segunda-feira, 9 de junho de 2014

Conselhos Populares ou Sovietes ?


                           

      Acuada pela queda nas pesquisas e com o fantasma do Volta, Lula  por aí, a Presidenta optou por ceder aos radicais do PT: segundo noticia Merval Pereira em sua coluna, Dilma aceitou discutir uma regulação econômica da atividade,  que é uma das facetas do chamado controle social da mídia, e constitui mais uma criatura do projeto levado adiante por Franklin Martins.
      Assim, em surdina, Dilma Rousseff assina decreto instituindo conselhos populares nos diversos níveis de atuação do Governo. Ao proceder dessa forma, ressuscita os famigerados sovietes[1]. Para apressar a derrocada terminal do tzarismo, já por terra, golpeado de morte pela vergonhosa derrota pelo exército do Império alemão, e o débil governo constitucional de Kerenski, os líderes bolcheviques Lenin e Trotzki se empenharam em levar a ansiada revolução às últimas consequências. Nessa política de desordem programada, os conselhos revolucionários (sovietes) dos primórdios da Revolução Russa se encaixavam à maravilha, estabelecidos nas indústrias e nas forças armadas, eis que essa estratégia interessava aos líderes Lenin e Trotzki para a  desestabilização do poder estatal pré-existente. É nesse sentido que se deve interpretar o slogantodo poder aos sovietes!” repetido como mantra pelo líder e ideólogo da revolução bolchevique, Vladimir Ulianov, dito  Lenin.

      Que se pense em sã mente em trazer esse avantesma  histórico para o Brasil atual diz duas coisas: a falta de senso histórico-político e de respeito ao Legislativo pelo seu  proponente-mor, Franklin Martins que como o personagem da ficção cartunística tem uma idéia fixa,  assim como do desespero de Dilma em recorrer a todos os expedientes para sustentar o seu claudicante projeto presidencial e afastar os mouros da costa, esses últimos sendo as forças que, inquietas, com a sua queda nas pesquisas pensem cada vez mais na intervenção salvadora do supremo líder partidário, Lula da Silva.

      É confrangedor que a criatura de Lula, o seu primeiro ‘poste’, não trepide em valer-se de tais meios para tentar arrimar-se na corrida pela reeleição. Associar-se a quem, na democracia brasileira, pensa apropriado reexumar tais conselhos populares, levanta dúvidas concretas sobre o respectivo domínio da realidade e de que instrumentos se deva servir na luta pela sobrevivência política. Para Lenin, o grande agitador trazido em trem de ferro do Reich para a estação de inverno de São Petersburgo, em um golpe à altura da confusão mental do último Kaiser alemão, Guilherme II, representara ocasião para desestabilizar Kerensky e seu governo constitucional, e assim, segundo a teoria de o quanto pior, melhor, apressar a queda da ordem preexistente. Para isso lhe serviam os sovietes, que logo seriam afastados, uma vez implantado, com mão de ferro, o domínio bolchevique. Não só que o senhor Martins deseje trazê-los para o Brasil, mas também e sobretudo que a Presidenta concorde em estabelece-los, como se aqui não houvesse Congresso, muito diz do respectivo discernimento e do desespero em valer-se de qualquer meio – até os inconstitucionais – desde que lhe aproveitem na tentativa de conseguir a reeleição.

      Como se assinala, essa proposta destrambelhada é inconstitucional.  Assim, numa democracia representativa, a exemplo da que aí está, tal papel cabe aos parlamentares eleitos pelo voto direto do cidadão, e não a movimentos ‘institucionais’ e mesmo ‘não institucionalizados’ como o tal decreto assinado pela Presidenta chega a prever. Nesse sentido, interveio o Presidente da Câmara, Henrique Alves, solicitando ao dílmico Governo que cancele o decreto e submeta a proposta ao Congresso através de projeto de lei.

     A proposta é julgada inconstitucional, dada a sua criação fora dos parâmetros estabelecidos pela Constituição. A única maneira de corrigir tal abuso seria tramitar a proposição pelas instâncias competentes, no caso Câmara e Senado, que tratariam desses ‘conselhos’, os quais ficariam submetidos às instâncias constitucionais. Embora a proposta do presidente da Câmara tire dos tais sovietes a feição de ‘democracia direta’, o instituto ainda ressuma de radicalismo tão despropositado, quanto inconstitucional.
      Essa seria a saída de Henrique Alves para o intento de legislar “atropelando o Congresso e as instâncias jurídicas apropriadas”, nas palavras do jurista e filósofo Roberto Romano.

      De qualquer forma, esse bebê de Rosemary bem reflete a confusão reinante no Planalto, e os arreganhos da ultraesquerda do PT, sempre disposta a pescar em águas turvas. Por isso, se afigura a muitos mais republicano que o Presidente da Câmara Henrique Alves colocasse em votação  Decreto Legislativo que varresse esse avantesma de decreto presidencial, que bem reflete o atual desespero de Dilma Rousseff e seu governo.

 

(Fonte subsidiária: Merval Pereira, em O Globo de 8.VI.2014)



[1] Soviete significa conselho em russo.

Nenhum comentário: