Tudo o mais, nesses dias do junho quente dos protestos do Povo, será necessariamente visto como se fora pano de fundo dessa revolução que bate à porta dos palácios da República.
Ora ,vejam só, até entra na dança o Palácio do Itamaraty – assim chamado por causa de outro palácio, este histórico, que ficou no Rio de Janeiro. Durante a mudança da capital do Rio de Janeiro para Brasília, houve a preocupação de conservar-lhe o nome, para que dúvidas não subsistissem de que ali também se faria política externa. No caso da noite passada, um punhado de arruaceiros ali tentou adentrar. Alguns vidros quebrados e pouco mais, antes que a ordem fosse restabelecida. E aquele palácio, desenhado por Niemeyer, voltará decerto a dormir, nesse letargo determinado pela Presidenta, que avocou para si, nas câmaras do Planalto, a decisão de todas as questões que considera importantes. E será neste nicho que entram as externas.
A dizer verdade, a dílmica ânsia de centralismo mandonista vai muito além do velho ministério, pois ela quer também dispor e decidir dos demais assuntos da República. Para quê ? Fora o alarido dos gritos e das promessas, o povo não sente nem vê os rastros e as marcas de tanta presença.
Depois de elogiar as manifestações – que foram
marcadas pela vaia no estádio Mané Garrincha, vaia essa que o gnomo Blatter
atreveu-se a contestar, no que se deu muito mal – e depois de reunir-se às
pressas com o Líder Máximo, dona Dilma resolve agora convocar reunião
ministerial de urgência.
Império e República estão coalhados de
reuniões de cúpula ministerial, convocados sob a mágica ilusão de que iriam entender
e resolver a maldita crise. Com os
partidos em baixa – acabam de ser escorraçados pelas multidões de junho, pela
sua não representatividade e por serem corresponsáveis nesse duromomento a
confrontar as autoridades da República –
fica difícil antecipar se o encontro congregará os trinta e nove ministrinhos,
ou apenas uma parcela deles.De qualquer forma, a expectativa do povo será tendente a zero, como apreciava falar um antigo patriota e mestre meu, que por causa das Parcas terá tido a boa ocasião de não de assistir à atual desmoralização dos poderes constituídos.
Ao cabo, será que a personagem convocará mais uma rede nacional para comunicar o que o Paço pretende fazer ? Como a senhora presidenta abusou do instrumento, a sua entrada nas salas de visita e nos auditórios do Povão corre o risco, ou de afundar-se na própria anterior irrelevância, ou de vir a tornar ainda mais sanhuda a reação.
De minha parte, diante da personificação em carne e osso do erro de Lula, prefiro a raiva à indiferença. Através do afeto freudiano, a reação talvez colabore para que esse estágio das manifestações seja superado. Não através de vandalismo, de roubos e redistribuições oportunistas da riqueza (e do trabalho) alheios, mas com algo de positivo.
Sem embargo, o ceticismo avança. Por que a criatura da algibeira do líder que aprontou toda essa confusão, poderá trazer-nos algo de útil ? Se na hora do aperto, ela já correu para consultar-se (ou melhor receber as instruções) com Luiz Inácio Lula da Silva, que hoje seja dito - com todos os pigarros e mesuras - que apesar de Máximo Lider não passa de um mero cidadão comum ? Não terá sido o grande benfeitor que nos cozeu o prato da realidade presente, com a partidarização do Estado, e a geral inchação do desvairado empreguismo petista, a explosão da carga fiscal (36% !) e a correspondente baixa geral nos serviços públicos e em tudo o mais que de construtivo se poderia esperar ?
Não se apoquente, senhora Presidenta, que o grande guru e os seus ávidos seguidores hão de inventar mais outro slogan. Quem há de importar-se que o bombástico aí se misture com o vazio, pois, quem sabe , consiga reverter para o futuro as vindouras manifestações da ira popular.
( Fonte: O Globo
on-line )
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