Antunes, o Conquistador (2)
Na rota do
trabalho, lia o Correio da Manhã.
Gostava do matutino e de muitos de seus colaboradores. Nem sempre concordava
com as opiniões do Moniz Vianna, que escrevia sobre cinema. Apreciava, contudo,
a seriedade da crítica e a ficha técnica. Por vezes, até a recortava, sobretudo
nos filmes do oeste americano.
Quando
chegava à repartição, cumprimentava um que outro colega, e logo se enfurnava na
sua mesinha de auxiliar de escriturário. As tarefas eram maçantes, mas cuidava
de passá-las adiante com presteza. Sonhava com promoção a escriturário, embora
soubesse que ela dependia não de assiduidade e do serviço bem feito, porém da
palavrinha do padrinho político.
Achando-se
esquecido em lugar de baixo salário, fora visitar o seu pistolão na Câmara.
Quando estava disponível, o deputado ouvia o seu reiterado pedido, enquanto
folheava outros papéis. Antunes por vezes saía desanimado do gabinete, por não
ver qualquer receptividade do congressista. De volta à escrivaninha, pensava em
escrever para o chefe político no seu Estado. Sem o empenho dele, nada feito.
Talvez o melhor fosse aproveitar as férias, para dele lograr, com a
interveniência do tio, um pedido mais forte. Se o deputado sentisse o empenho
da chefia regional do partido, a promoção
estaria assegurada. E pensando nisso, despachava a resma de papéis acumulados
na sua ausência para o visto do diretor da seção.
*
Na saída, deu
com o Tavares. O único conterrâneo seu com que se relacionava, este o procurava
amiúde, e sobretudo no fim do mês, para filar
sanduíche no botequim, ou até mesmo uns trocados.
“Olha, dessa
vez não vai dar.”
“Que é isso,
Antunes ! Somos amigos, não é ? Cê pensa que é só pra pedir que te procuro ?”
Com o seu
jeitão formal, o outro o encarou.
“Se não é, ‘cê
me desculpe...”
“Queria te
fazer uma proposta...”
A desconfiança
de Antunes aumentou, mas algo o fez esperar.
“Na Praça
Tiradentes, tem nova revista do Walter Pinto...”
“A entrada não é
muito cara?”
“Não, se for das
cadeiras de trás.”
“E dá pra ver de
lá ?”
“Sim ! e que
mulheres, seu Antunes...”
“Como é que se
chama o show?”
“Tem bubu no bobó!”
“Está bem, então. E quando é que seria?”
“A caminhada até
lá não é das maiores. Que tal se fôssemos ao teatro comprar as entradas para a
sexta de noite?”
“OK, Tavares. E espero não me
arrepender...”
*
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