Antunes, o Conquistador (4)
“Que tal o Lamas ?”, perguntou.
“Pra mim tá
ótimo,” disse ela.
O taxista,
um português mal-humorado, respondera com grunhido à indicação. Como a maioria
dos táxis então rodando, era um sedan preto antigão, e andava devagar. Mas o
parzinho no banco de trás, não parecia preocupado com tais detalhes.
No
escurinho do carro, Antunes se deixou escorregar para o canto onde a moça
estava. Não queria dar bandeira de afoito, mas nem de tímido. Sem reagir, a
moça lhe dava entrada para as festinhas. No silêncio do banco traseiro, apenas
o ranger das velhas molas traíam a movimentação.
Sob a
indiferença do motorista, calejado por incontáveis corridas noturnas, os
murmúrios da jovem pontuavam o assédio que, às vezes, parecia avançar ligeiro
demais. Aí, gesto ou sussurro um
pouquinho mais forte aquietaria, por momentos, os avanços de Antunes.
E nessa
dança, com a cumplicidade da noite, chegaram até o restaurante. Tinham ido
lentamente, pelo tráfego algo congestionado na Beira Mar e nas ruas do
Flamengo, na atmosfera de começo de fim de semana. O próprio Antunes não se
dera conta das voltas adicionais que o chofer acrescentara ao taxímetro.
Com a moça pelo braço, ainda sem
sequer saber-lhe o nome, ele se encaminhou para as mesas de dentro, buscando
mostrar a naturalidade que só lhe viria depois.
*
Mandaram
vir bife com fritas, que ambos pediram malpassado. Apesar de sua insistência,
ela não quis saber de bebida. Só aceitou guaraná, e ele achou melhor aderir.
Bem que preferiria uma cervejinha, no entanto...
A mesa
quadrada tampouco ajudava. Que diferença para o banco do táxi... Talvez devesse
ter procurado uma gafieira. Beberiam uns goles apressados, beliscariam os
petiscos e dançariam... Mas como manter o clima se não era exatamente um pé de
valsa?
Bem que
mal, tratou de acercar-se dela, de acariciá-la. Sentia que a atmosfera mudara
um pouco, porém ela não o rejeitava... Se o ambiente não era o mesmo, Antunes
procurava compensá-lo de alguma forma.
“Conte um
pouco de você...”
“Vim do
norte...”
“Somos dois
então...”
Ela sorriu.
“Que tal se
a gente se apresentasse ?”
“Acho que
já tá em tempo... Meu nome é
Antunes, José Antunes.”
“E eu me
chamo Corina...”
Antunes
permaneceu calado. Com um leve meneio, no entanto, deixou claro que esperava
pelo sobrenome.
Para sua
surpresa, ela franziu a testa e disse:
“Vamos
deixar pra depois...”
Meio
esquisito, pensou. Optou, no entanto, por não insistir. Voltaria à carga
depois.
*
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