Um Republicano para o FBI
O presidente Barack Obama indicou James Comey para suceder a Robert Mueller na chefia do Federal
Bureau of Investigation (FBI). A posse efetiva de Comey só
ocorrerá, no entanto, depois da sabatina pelo Senado. A bancada republicana,
posto que minoritária na Câmara alta, tem sido obstáculo e tanto para as
nomeações de Obama, em seu segundo mandato. Daí, a indicação presidencial não
daria ao eventual designado a certeza do exercício do cargo.
O
próprio fato de ser republicano – como o é James Comey – não aumenta
necessariamente essa possibilidade. O ex-Senador do GOP, Chuck Hagel,
enfrentou verdadeira batalha (sem trocadilho) para lograr a sua confirmação
pelo Senado, como Secretário da Defesa.
Terão contribuído para tal resistência extrema notadamente dois fatores: (a) o
clima antagônico existente no Senado, onde qualquer aparência do bipartidismo
no que tange a postos importantes e questões de óbvio interesse nacional é hoje
simples lembrança de passado remoto; (b) a circunstância de Hagel ser amigo de
Obama e, sobretudo, pertencer à ala
moderada do Partido Republicano, atualmente espécie em rápido processo de extinção. Há várias outras indicações do atual presidente, dentre essas chefes de agências importantes – como a da defesa do consumidor (o que é anátema para o GOP, defensor de grandes empresas)– e de juízes para tribunais superiores que estão na gaveta, pelas táticas dilatórias da bancada minoritária, a principal delas sendo o emprego do filibuster.
A situação perdura em parte pela atitude do líder da maioria democrata, Harry Reid (Nev/Dem), que, apesar de dispor de apoio bastante para reformar o regimento do Senado – na famosa regra 22, que facilita o filibuster, dada a maioria qualificada de sessenta senadores (em cem) que é hoje indispensável para ab-rogar esse recurso da minoria – não se tem valido dessa oportunidade.
Pensado para casos limites, onde haja real ameaça para a democracia, o filibuster é utilizado pelo GOP para inviabilizar a entrada em funções dos indicados pelo presidente para cargos federais (ou os juízes superiores, temidos por serem mais liberais do que os preferidos pelos republicanos).
A falta de empenho de Obama – que permitiu fosse sepultada reforma bastante moderada no controle prévio de antecedentes criminais para adquirentes de armas, malgrado a opinião pública traumatizada pela tragédia de Newtown, no estado de Connecticut, apoiar com esmagadora maioria esta medida – encontra um paralelo no Senador Reid, que, pressionado pelo líder da minoria, Senador Mitch McConnell (Ky/Rep) até agora não se decidiu a agir como maioria, e fazer votar a reforma do anacrônico regimento instrumentalizado pela bancada do GOP.
Se é difícil de entender tanta mansuetude, em face da paralisia na agenda da Administração Obama, a indecisão do Senador Harry Reid evoca saudades de líderes democratas do século XX, como o Senador Lyndon Johnson, que cuidava de aprovar as leis e de confirmar as indicações que fossem do interesse da maioria.
Tudo lhe ía tão bem que passou a considerar seriamente a possibilidade de trocar o cargo de Primeiro Ministro pelo de Presidente – mas não mais com poderes cerimoniais, a exemplo dos exercidos pelo atual correligionário, Abdullah Gül, mas dentro do modelo presidencialista.
Se na superfície tudo parecia ir a contento do líder turco, havia a insatisfação larvar com os métodos mais severos, com processos incriminando ampla faixa de opositores, o ressurgimento da política islamizante (banida pelo laicismo do pai da pátria, Mustafá Kemal) e legislações estranhas, como a dos parâmetros da turquicidade (modalidade de censura, com traços fascistóides, que chegou até a ameaçar o Prêmio Nobel de Literatura de 2006, Orhan Pamuk).
Como todo líder autoritário (embora com a pele de cordeiro do democrata) Erdogan terá pensado que as eventuais resistências não passariam de débeis aragens diante da própria inexorável progressão.
A hubris do poder explica-lhe a dificuldade de entender que a resistência na praça Taksim, em Istambul (em que se propôs pôr abaixo as árvores para levantar um centro comercial e uma réplica de antiga caserna otomana) não era simples capricho de grupelho de elementos desajustados. A dificuldade de lídar com símbolos na resistência da cidadania é um dos calcanhares de Aquiles dos supostos homens fortes (V. praça Tahrir no Cairo e outros).
A despeito dos repetidos ultimatuns e da violência policial, com amplas prisões de suspeitos, as manifestações continuaram e ao invés de se limitar à praça condenada, hoje se estendem igualmente à capital, Âncara.
Para quem apreciava visitar os antigos países da órbita otomana, e lá ter o régio tratamento dispensado aos maiores próceres do mundo do Islã, os ecos das praças e as cenas da repressão policial – além de desaguisado internacional com a Chanceler alemã, Angela Merkel, que ousou censurá-lo pelas detenções arbitrárias e a mão pesada sobre os demonstrantes – de um mar de almirante o líder turco Recep Erdogan semelha adentrar nos ardores do inferno astral.
(Fontes: Folha de S.
Paulo, International Herald Tribune )
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