sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Visita do Papa aos EUA (III)

                              

         No seu último dia em Washington, Papa Francisco pronunciou, em inglês, e por cinquenta minutos – e trinta interrupções por aplausos - o esperado discurso perante o Congresso americano. Recebido pelo republicano John Boehner, o Speaker da Câmara de Representantes, e católico praticante – em cujo grande salão a sessão conjunta se realiza tradicionalmente – o primeiro Pontífice romano a dirigir-se aos congressistas reunidos pronunciou alocução franca e considerada contundente em certas passagens. A sessão repleta, teve a co-presidência, como é praxe, do também católico Joe Biden que, como Vice-Presidente, preside o Senado. O sucessor de Pedro  foi acolhido aos gritos por diversos congressistas. O seu modo simples e direto, e a grande simpatia, impressionaram aos americanos, e muitos que se dizem afastados da comunhão religiosa podem voltar ao aprisco. O problema talvez esteja na circunstância de que quem estiver a esperá-los será o mesmo clero, com as características conhecidas.

        O Santo Padre não hesitou em versar temas sensíveis, ao defender a imigração. Assinalou que o mundo vive uma crise de refugiados de “magnitude não vista desde a Segunda Guerra Mundial”. No contexto, defendeu os imigrantes que vivem nos Estados Unidos, lembrando que os povos do Continente não devem temer os estrangeiros, “porque a maioria de nós foi estrangeiro um dia.”

       Não temeu, outrossim, adentrar no seu discurso o tema do aborto, que como se sabe é prática legalizada e constitucional nos Estados Unidos por sentença do Supremo, desde a década de setenta. A posição católica é conhecida e é próxima da defendida por parte dos republicanos.

      Mais adiante, Francisco pediu a ‘abolição global da pena de morte’, que ainda é aplicada em 31 dos cinquenta estados americanos. Sua Santidade reportou-se de modo crítico ao casamento homoafetivo, recentemente legalizado pela Suprema Corte. Fê-lo no contexto da família: “Relacionamentos fundamentais estão sendo colocados em questão, assim como as bases do casamento e da família. Eu apenas posso reiterar a importância e, sobretudo, a riqueza e a beleza da vida familiar.”

       A crítica à indústria de armamentos e a falta de regras para preservar a população constituíu outra parte forte de sua alocução: “Por que armas mortais estão sendo vendidas para aqueles que planejam infligir sofrimento incalculável a indivíduos e sociedade? Infelizmente, a resposta, como todos sabemos, é simplesmente o dinheiro. Dinheiro que está encharcado de sangue, muitas vezes sangue inocente. Diante deste silêncio vergonhoso e culpado, é nosso dever confrontar o problema  e por um termo ao comércio de armas.”

       Após o discurso,  Papa Francisco participou na área central de Washington de um almoço para os sem-teto, na Igreja de Saint Patrick. Eram trezentos convidados, todos moradores de rua e voluntários de instituições caritativas.

       No fim da tarde, o Papa viajou de Washington para New York, onde rezou oração na Catedral de Saint Patrick, na Quinta Avenida.  Foi preparado um esquema de segurança especial, para ensejar o trajeto do Papamóvel. Uma multidão se espremeu na área de passagem, e apareceram alguns cartazes de protesto contra o Papa e a Igreja Católica.

         Dentro da Catedral, convidados ouviram  o lamento do Santo Padre pela morte dos peregrinos em Meca, e seu agradecimento pelo trabalho de freiras e padres que “sofreram em um passado não muito distante por terem que suportar a vergonha provocada por alguns irmãos.”

 

( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )            

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