Não é só na Federação Russa, em que o regime de Vladimir Putin persegue a seus críticos e manifestantes, chegando ao extremo de alvejar tanto o opositor, com largo apoio na opinião, quanto os anônimos e desimportantes, como se verifica no processo montado contra o famoso Boris Navalny, quanto na ação que culpabiliza obscuros manifestantes, cuja aparente único erro é o de engrossar comícios da oposição ao imperante governo.
Os governos absolutistas, como o dos tsares, só tendem a tropeçar sob o impacto de grandes desastres. A revolução de 1905 na Rússia foi consequência da derrota perante o Japão em Port Arthur, mas como na fábula de Simões Lopes Neto seria necessário um mal maior para que os sofridos súditos do tsarismo dele se vissem livres.
No Irã, o regime dos ayatollahs acaba de montar o que se tornara, com a vitória fraudulenta de Ahmadinejad (e a posterior repressão do movimento verde), acintosa burla da democracia. Para o Supremo Líder Ali Khamenei devem ir para o diabo todos os que duvidam do processo. Tais embustes, no entanto, não iludem a ninguém, salvo os próprios criadores. Já vai longe o tempo de Mossadegh, a vítima de golpe da CIA, apeado do poder porque contrariara as ávidas empresas ocidentais que exploravam o petróleo persa; assim como a derrubada do governo progressista de Jacobo Arbenz, na Guatemala.
Se os seus fautores dormem todos profundamente com Totônio Rodrigues, as trapalhadas que aprontaram, pela própria sede insaciável aliada à míope visão, continuam cada vez mais intrincadas, à espera de algum novo salvador ou ainda maior desgraça.
Na América do Sul, depois da vaga de ditaduras militares do século passado, Hugo Chávez Frias, de que Garcia Márquez, embora impressionado pelas boas intenções, entrevia, pressago, o perigo de que emulasse a outros caudilhos, nos deixa uma safra apreciável de seguidores, uns caricatos, outros menos. Ressuscitara alguns, como Daniel Ortega, na Nicarágua. No Equador, o antigo mestre-escola, Rafael Correa aperfeiçoa o sistema de controle da imprensa, com sanções a jornalistas e publicações, além de lançar o conceito de ‘linchamento midiático’, que proíbe difusão de informações que desacreditem pessoas ou instituições.
O leitor decerto reconhecerá nesse vitorioso controle da opinião o que a esquerda petista, com o ex-Ministro Franklin Martins e outros, com o projeto da regulamentação da mídia, se propusera impingir em Pindorama, temerosos sempre das notícias e do seu eventual viés tendencioso.
Na Bolívia, Evo Morales, agora e sempre no poder, descumpre o direito de asilo e não concede a político abrigado na missão brasileira o que antes nem os militares denegavam, a saber, a faculdade de transferir-se para o Brasil, para aí valer-se do asilo territorial. Talvez a falta de autoridade do governo de Brasília – que nos tempos de Lula da Silva chegara a conviver com ilegal invasão de propriedade da Petrobrás em terra boliviana – torne possível esse descumprimento do direito de asilo pelo eterno presidente Morales.
Não se confunda, de resto, solidariedade política como motivo para atentar contra o interesse nacional. D. Dilma tem permitido à viúva de Kirchner pôr e dispor em matéria de Mercosul. Sofrem com isso os nossos exportadores, mas para disfarçar a incompetência do regime peronista esse vale-tudo é tolerado. Enquanto, entre panelaços da crescente oposição, a presidente Cristina se prepara para a travessia de mais uma eleição, com o arrocho político da imprensa.
Entrementes, há de tremular no cárcere hospitalar de Kharkov, ao lado do catre da prisioneira política Yulia Timoshenko, a teimosa esperança de que algum dia o tirano da vez, Viktor Yanukovich, presidente de todas as Ucrânias, resolva abandonar o gradualismo dos anódinos indultos, e afinal se decida a desfazer todo o emaranhado falsamente jurídico que os seus comissários urdiram à volta desta mártir, a quem se desejara tornar irrelevante com os delgados e amarelecidos véus do olvido.
(Fontes: O
Globo, Folha de S. Paulo )
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