À medida que o Rubicon da candidatura presidencial se vai delineando no horizonte, cresce o nervosismo nas hostes do PT, que no momento é - e pretende continuar a ser – o Partido do Poder.
Os anos da planície estão decerto longe, mas não tão longe que as brumas da desmemória ocultem as urzes da charneca e os ínvios, ásperos caminhos da luta pela conquista do Planalto.
Somente na quarta tentativa, e com a barba grisalha, Lula chegou lá. Desde então, se as coisas mudaram, não está escrito que as benesses do mando sejam perenes.
Afastada em boa hora a tentação chavista da segunda reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva logrou a proeza de eleger o seu primeiro poste. Em outras terras, quiçá isto não fosse possível, tal a diferença entre o currículo de Dilma Rousseff e o do principal candidato da oposição, José Serra.
A garrafal diferença foi anulada em dois turnos pelo empenho de Lula,por cegas e estultas ambições no seio tucano, e a própria contribuição às avessas de quem se preparara a vida toda para assumir o mais alto encargo em terra brasileira.
Mas não é o momento de torcer os panos encardidos do passado. Ao aproximar-se célere a vigésima-quinta hora, aquela de atravessar as encruzilhadas sem volta, bate mais forte o coração inquieto, junto com a pesada dúvida da escolha certa.
As primeiras incertezas quanto à reconfirmação de Dilma Rousseff na chapa petista apareceram no ano passado na coluna de Elio Gaspari, acerca de eventual retorno de Lula da Silva, como postulante à presidência em 2014.
Seguindo alta a avaliação de Dilma, os rumores discrepantes foram varridos pela palavra de Nosso Guia. A candidatura da presidenta à reeleição, subliminar e nervosamente antecipada em sucessão de mensagens televisivas à Nação, a dílmica nau parecia encaminhada para as confirmações de regra, com a chancela do Líder Máximo.
Eis senão quando os tempos ameaçam mudar, com a queda nas pesquisas. É a primeira, e não está escrito que outras virão. Sem embargo, há margem para desassossego, e a vimos ontem na coluna semanal de Ricardo Noblat - Luz Amarela no PT.
A principal queixa é a inflação, e a irresponsabilidade de Dilma em trazê-la de volta. Mas não é decerto a única. A ponto de que ponham em dúvida o seu principal apanágio. Ela não seria então a excepcional gestora dos tempos da Casa Civil, e seu principal título para preterir tantos outros nomes calejados nomes políticos no Partido dos Trabalhadores ?
Tampouco é só o seu mandonismo e a mania de centralização que tem secado a floração no governo. A sua inabilidade política, a circunstância de não ser do ramo e de mostrá-lo, tanto na falta de comunicação com a base de apoio, quanto nas seguidas derrotas legislativas, chega a motivar altos partidários seus, como recentíssima entrevista[1] à revista VEJA o corrobora, a dizê-lo sem ambages, nem meias palavras.
Que vá sair algum novo coelho dessa macega é outra estória. O raciocínio, no entanto, é simples. As câmaras e antecâmaras do poder se agitam no nervosismo de depositar todas as suas esperanças em cabeça de chapa da República.
É briga de cachorro grande. Lula já não é mais nenhum mocinho, e não faz muito lutou pela própria vida e venceu. Continua, sem embargo, a ser o grande e inconteste nome do Partido dos Trabalhadores. E é aí que mora o perigo (e a motivação da angústia partidária trazida ao lume dos colunistas bem-informados).
Será o caso de continuar confiando na permanência no poder, com mais quatro anos, perfazendo dezesseis, à candidata de algibeira do Presidente Lula ? Ou recorrer, na hora do perigo, ao indiscutível maior nome da escuderia petista ?
( Fontes: O Globo, VEJA )
[1] “A Dilma precisa evoluir”,
entrevista do Deputado Henrique Alves (PMDB/RN), Presidente da Câmara dos
Deputados, à revista VEJA desta semana, pp. 76/77.
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