O grevismo continua a pleno vapor. A
Copa do Mundo que seria o pretexto, na verdade, constitui apenas um dos motores
das paradas que se sucedem dentre os diversos ramos da atividade econômica.
A chamada Constituição Cidadã abriu demasiadas portas para as greves. Uma de
suas grandes falhas está em permitir interrupção de serviço a título
reivindicatório em atividades havidas como essenciais. O que nunca tinha sido
tolerado no passado nas demais cartas
magnas, hoje virou letra morta, com o grevismo na polícia e na saúde. Há
exemplos gritantes, indicativos do cinismo prevalente, na segurança, com greves
que são portas abertas para assassinos e ladrões (a exemplo de Brasília, com a
famigerada operação tartaruga e em Salvador, esta última com repeteco em curto
e funesto intervalo).
Mas o abandono de princípios cardeais
da profissão médica tem-se transformado em linha auxiliar dos necrotérios, como
acaba de ocorrer em hospital de Laranjeiras, com os senhores médicos em greve,
e por isso denegando as indispensáveis atenções no campo da cardiologia. Como
se pode classificar a morte de um pobre paciente, diante da porta do nosocômio,
porque os senhores doutores estão de braços cruzados ? Pouco importa que sejam
cardiologistas diante do infeliz acometido de forte dor no peito, a implorar
atendimento às portas do hospital ! A negativa do atendimento, surda ou
afirmada, não pode ser quebrada. O que
esperar dessa gente que não mais acredita no juramento hipocrático e no dever
de empenhar-se em salvar vidas?
Ao invés de PECs (proposta de emenda constitucional) inúteis ou lesivas ao
interesse público (como a retirada de atribuições do Ministério Público em
favor da Polícia federal que só não vingou pelo temor parlamentar com os
movimentos de rua em 2013), poder-se-ía encaminhar a reforma da Constituição
vigente no capítulo das atividades essenciais para a população em termos de
saúde e segurança. Em má hora, a Constituição de 5 de outubro de 1988 resolveu
inovar aonde não devia, possibilitando interrupções do serviço nestas áreas
ditas essenciais, em que a parada do serviço pode levar à morte, seja em
logradouro sem policiamento, ou em hospital abandonado pelos médicos.
Não se menciona, mas não é só
oportunismo de chacal – como nas greves da Copa – mas também no contágio pela
inflação do governo Dilma, que os braços se vão cruzando nos setores os mais
diversos.
Depois da patética desculpa do
Ministro Guido Mantega diante de um PIB que é um dos mais baixos em toda
a história republicana – ao atribuir a culpa à inflação – tudo há de parecer
possível. Das duas, uma: ou pensa dirigir-se a público de baixíssimo quociente
de inteligência (QI), ou acredita que a Administração Dilma nada tem a ver com
a carestia...
Em qualquer outro contexto, a
chefe do governo já teria despedido o seu ministro da Fazenda. Tal não ocorre
porque esse governo parou, num melancólico congelamento, em que suas
providências – como a da senadora Gleisi
Hoffmann, que tentou censurar o IBGE
por causa da PNAD contínua – devem
ser politicóides e não técnicas. É uma tática rudimentar, que se cinge a
inviabilizar o trabalho de agências que se empenham em funcionar, como o IBGE. A PNAD contínua assinala maior taxa de desemprego. Apesar de
conformidade factual, ela se torna anátema para o oficialismo, que não está
interessado na exação estatística e sim em dados favoráveis.
O governo dos quase quarenta
ministérios está parado na prática. A ineficiência campeia, como se verifica,
para vergonha nacional, nos atrasos na renovação dos aeroportos para a Copa.
Como explicar a situação do Galeão que continua padrão-Brasil, senão pela
incapacidade da gerentona Dilma fazer funcionar – mesmo que de forma rudimentar
e mínima – a máquina da burocracia administrativa. Os comentários na imprensa –
como a página memorável de Marco Antonio
Villa - O Governo Acabou – registram
monotonamente uma situação de fato, que é a do descalabro administrativo.
Sem embargo, o Partido dos
Trabalhadores e Dilma Rousseff continuam
a esperar uma vitória nas urnas. Tal se
deveria precipuamente a um truque do
aparelhamento petista e da quebra da imparcialidade da máquina estatal, que
faria o milagre de conseguir uma vitória nas urnas, não por oferecer melhores
perspectivas político-administrativas, mas por instrumentalizar o Erário público para
‘motivar’ um voto de cabresto, financiado pelo dinheiro do contribuinte. Com
isso, o PT lograria a quadratura do círculo: a sua força estaria não no
convencimento do eleitorado, mas em angariar apoio através do assistencialismo
e áreas congêneres para garantir sua virtual perpetuação no poder! É por isso
que o PT e Dilma encaram com enfado promessas que mobilizem a população: estão
interessados em atrelar esses setores dependentes do neo-populismo ao seu
próprio projeto, que dessarte se eternizaria.
É por essa razão que o aspecto
ético – além daquele programático – não mais orienta a real atuação desse
partido. Como podemos explicar que um acordo do PT com Paulo Maluf seja
definido por Rui Falcão como de princípios ? E a presença do deputado estadual
petista Luiz Moura, ex-presidiário e que se reuniu com membros do PCC? Sem
falar, no ex-vice presidente da Câmara, André Vargas (hoje sem partido-PR), afastado
que foi do PT, mas que ainda se mantém
no Congresso, submetido a processo disciplinar no Conselho de Ética na Câmara, pelos seus profusos contatos com o doleiro
Alberto Youssef (270 mensagens de texto trocadas!)
E o ex-Ministro da Saúde Alexandre
Padilha, também do PT, e atual candidato à governança de São Paulo nega de pé
junto que tenha tido envolvimento com o
doleiro Youssef. Investigação da Polícia Federal aponta nesse sentido para que
seus muitos contatos com o doleiro não lhe prejudiquem a candidatura à governança de São Paulo...
Onde está o partido ético que se
empenhava em mostrar rigorismo implacável e até pendores xiitas ao expulsar os
deputados Beth Mendes, Airton Soares e José Eudes, porque ousaram sufragar a
candidatura indireta de Tancredo Neves ? Bastou ao partido de Lula, então pequeno mas xiita no
rigor, que os três deputados descumprissem a consigna de abster-se na votação...
( Fonte: O
Globo )
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