, Lula atacou a “mídia que golpeia, falseia, manipula, distorce, censura e suprime fatos no intento de nos derrotar”.  E disse, sem trepidar, que ele e Dilma mostrarão ser possível “criador e criatura viverem juntos em harmonia”.

            Entrementes, como se vissem e ouvissem outras realidades – que não se mostram aos gerarcas do PT -  o PTB anuncia que rompeu com o governo Dilma Rousseff e apoiará a candidatura de Aécio Neves.  Por seu lado, o Solidariedade oficializou em convenção, a aliança com Aécio.

 

 

(Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo)

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